Blumenau registrou no dia 13
de abril de 1928 o surgimento da Auto
Viação Catarinense, pioneira em transporte coletivo intermunicipal e
interestadual do Brasil.
Foi uma das causas para que
sempre houvessem em Blumenau locais que se adequassem ao embarque e desembarque
dos passageiros, conhecidos como as “estações
rodoviárias” de nosso município.
Hotel São José - Foto: AHJFS
A mais antiga “rodoviária” ficava na Rua 15 de Novembro, utilizando o
varandão do Hotel São José (onde hoje se
situa o Castelinho da Havan), varandão que tanto podia abrigar ônibus como
carroças e carros de mola, possuindo, inclusive, apoio para se amarrar cavalos
de montaria.
O Prefeito Hercílio Deeke, em seu primeiro mandato (1951-1954), teve com uma das principais metas a construção de uma Estação Rodoviária (foto), que foi inaugurada ainda no seu governo. Ficava situada na Rua 7 de Setembro, esquina com a Rua Padre Jacobs, e abrigava também um hotel, bar, revistaria, engraxataria e os guichês para a venda de passagens.
Trinta anos depois, na gestão do prefeito Renato Viana, seria inaugurada uma nova Estação Rodoviária em Blumenau, o Terminal de Passageiros da Itoupava Norte, denominado Hercílio Deeke em homenagem ao ex-prefeito, então já falecido.
Embora nos dias atuais
existam muitas reclamações em relação a este terminal, na época foi considerado
um dos mais modernos do Estado. A inauguração se deu no dia 4 de fevereiro
de 1980, como parte das comemorações do Centenário da Emancipação Política
de Blumenau (4/2/1880).
No discurso de inauguração o
prefeito Renato Viana destacou:
“O projeto elaborado por
arquitetos da nossa Assessoria de Planejamento, Drs. Sérgio Mantovani e Sônia
Fumagalli, procurou, cumprindo as exigências do órgão competente do DNER,
expressar nas linhas do concreto aparente a funcionalidade das construções
modernas.
Prestando observância à
topografia, sistema viário, fluxo de veículos, volume de passageiros,
desenvolvimento urbano, segurança e rapidez nos movimentos, o Terminal de Passageiros
Hercílio Deeke foi deslocado do miolo urbano, da malha viária central, para a
periferia da cidade, possibilitando fácil acesso com as BRs ou Rodovias
Federais, principalmente os ônibus
intermunicipais e interestaduais que se veem obrigados a médio ou longo
percurso.
Convém, todavia, assinalar
que a obra não se acha completa no seu projeto global. Tanto que os acessos são
provisórios e somente com a construção
da ponte sobre o Rio Itajaí-Açú, ligando o terminal à Rua Xavantina e Rua São
Paulo é que se completará. “Mas acreditamos que o povo blumenauense, que não
nos tem faltado com seu apoio, saberá relevar e suportar as primeiras
dificuldades e porque não dizer os pequenos desacertos desta fase inicial.”
(Nota do autor: o provisório
tornou-se quase que definitivo, porque somente em dezembro de 1999, no primeiro
mandato do prefeito Décio Lima, a Ponte do Tamarindo (batizada de Ponte
Prefeito Vilson Kleinubing) ficou pronta, ligando a Rua São Paulo ao Terminal,
ou seja 20 anos depois da sua
inauguração).
Renato
Viana também destacou no seu discurso:
“A execução do projeto
custou até agora Cr$ 62.000.000,00 (sessenta e dois milhões de cruzeiros),
sendo Cr$ 5.000.000,00 já obtidos através convênio de colaboração com o DNER,
para construção do prédio, e os restantes Cr$ 57.000.000,00 destinados ao pagamento do prédio, das desapropriações, da canalização,
estaqueamento e acessos, com recursos próprios do município, através de
impostos, portanto com dinheiro do próprio povo.
A obra foi construída pelo
Município, através da Companhia de Urbanização de Blumenau, empresa de economia
mista constituída de capital majoritário (99%) da Prefeitura.
