“Em histórias de nosso cotidiano,
apresentamos Flavio Monteiro de Mattos (foto), carioca de nascimento
e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO”, contando um pouco de suas lembranças
quando vinha do Rio de Janeiro visitar
Blumenau, com sua família.
Sou de uma
época em que o futebol era a principal diversão dos garotos da maioria das
cidades brasileiras e a postagem “Futebol anda de trem” do cronista José Geraldo Reis Pfau " Zé Pfau" me
fez reviver um pouco desse tempo.
Fosse onde
estivesse, fanáticos como eu davam um jeito de jogar uma “pelada” (termo
empregado na época), desde que para isso houvesse ao menos um parceiro. O resto
era detalhe. A bola, necessariamente, não precisava ser uma bola tradicional,
bastava algum objeto que pudesse ser chutado e aí eram considerados desde uma
pequena pedra, passando por chapinhas de refrigerante (dava-se esse nome às
tampas, que eram de metal chanfrado), caixas de papelão e, claro, as amadas
bolas, de couro plástico ou até as feitas com meias. Os “campos” variavam desde
quartos, corredores, garagens, calçadas ou pátios e as disputas tinham formatos
variados: desde o rudimentar “gol a gol” (com apenas dois “atletas”, um
chutando para o outro, alternadamente), duplas ou times. O tempo de duração da
competição era totalmente imponderável. Podia ser breve por conta da “bola”
improvisada desfazer-se e não haver outra disponível, ou ainda muito breve,
interrompida por alguém extra-campo que constatava assoalhos arranhados; copos,
vasos, cinzeiros, vidraças atingidos por “boladas”, ou ainda as sumárias,
interrupção da disputa por um dos “atletas” machucados e/ou “desgaste do
material“ – rasgos nas roupas, destruição de sapatos.
Mas sem
dúvida era tudo muito simples se comparado às exigências de hoje. Aconteciam em
função da oportunidade – dois ou mais “jogadores” disponíveis -, e capacidade
de improvisação dos “atletas” – balizas, a bola e uniformes, geralmente eram os
sem camisa contra os de camisa.
O passar do
tempo e uma maior autonomia de ir e vir foram responsáveis por uma mudança de
status das disputas e a orla marítima do Rio passou a ser o novo palco desses
“atletas”. As “peladas” continuavam sendo disputadas nas suas variadas formas,
mas a areia abria um “novo” formato de participação para os que evoluíram nos
fundamentos demonstrassem habilidades, que era a chamada “linha de passes” (ou
“modernamente” batizada de altinho). O objetivo era a troca de passes sem
deixar a bola tocar no chão, tendo o chute liberado ao arco quando o número de
toques fosse igual ou maior do que o número dos atletas presentes. Se
resultasse em gol, o escalado para o gol – tinha que haver um! - permanecia de
castigo debaixo das traves. Haviam duas únicas oportunidades de deixar o
castigo e integrar a linha: o goleiro defender o chute ou que fosse para
fora.
O futebol de
areia foi fundamental para definir se você levava jeito para a coisa ou deveria
procurar outro esporte. Muitos dos que se tornaram profissionais vieram do
futebol de praia e entre eles, os que voaram mais alto foram o Paulo Cesar
Cajú, Júnior, Edinho, que atuaram nos campos do Colúmbia (Leblon), Lagoa (Ipanema),
Tatuís, La Vai Bola, Juventus, Radar, Copaleme (Copacabana), entre outros.
O futebol de
areia também foi a escola para alguns juízes que se destacaram no futebol de
campo. Entre eles o que mais alcançou fama e prestígio foi o Arnaldo Cesar Coelho.
Entre os folclóricos o mais lembrado foi o Jorge Emiliano dos Santos, o
Margarida, homossexual assumido.
Mas não
pensem que era fácil apitar na areia, pois não era mesmo! Não havia
arquibancadas, curralzinho vip ou sequer policiamento, por isso era muito comum
ver vários árbitros encerrarem as partidas próximos ao mar, que era a única
rota de fuga disponível para escapar dos torcedores e jogadores inconformados
com as atuações das “vossas senhorias”.
Deverá estar
se perguntando o leitor o que o futebol de areia tem a ver com Blumenau, que
nem praia tem, exceto a prainha do rio Itajaí.
