sábado, 27 de junho de 2020

- Hospital Santa Catarina - 100 anos

HOSPITAL SANTA CATARINA – 100 ANOS
Wieland Lickfeld – Instituto Histórico de Blumenau

            
 Ilustração década de 1920 – Acervo AHJFS
Embora a existência de locais destinados ao cuidado de doentes remonte à Antiguidade, sua expansão está relacionada à prática da virtude cristã da hospitalidade e do amor ao próximo. Serviram, portanto, de modelo aos hospitais modernos, muitos deles ainda hoje ligados a entidades religiosas, os antigos monastérios, que ofereciam refúgio a viajantes e doentes pobres.
Ao fundar, em 1850, o núcleo colonial da então Província de Santa Catarina que 30 anos mais tarde se tornaria o município de Blumenau, o Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau priorizou duas questões relacionadas ao bem-estar dos imigrantes evangélicos que acreditaram em seu projeto: o cuidado com sua saúde e com sua assistência espiritual.
Da assistência espiritual, nos primeiros dois anos, tratou ele mesmo, dirigindo cultos improvisados no galpão de recepção de imigrantes. Com a chegada do professor Ferdinand Ostermann, em 1852, este passou a dirigir os cultos. Rudolph Oswald Hesse, o primeiro pastor evangélico da Colônia, chegou em julho de 1857, e o primeiro culto que realizou, em 09 de agosto daquele ano, marca a data da fundação da Comunidade Evangélica em Blumenau. Com a chegada de imigrantes católicos, também a sua assistência espiritual entrou para a pauta da direção da Colônia.
A assistência médica em Blumenau teve início com Carl Wilhelm Friedenreich, pertencente ao grupo pioneiro imigrado em 1850. Era veterinário prático com formação e experiência em cirurgias, e seu perfil fez com que se tornasse o primeiro parteiro da Colônia e o primeiro a fazer as vezes de médico junto aos seus moradores. Mais tarde, em situações de vacância médica, Friedenreich seguiu prestando serviços médicos na Colônia.
Em 1852 imigrou o Dr. Fritz Müller, que se tornaria um dos naturalistas mais notáveis do século 19. Concluiu também o curso de Medicina, mas, por negar-se a prestar um juramento de teor religioso, não recebeu o diploma. Embora não tenha praticado a Medicina em caráter regular, é certo que atendeu a chamados em que sua expertise se fez necessária.
O primeiro médico de Blumenau foi o Dr. Bernhard Knoblauch, imigrado em 1858. Ele viu nascer, em 1870, o rústico galpão de madeira que abrigou a primeira casa de saúde da Colônia, a célula mater no futuro Hospital Santo Antônio. O ranho ruiu em 1874, por não ter resistido à fúria de um temporal, e um novo hospital, erguido na técnica enxaimel, foi inaugurado em 1876. Até a emancipação da Colônia, em 1880, somente efetivada em 1883, o Dr. Knoblauch foi sucedido pelos seguintes médicos: Dr. Carl Tobias Rechsteiner, Dr. Claus Friedrich Jebe e Dr. Charles Francis Vallotton.
As mudanças ocorridas no âmbito administrativo com a emancipação da Colônia atingiram também o antigo hospital, que passou a ser dirigido pela Sociedade de Mútua Assistência em Enfermidades. Fruto de uma inciativa de plano de saúde surgida em 1860, a entidade permaneceu à frente do hospital até 1916, quando teve início o seu processo de municipalização, encerrado em 1924. Trabalharam no hospital neste período, em caráter regular ou eventual, entre possíveis outros, os seguintes médicos: Dr. José Bonifácio Cunha, Dr. Hugo Gensch, Dr. Franz Kübel e Dr. Christian Johnsen. Sob a administração do município, o hospital recebeu novo impulso pelo incansável trabalho do Dr. Afonso Rabe. Em 1948 recebeu seu nome atual: Hospital Santo Antônio.
