Por Urda Alice Klueger
Faz pouco mais de um ano que, numa mostra de cinema, revi “Férias no Sul”, filme feito em Blumenau na década de sessenta, e que na época causou um frenesi na cidade.
Vivíamos, naquele tempo do passado, sob a égide do cinema – a televisão demoraria muito, ainda, para chegar por aqui – na verdade, as pessoas só acabaram comprando televisão para a Copa do mundo de 70. Assim, nos anos sessenta, o divertimento preferido de quase todo o mundo era ir ao cinema, ao cinema que nos trazia Brigite Bardot e o capitão Custer matando índios, além de farwest famosos, como “Django e o Dólar Furado”, e o agente 007, e por aí afora. Ir ao cinema era o máximo, era ir à mais maravilhosa das fábricas de fantasias – imaginem o que foi saber-se que aqui, na nossa provinciana Blumenau, iria ser rodado um filme de verdade, um filme que seria visto por todo o Brasil!
O primeiro frissson foi das pessoas que queriam aparecer no filme: todos queriam, e não sei como é que os diretores do mesmo fizeram para chegar à seleção dos que poderiam ou não ir para a tela. Vendo o filme, agora, diverti-me um monte vendo a antiga juventude blumenauense, hoje transformada em gente sisuda e responsável, a fazer “pontas” no filme, compenetradíssima no seu papel de alguns minutos. Até o nosso austero ex-prefeito Victor Fernando Sasse, que naqueles idos deveria andar pelos vinte anos, aparece em longa cena, dançando num baile do Tabajara, o nosso clube mais tradicional.
Bem, depois do frisson das filmagens, houve o frisson de ver o filme, este muito maior, pois colocava o filme ao alcance de todos os mortais, e ninguém perderia, por nada no mundo, de ver aquele filme que se passava na nossa cidade, embora a opinião geral fosse de ele denegrira a imagem de Blumenau. Malhou-se o pau em “Férias no Sul” como nunca se tinha malhado o pau em filme nenhum, em Blumenau, nem mesmo naqueles em que Brigite Bardot aparecia nua. Lembro-me como “Férias no Sul” foi apresentado em Blumenau no Cine Blumenau, em sessão contínua para dar vazão aos quase oitenta mil blumenauenses que não perderiam de vê-lo por nada, só para depois poder falar mal. A coisa funcionava assim: abriam-se as portas do nosso maior cinema, esperava-se entrar a multidão que o encheria, fechavam-se as portas e rodava-se o filme – quando acabava, as pessoas saíam e a operação se repetia – isso por dias seguidos, sessão após sessão, sem nunca acabar a longa fila de espera que, lembro-me muito bem, ia do Cine Blumenau até onde hoje é o Banco do Brasil, uma fila de quase uns quinhentos metros. O pessoal que esperava na fila ainda não tinha visto o filme, claro – mas falava mal dele com toda a veemência, como se cada um fosse o diretor responsável. E o que é que exasperava tanto os ânimos dos blumenauenses de antanho, que tornava o filme tão terrível, que fazia com que ninguém quisesse perdê-lo?
Revi o filme faz ano e pouco, e morro de rir ao me lembrar. O famoso Davi Cardoso, aquele mesmo das pornochanchadas, mas que nesse tempo ainda filmava de roupa, vive uma cena de amor com uma moça da nossa cidade. A cena é num baile dum clube de Caça e Tiro, onde os dois se paqueram dançando, e depois dão o fora. A cena seguinte é deles voltando ao salão, a nossa linda moça loira sugerindo que teve suas roupas descompostas, e, oh! o frenesi dos frenesis: nossa atriz de um dia arruma o ombro da sua roupa, e, supra-sumo da sem-vergonhice para a época, deixa ver a alça do seu sutiã!
Gente, todo o pau que se quebrou em cima do filme foi por causa dessa cena fugaz, e de uma moça acertando a roupa e deixando entrever a alça de um sutiã! O escândalo foi tão grande que essa moça, que trabalhava numa loja de calçados, teve que ir embora da cidade.
Cine Blumenau - altos da rua XV
O filme, mesmo, é de uma grande ingenuidade. A tal alça do sutiã deu todo o toque picante para aquele momento de gloria de Blumenau, o de aparecer nas telas dos cinemas de todo o Brasil. Até hoje, nas rodas de pessoas de mais idade que eu, ouço falar do filme “Férias no Sul” como algo que envergonhou nossa cidade. As pessoas de hoje deveriam rever o filme, para poderem rir de seus velhos preconceitos. Quase não dá para imaginar que Blumenau, um dia, já foi assim!