Sentimos a obra brotar do
chão, vistoriando os trabalhos de retificação e canalização do córrego aqui
existente e o aterro necessário, realizados pela firma Hayashi, para início dos
trabalhos de alvenaria pela Construtora Rio Branco, empresa blumenauense, na
época dirigida pelo saudoso Otto Kienen, construtora que venceu a concorrência
pública e cumpriu integralmente os cronogramas físicos e financeiros,
entregando a obra completamente concluída antes da data aprazada e
sujeitando-a, pela boa qualidade técnica, à inspeção não só da fiscalização
pública mas de todos os bons conhecedores desse ramo da engenharia civil.”
(Nota do autor: quando
escrevemos este artigo, junho de 2015, o córrego continua correndo a céu
aberto, com um cheiro nauseabundo e insuportável tomando conta de todo o Terminal.)
No seu discurso o então
prefeito Renato Viana aduziu:
“As estacas foram fincadas
pela Batestal; os equipamentos eletrônicos foram executados pela Ciaer; os
equipamentos de telefonia e PABX pela Inteca Comunicações; o sistema eletrônico
de relógios pela Rod Bel; o mobiliário pela Mendes Moeller & Cia. Ltda. A
firma Garbe executou o projeto das paredes divisórias, a NM forneceu e realizou
os serviços de vidro e a empresa Sinoda o asfaltamento do pátio frontal da
Estação, fornecimento de brita, sua compactação e imprimação.
As 10 empresas que irão
operar no Terminal, movimentando seus ônibus nas 27 plataformas de embarque e
desembarque, de cerca de 6.500 passageiros diariamente, através de 434 partidas
de ônibus intermunicipais e interestaduais, nossos agradecimentos pelo espírito
de compreensão.”
No seu discurso de
inauguração do Terminal, Renato Viana
citou também os integrantes da Comissão pró-construção, teceu loas ao
vice-prefeito Ramiro Ruediger
e ao final fez referência especial ao ex-prefeito Hercílio Deeke, nome dado ao
terminal.
No dia seguinte, 5 de
fevereiro de 1980, o Terminal começou a funcionar, aliviando sensivelmente
o tráfego no centro da cidade.
Fontes:
Discurso do Prefeito
Municipal de Blumenau, Renato de Mello
Viana, proferido em 4 de fevereiro de 1980.
Blumenau em Cadernos,
Tomo 21, nº 3
Fotos: acervo de Adalberto
Day/Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
Texto Carlos Braga
Mueller/Jornalista e escritor em Blumenau
Valeu Adalberto,
ResponderExcluirMuito interessante a reportagem, creio que algo inédito para o resgate histórico da cidade. Como fã do transporte rodoviário de passageiros, e especialmente ligado à Auto Viação Catarinense, estive presente na inauguração do Terminal Hercílio Deeke, e lembro ter sido um evento muito concorrido e aguardado por toda a comunidade. Havia tanta gente que mal se conseguia andar. De fato a rodoviária de Blumenau é uma das mais funcionais do estado, apesar de sua aparência e conservação defasada. Todos os embarques e desembarques (ônibus, táxis, demais veículos) são feitos em cobertura, portanto, em tempo de chuva, com total conforto. Acredito que um pequeno investimento em melhorias já resgataria o bom conceito que o terminal logrou durante muitos anos. Um grande abraço, Theodor.
“O restaurante da rodoviária que ficava na rua 7, esquina com a Padre Jacobsen, por alguns anos foi de meu pai, Roland Klueger, em sociedade com seu Arno Odebrecht. Antes do meu pai e depois do meu pai esteve ali, como sócio do seu Arno Odebrech, o Joaquim Português, que era casado com uma moça Odebrecht.