Acreditem,
prezados leitores do prestigioso blog do Amigo Adalberto Day, que este que vos
escreve testemunhou em Blumenau o mesmo afã da “piazada” local no que diz
respeito às disputas de suas “peladas”.
O primeiro palco que conheci em Blumenau foi a casa
dos meus parentes na Alameda Rio Branco, que ainda está de pé. Os “jogos”
aconteciam em um pequeno gramado lateral onde se estendiam roupas, cujas
dimensões eram totalmente adequadas ao porte dos “atletas” da época. Comportava
times com até quatro ou cinco jogadores de cada lado e os suportes dos varais
serviam como balizas.
Quando
o “campo” era ocupado pelas roupas postas para secar, utilizávamos a área em
frente à garagem, que reduzia significativamente o número de jogadores por time
e até mesmo a própria garagem, nos dias de chuva. Na impossibilidade do uso
desses “estádios”, as “peladas” aconteciam ainda na rua lateral, que se a
memória não falha era a continuação da Rua Paraná. Esse trecho da rua não tinha
saída e o piso era de terra e as muitas pedras no chão, pequenas é verdade,
provocavam dor quando as pisávamos descalços. Por várias vezes tentei retirar
as maiores do “campo”, mas as esquecia por completo quando começava o “jogo”.
Havia ainda
outro detalhe que nos fazia evitar a rua terra, além das eventuais interrupções
por conta da passagem de veículos dos moradores. Era quando a bola caia no
jardim da casa da temida fräu Scholz, que nos espreitava de uma das janelas.
Decidia-se quem seria o corajoso na recuperação da bola no par ou impar, mas
bastava que o valente pulasse o muro para que a dona da casa aparecesse,
esbravejando em alemão palavras que aos meus ouvidos soava como uma real ameaça
à nossas vidas. Meia hora depois já estávamos lá novamente...
Depois de um
tempo as dimensões do campo da casa dos parentes não comportavam as estaturas
dos “atletas”, lembro ter jogado algumas vezes em um terreno gramado que
existia no Olímpico, para além do campo oficial e na direção no ribeirão
Garcia, acredito.
O terreno
ficava em um nível inferior aos demais e olhando de lá na direção da Alameda,
somente se via as últimas fileiras da arquibancada coberta e o muro da rua
parecia gigantesco.
O “campo” era
comprido, porém estreito e um chute transversal jogava a bola no mato, que era
alto e dificultava a recuperação do esférico. Creio que dali avistava-se o
ribeirão Garcia, mas era certo ouvir o ruído de suas águas fluindo.
São também dessa época as lembranças das “peladas” ocorridas em um
campo verdadeiro com balizas e tudo, que ficava atrás do prédio que foi o primeiro ginásio do Estado, do antigo Clube de Ginastica de Blumenau - atual de propriedade do Colégio Pedro II. Não lembro por onde era o acesso, entretanto é quase certo que após o campo
havia uma grande construção, que não lembro como era utilizada.
Com a
mudança dos primos para uma casa na Frederico Guilherme Busch, não dispúnhamos
de área como a da Alameda, em compensação havia um terreno desocupado em uma
das esquinas da Rua Nereu Ramos com uma de suas transversais que se transformou
quase em um estádio permanente. Primos, amigos dos primos e amigos dos amigos
dos primos puseram balizas e mesmo com um chão de terra era ideal para a
prática futebolística. Partidas disputadas sob a chuva ou debaixo dos súbitos
temporais que comumente desabavam nos dias abafados de verão eram saudados
quase como os praticantes de esportes de inverno saúdam a neve, muito mais pela
diversão de patinar na lama do que jogar futebol, propriamente dito.
Ficávamos
imundos e nossa entrada em casa somente era liberada após um banho de mangueira
para tirar o grosso e sempre ouvíamos o alerta de que um dia um de nós seria
atingido por um raio, que felizmente nunca aconteceu.