Blumenau, 23 de junho de 1997.
Urda Alice Klueger - Escritora, historiadora e Doutoranda em Geografia pela UFPR
Para saber mai acesse:
http://adalbertoday.blogspot.com/2009/08/ferias-no-sul-um-filme-feito-em.html
http://adalbertoday.blogspot.com/2009/08/ferias-no-sul-um-filme-feito-em_07.html
Arquivo de Dalva e Adalberto Day
As pornochanchadas precederam o cinema pornô e não havia sexo explicito. Atrizes que desfilaram nas telinhas destas produções baratas, seriam famosas posteriormente, como a Vera Fischer e a Elisabeth Hartmann, que está no elenco de Férias no sul.
ResponderExcluirEstes filmes revelavam pouco, mas davam asas às mentes fértéis de todos os jovens da época.
Hoje, o prato já é servido quente.
Parabéns, pelo texto.
Olá Sr. Adalberto,
ResponderExcluirPrimeiramente, quero parabenizá-lo pelo blog, fiquei impressionado e entusiasmado ao me deparar com uma riqueza tão
grande de informações, que jamais imaginaria encontrar. A história da nossa região, mais precisamente o Garcia, com imagens e documentários tão ricos.
Se não me engano, eu era seu vizinho. Meu nome é Maicon S Cabral, sou filho do seu Cabral, que morávamos praticamente em frente em sua casa na julio heiden, meu pai trabalhou na Artex e depois fazia frete. Não sei o sr ainda mora ali.
Não sei como, mais procurando alguma coisa no google sobre a escola que estudei, Padre José Mauricio, encontrei seu blog.
E como ja escrevi, fiquei impressionado com o que encontrei. Minha vontade é ler e ver tudo de uma só vez, mais é muita informação,
que com certeza vou apreciar com calma sempre que puder. Muito rico o site, e com certeza, muito importante. Nos faz sentir
sensação de prazer ao ler cada postagem.
Mais meu contato, se reserva a uma solicitação, se for do seu alcançe, é claro.
Gostei muito da reportagem de vídeo O FIO DA HISTÓRIA. E gostaria de saber como posso conseguir este vídeo em DVD.
Se o Sr. puder me ajudar ou me informar aonde posso adquirir, lhe serei muito grato. // Talvez o lugar que eu possa baixar, ou
até mesmo comprar.
Desde ja agradeço.
E mais uma vez parabéns pela iniciativa, com certeza vou ser mais um leitor assíduo do seu blogger.
Abç, e um ótimo Natal para família
Prezado Adalberto,
ResponderExcluirBoa tarde.
Mais um email seu, mais uma boa surpresa e uma doce lembrança.
A filmagem do filme “Férias no Sul” mais uma vez nos envolveu na história de Blumenau. O castelinho dos meus avós maternos, Antônio (Tonico) Reinert e Stefânia (Fanny) Michels Reinert, sito até hoje à Rua Namy Deeke, 111 (atualmente propriedade da Ross Imóveis) foi usado como locação para o referido filme. Apesar de ainda não ter nascido, lembro-me de minha mãe Edir (Edy) Reinert comentando sobre a loucura que foi o uso da casa como locação e a convivência com o “astro” David Cardoso pelos cômodos da residência.
Forte abraço,
Ivo Antônio Reinert Prim
Boa tarde Adalberto
ResponderExcluirEu não vi esse filme, mas lembro que na época causou algum comentário. A prima Urda colocou muito bem no texto a ingenuidade da época.
Abraço
Adalberto,
ResponderExcluirAgora eu sei que Blumenau (ou melhor, os blumenauenses) não mudaram nada. O que mudou foi a alça do sutiã. Como essa cidade gosta de uma polêmica. Não interessa o tema, desde que proporcione uma bela polêmica, é bem vindo.
Abraços,
Paulo R. Bornhofen
Prezada dona Urda,
ResponderExcluirNo currículo de Elizabeth Hartmann consta que Férias no Sul de 1967 é seu terceiro trabalho, ela que esteve em muita pornochanchada e depois de mais de 50 papéis acaba fazendo aquela madre superiora na TV de Àgua na Boca.
Abraços,
Cao