ResponderExcluirA primeira casa que se vê, assim um pouco aos fundos, na rua Padre Jacobs, era da família Lubow e ali também funcionava a funerária Lubow. Essa família tinha uma coisa que me deixava doidinha para ter também: galos e galinhas garnizés legítimos, que ciscavam e cantavam pelo seu amplo terreno de defronte da casa. Eu era tão doidinha por aqueles garnizés que, num Natal, meu pai me deu um casal deles. Eram muito pequenos, uns bichinhos de nada, não podiam sequer ficar com as outras galinhas, na nossa casa, porque tínhamos medo de que fossem mortos. Então ficaram soltos no nosso quintal e jardim, e em pouco tempo a galinhazinha chocou a primeira vez e nasceram uns garnizezinhos tão pequenos que eram mais ou menos do tamanho de uma bolinha de gude.
Num instante aqueles pequeninos garnizés proliferaram e quase acabaram com todo o nosso jardim e quintal, e conforme envelheciam um pouquinho, criavam grandes esporões, que os tornava aptos a brigarem com qualquer galo normal – e num instante estavam brigando e sendo admirados pelas galinhas.
Resultado: na nossa casa nunca mais descascaram pintinhos que não fossem mestiços de garnizés, galos e galinhas mais baixinhos, de pernas curtas e porte elegante, que botavam ovos um pouco menores. É uma história cheia de desdobramentos, que deixo para contar outro dia.
Urda A Klueger
Bonita como todas as outras reportagens, eu especialmente não elogio a nossa ultima rodoviaria, ate porque apresenta muitas falhas primeiro pois ela foi construida de tras para frente, os onibus não deverião ficar de costas para a entrada, as bilheterias deveriam ficar na parte de cima,por isto que todas as lojas que la estavam foram a falencia,nunca teve uma sala de espera decente e confortavel para os passageiros,sempre teve muito precario o sistema de segurança,ao enves de um ribeirão de agua podre e criador de mosquitos poderia ser pelo menos um viveiro seria mais bonito. mas fazer o que nos temos até praias que nada tem este é nosso estado. abraços Valdir Salvador
ResponderExcluir]
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Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirFantástico este resgate de mais uma historia de crescimento do nosso Município, e ao mesmo tempo a realidade do abandono.
Viajei parte deste nosso Brasil , e posso lhe garantir , com tudo ainda estamos bem melhor do que alguns Municípios por ai, claro que existe sim o completo abandono neste que é o nosso terminal rodoviário, veja vc que não percebi nem um investimento que se diz respeito á modernidade lá, é tudo muito arcaico, das lanchonetes aos banheiros, que percebo antiguidades, todavia se percebo isso na área externa, imagino o modelo de administração interna, é lamentável.
Lembro do antigo terminal na rua sete, saudades muito bom o texto, como sempre.
Parabéns pela postagem, mais um resgate importante sobre a nossa Blumenau.
ResponderExcluirNa foto da primeira rodoviária, na frente do Hotel São José, aparece um furgão Chevrolet que existia em 1950, unto com as carroças. Isso permite a datação aproximada da foto. Esse Hotel foi desapropriada para dar passagem para a ponte para a ponte de acesso para o bairro da Ponta Aguada.
Eu também achei ótimos os comentários da Urda Kruger, parabéns para ela por mais um belo rgistro dentre tantos que ela já nos presenteou.
O comentário da Urda me fez recordar de um menino filho da família Lubow que era meu contemporâneo no ginasial do Santo Antonio. Sobre os garnizés era exatamente como ela descreve, eram mais animais de estimação mas mesmo assim, a partir de certa idade, muitos viravam canja de galinha num determinado domingo.
Sobre a foto da rodoviária na rua Sete vale observar que foi construída sobre um aterro pois ali era uma baixada, somente anos mais tarde foi ampliado o aterro original o que permitiu a construção fosse ampliada com aquela forma de arco onde os ônibus passaram a estacionar. Já o terreno onde ficava da vizinha funerária continuou no nível original, bem abaixo da rodoviária. Na foto aparecem vestígios da ampliação do aterro.
Mais uma vez obrigado Adalberto, continue assim, por muitos e muitos anos.
Abração,
Valter Hiebert