E esse
deveria ser o caminho traçado de alguns dos que vi jogar no Olímpico, que
levavam um número significativo de torcedores ao estádio da Alameda, que ficava
tomada por carros, lambretas e bicicletas dos que vinham prestigiar o evento,
lotando não somente as arquibancadas cobertas, mas também em torno do alambrado
que cercava o gramado. Ficava-se tão próximo do campo que se ouvia claramente o
barulho dos chutes mais violentos, das disputas pela bola ou dos gols, quando
as redes recebiam o impacto da bola. Nas partidas noturnas, as lâmpadas dos
refletores atraiam uma infinidade de insetos e lembro algumas partidas
disputadas sob chuva, com os jogadores enlameados deixando a cancha ao término
das partidas.
Como disse a
crônica do "Zé Pfau" que inspirou tais lembranças, ouso acrescentar que não
somente o futebol andava de trem, mas também de carro, motos, bicicletas, a
pé ou qualquer outro meio de locomoção, todos válidos para se torcer por nossos
times de coração.
Flavio Monteiro de Mattos
Referencias:
- Arnaldo Cesar Coelho - http://pt.wikipedia.org/wiki/Arnaldo_Cezar_Coelho
- Columbia Praia Clube - http://blogdoiata.com/?p=2200
- La Vai Bola, Radar, Juventus - http://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/tag/futebol-de-areia/
- Paulo Cesar Lima (Caju) - http://oglobo.globo.com/blogs/blog-do-caju/
Bom dia a todos. Boa postagem este relato. Não vi Junior, pc Caju, mas vi Bigo, Nene, Ticanca, e nois no campinho do 12 aos sabados a tarde, torneios disputadissimos valendo ums...garrafa de capilé, que eram celebrados e bebidos la no poço do Oswsldo Malheiros. Cads região com suas memorias, cada memória com seus idolos.
ResponderExcluirMeu caro Adalberto,
ResponderExcluirÉ sem duvidas um excelente texto, pois tenho certeza que para vc é sempre muito prazeroso escrever ou falar de futebol, seja ele amador ou profissional.
Não conheço o Sr. em destaque neste texto, mas ao ler o mesmo não teve como não lembrar como fazíamos as nossas bolas. Juntávamos os papéis dos lanches na escola, formando então uma BOLA, e então envolvíamos a mesma em pacotes de leite(TREVO)pois eram plásticos bastante resistente, durava o recreio kkkkk, mas lembrei deste tempo também , parabéns uma excelente lembrança.
Adalberto, Bela história. Bons tempos os que jogávamos futebol despreocupados. Hoje não temos mais "campos", tampouco amigos nas ruas...
ResponderExcluirAlexandre Farias
Bela crônica Beto e Flávio.
ResponderExcluirUm relato que nos remete nossa infância nos tempos do 12 ou Morro na Rua Almirante Saldanha da Gama. Tinha a turma da Velha Guarda, O Valter, Walfrido, Dedé, Aurélio, Dico e tantos outros, e depois a nossa turma Alvinho,Calinho, Sylvio,Zinho, Tide e tantos outros. Lembras do Sr. Hipólito que recolhia as traves do campinho? kkk. Bem mas a crônica do Sr. Flávio é muito boa nos faz recordar de tantas coisas boas. Claro que não jogamos nos campinhos do centro e nem sabia da existência desses citados. Fiquei sabendo outro dia em seu blog e entrevista na TV que o primeiro campo de Blumenau se localizava ali onde hoje é a Casa do Comércio, que foi o antigo Cavalinho Branco e anteriormente hotel e Maternidade. Belos tempos.
Parabéns a ambos
do amigo José Abreu.
Adalberto e Flávio Joguei muito nestes campinhos de barro, arrumávamos qualquer coisa para a rede, a bola cai suave, eram grossas!
ResponderExcluirSaulo Ramos Raitz
Pos é amigo Beto, eu pouco posso opinar sobre futebol pois não era o meu fraco,mas nos corriamos ali mesmo em frente de casa na rua do Fifa hoje Belo Horizonte,éra a tradicional bola feita com uma meia cheia de papel ou capim,o ploblema era pegar de volta depois de varias vezes cair no quintal do vizinho,e o cachorro ficava em baixo do soalho da casa so esperando, mas o nosso passatenpo era artistico , éra fazer circo tourada, e torear o cabrito do Sr José Oliveira,pai do Bernadino e o seu irmão Alidor,era divertido e ganhavamos dinheiro cobrando entradas, as famosas moédas de 0,10 e 0,20 centavos do Getulio tenho dito abraços Valdir Salvador.
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