Atualmente Blumenau conta, além do Hospital Santo Antônio, com três outros hospitais gerais: Hospital Santa Isabel, inaugurado em 1909 pelas Irmãs da Divina Providência; Hospital Santa Catarina, inaugurado em 1920 pela Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina; e Hospital Misericórdia, sem vínculo confessional, inaugurado em 1923. E existem hospitais especializados, como o Hospital Dia do Pulmão, Hospital de Olhos, etc.
Hoje, 27 de junho de 2020, comemora-se o centenário da inauguração do Hospital Santa Catarina de Blumenau. Indiretamente, encontraremos sua origem numa associação denominada “Conferência Pastoral Evangélica de Santa Catarina’, fundada em 1893. A entidade foi legalizada com estatutos próprios somente em 1907 e uma de suas finalidades consistia na organização de uma associação sinodal que abrigasse as diversas comunidades evangélicas existentes. Uma reunião preliminar com este objetivo foi realizada em Blumenau em 1909.
De acordo com uma das quatro teses aceitas como base para a futura entidade, a Associação de Comunidades precisa ter condições de assumir tarefas caritativas que cabem aos cristãos, como criar asilos para idosos, orfanatos e outros. Um importante passo para atender a esta premissa fora dado em 1907, com a fundação, com o objetivo de prestar auxílio a parturientes e recém nascidos, da Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau. A iniciativa partiu de Mildred Burrow, esposa do Pr. Walther Mummelthey, que fora enfermeira da Cruz Vermelha. A entidade forneceu, em 1909, as duas primeiras diaconisas enfermeiras ao Hospital Municipal.
Passados outros dois anos, foi constituída em Blumenau, em 1911, a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina, tendo como presidente o Pr. Walter Mummelthey, em Blumenau desde 1906. Foi ele um dos responsáveis pela visão diaconal da entidade, cujas quatro primeiras iniciativas prioritárias, de um total de cinco, preconizavam: 1. Criar um hospital evangélico que se torne um lar para os membros que necessitam de tratamento médico; 2. Criar um lar para idosos abandonados; 3. Estudar a possibilidade de criar uma instituição para pessoas com deficiências físicas e mentais que não têm parentes ou foram abandonadas; 4. Convocar diaconisas da Alemanha para prestar serviços diaconais nas instituições e fundar grupos de senhoras evangélicas nas comunidades. Eram objetivos ambiciosos, que exigiriam muito trabalho e investimentos.
A Comunidade Evangélica em Blumenau havia adquirido em 1914 o terreno em que anteriormente funcionou uma escola pública masculina, para nele edificar um asilo para idosos. Em 1915, durante assembleia ordinária da Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina, sugeriu o Pr. Mummelthey que se construísse em Blumenau um hospital evangélico com dependências anexas para abrigar um asilo para idosos e uma residência para diaconisas que trabalhassem no hospital e na assistência social à comunidade. Uma união de esforços levou à definição da localização do hospital: a Comunidade Evangélica em Blumenau repassou o seu terreno a preço de custo à Associação das Comunidades Evangélicas de Santa Catarina, permitindo a ela tomar as providências necessárias ao início da obra. Para o projeto foram contratados os serviços do arquiteto Albert Weitnauer e uma comissão foi eleita para a execução da obra. Era composta pelos senhores Alwin Schrader, Max Hering, José Deeke, Otto Rohkohl, G. Arthur Koehler, além do Pr. Walter Mummelthey. Coube a eles a tarefa de obter os recursos e fiscalizar a obra.
Em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, a pedra fundamental do hospital com asilo foi lançada. No entanto, já em 1917, com a entrada do Brasil no conflito, as obras avançaram lentamente, e sofreram uma paralização temporária em 1918, com a morte inesperada do arquiteto Weitnauer, e por falta de recursos. Cogitou-se, diante da situação, suspender a obra para retomá-la em data indefinida, mas a comissão, com o firme propósito de cumprir a missão que assumira, com ânimo renovado, retomou os trabalhos. Foi auxiliada pela doação de metade do valor da venda dos bens de Otto Schoenichen, falecido em Rio do Sul em 1918, que expressou em testamento o seu desejo de que seus bens fossem destinados à construção de um hospital evangélico em Blumenau e outro em Rio do Sul.
 Fachada na década de 1920 – Acervo AHJFS 
      Muitos foram os obstáculos, sobretudo financeiros, vencidos com muito sacrifício, para que em 27/06/1920, com 35 leitos – em 1922 já eram 46 – o Hospital Santa Catarina de Blumenau pudesse ser inaugurado. Todavia, não foi mantido o asilo para idosos no projeto. Este objetivo seria alcançado mais tarde, com a construção do Asilo Recanto do Sossego, no município de Braço do Trombudo. A construção original era composta de duas alas, com leitos distribuídos em duas salas, uma masculina e outra feminina, e em quartos de primeira e segunda classe, com uma e duas camas, respectivamente. À frente dos quartos privados existiam duas espaçosas varandas.
 Apartamento – Acervo AHJFS 
Após a inauguração, a comissão de construção foi dissolvida e eleito um conselho diretor, composto pelos senhores Max Hering, presidente; Alwin Schrader, tesoureiro; José Deeke, Victor Gärtner e Pr. Neumann, vogais. Como médico-chefe foi contratado o Dr. Christian Johnsen, que anteriormente trabalhou no Hospital Municipal, e o serviço de enfermagem, assim como a administração interna, ficaram sob responsabilidade da Irmã Gertrud Vogt, que viera a Blumenau em 1913, enviada pela Casa Matriz de Diaconisas de Wittenberg a pedido da Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau. A Casa Matriz de Diaconisas de Wittenberg forneceu o corpo de enfermagem do hospital nos primeiros 15 anos de sua existência.
Conselho curador na década 1920 – Acervo AHJFS
        A partir de 1936 o Hospital Santa Catarina de Blumenau recebeu diversas obras de ampliação e modernização, resultado de um processo de adaptação a necessidades dos pacientes, de adequação a exigências legais, de acompanhamento da evolução tecnológica e dos modelos de gestão. É um processo contínuo, de respeito ao ser humano, que norteia sua missão, de cuidar das pessoas, promovendo saúde com segurança, empatia e eficiência, e tem como resultado a sua visão, de ser reconhecido por prover uma experiência diferenciada no cuidado da saúde.
 Imagem aérea – Acervo HSC       
 Hoje, ao completar 100 anos de existência, o Hospital Santa Catarina de Blumenau conta como uma área construída superior a 21 mil m2. Sua moderna estrutura abriga 152 leitos de internação, sendo 20 leitos de CTI Adulto, 10 leitos de UTI Neonatal e Pediátrica e 18 leitos de Clínica de Saúde Mental, além de seis salas cirúrgicas e 15 suítes. O hospital conta com cerca de 1000 colaboradores, dos quais 40% correspondem à equipe de enfermagem, e 400 médicos de 46 especialidades compõe seu Corpo Clínico. Mensalmente são realizados, em média, 3500 atendimentos no Pronto-Atendimento, e 750 internações. O número mensal de cirurgias é de aprox. 600.

Fontes:
BALSINI, AFONSO. Obras assistenciais. In: Centenário de Blumenau 1850 – 1950. Blumenau: Edição da Comissão dos Festejos, 1950.
KILIAN, FREDERICO. Hospital Santa Catarina. In: 1º Centenário da Comunidade Evangélica de Blumenau: 1857 – 9 de agosto – 1957. Blumenau, Tipografia e Livraria Blumenauense, 1957.
KORMANN, EDITH. “Hospital Santo Antônio” (Krankenunterstützungsverein). Blumenau em Cadernos, Blumenau, tomo XXVII, n. 5, p. 142-146, mai. 1986.
PISKE, MEINRAD (Org.). Centenário Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau: 1907-2007. Blumenau: Editora Otto Kuhr, 2007.
SILVA, JOSÉ FERREIRA DA. História de Blumenau. 2ª ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”. 1988.
WEINGÄRTNER, NELSO. Associação de Comunidades: 100 anos em 2011. Não publicado, 2000. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

- Toca da Onça

Toca da Onça 
Várias versões.

A rua Henrique Reif era conhecida como Toca da Onça. Segundo relato de antigos moradores, conta-se que por volta de 1953, Alfredo Kath, Eugênio Klein, Ernesto Schoenau e David Bolch saíram, num domingo, para caçar uma fera que estava matando os animais domésticos e, somente na segunda-feira, os cachorros encontraram a toca da onça, onde por volta das 4 horas da tarde, conseguiram matar a onça no morro do abacaxi. O animal foi levado em seguida para o G. E.  Olímpico onde foi rematado o couro.
Antes Bairro Fortaleza, atualmente chamado de bairro Nova Esperança.
Em Blumenau há uma localidade conhecida por Toca da Onça logo após ao anteriormente existente paredão de pedras na curva à margem esquerda do Itajaí Açu, defronte ao bairro Boa Vista, (Morro da Banana-antigas terras de Carl Rischbieter- o cervejeiro) o qual nos primórdios, antes de desbastado, quando descia abrupto até a beira do rio, obstava a comunicação por terra - não sendo via carroçável, nem mesmo permitindo a passagem de bestas - entre a Itoupava Norte e a Ponta Aguda. Recebeu, a dita pedreira, o nome de Fortaleza topônimo que com o passar dos anos foi transferido, qual metástase, para a região significativamente mais ao norte e que atualmente designa, impropriamente, a nova região por Bairro da Fortaleza. Portanto o dito local Toca da Onça, situava-se pouco a montante da antiga Fortaleza (como já dito, na atualidade designam local muito a jusante) , ou seja nas redondezas da localização da fábrica da coca-cola e 2º distrito policial. Entretanto o topônimo Toca da Onça é há longa data empregado e, malgrado nossas pesquisas, não conseguimos descobrir, com precisão, sua origem e talvez alguém ainda possa esclarecer a razão desta denominação. Sem embargo, e considerando que não se conseguiu localizar a transcrição, tentaremos passar, de memória, um antigo caso de caçada à onça que parece consta de alguma das muitas e interessantes reportagens de autoria do Sr. Harry Zuege. Constaria que, no distante passado, o colono Sr. Spernau vinha percebendo, seguidamente, o desaparecimento de galinhas no seu curral. Teria resolvido acabar com o bichano e para tanto armou-se de espingarda supondo que o causador fosse um gato do mato, ou no máximo, uma jaguatirica, tendo antes preparado artifícios que denunciassem a presença de animal no galinheiro e, pela madrugada, percebeu os sinais denunciadores da presença estranha no local.
Desacompanhado, dirigiu-se ao rancho e deu com uma enorme onça (esses felinos costumam pesar mais de cem quilos) na sua frente e, afobado, disparou a arma, mesmo que não provida de tiro suficientemente potente. A onça ferida fugiu, entretanto, dia seguinte teriam conseguido localizá-la com cachorros e dado cabo do animal. Na história o que mais chamou a atenção foram as localizações. Ora, pela descrição o local da casa de Spernau deveria ser nas imediações da atual rua Mal. Rondon, na Itoupava Norte, entretanto por volta de 1975, havia um Sr. Spernau, nome aliás pouco comum, que residia no exato prédio que presentemente (1995) abriga o 2º distrito policial, bem no início da dita Toca da Onça. E como esse Sr. Spernau, na época em que lemos o artigo indagamos relativamente a precessão de seus antepassados como residentes na Toca da Onça, informando-o do motivo de nossa curiosidade, entretanto, o indagado informou-nos desconhecer a historia, dizendo ainda que seus pais o precederam residindo naquele lugar, deixando-nos em dúvida para liquidar de vez a charada . Teria essa onça uma enorme legítima pintada fêmea de 90 kg, medindo dois metros e meio da cabeça à ponta da cauda, foi morta, por dez homens que deflagraram mais de 25 tiros, exatamente naquele local (Toca da Onça) e a acreditaram como fugida de algum circo. lhe deram um tiro com uma espingardinha 32 que a pôs tonta - chumbaram-na com os pica-paus, e foi necessário aplicar-lhe o tiro de misericórdia. A partir de então o topônimo vingou e passou a ser empregada a expressão Toca da Onça para denominar aquela localidade.
Texto Niels Deeke
Vejam o Vídeo da TV NSC
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