quinta-feira, 23 de outubro de 2014

- Os Trapalhões no Reino da Fantasia




Mais uma contribuição do nobre amigo renomado escritor, jornalista e colunista, Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata sobre filme produzido em Blumenau e região Os Trapalhões no Reino da Fantasia.

XUXA E DIDI: PERSEGUIÇÃO PELAS RUAS DE BLUMENAU
Por Carlos Braga Mueller

É possível que muitos não se lembrem, porém em 1985 foi realizado um filme com Xuxa e os Trapalhões, usando as ruas de Blumenau como parte do cenário.
O nome do filme: “Os Trapalhões no Reino da Fantasia”, produzido por Renato Aragão em parceria com Maurício de Souza.
Quem articulou tudo foi o empresário de comunicação Sérgio Murad, também conhecido como Beto Carrero.
Murad havia estabelecido um quartel-general de sua agência de publicidade, a JBS Murad, em Blumenau. Assim, ficava mais perto de importantes clientes seus, como a Sulfabril, Teka,  Linhas Circulo, Buettner e tantas outras, que anunciavam regularmente em revistas de circulação nacional e, principalmente, na Rede Globo de Televisão.

Visionário, Beto Carrero já sonhava em implantar seu parque de diversões temático. Enquanto isso não acontecia, mantinha na Santur, em Balneário Camboriú, um protótipo do que seria o Beto Carrero World.
Ali existia a vila do faroeste, entre outras atrações. Regularmente era montada uma lona da família Robatini para apresentações circenses.
Beto desfrutava da amizade pessoal de Renato Aragão e dos demais Trapalhões; Dedé, Mussum e Zacarias.
Naqueles tempos os filmes de Renato Aragão eram sucesso certo de bilheteria. A cada ano era lançado pelo menos um novo filme e 
em 1985 Sérgio Murad convenceu seus amigos a realizarem o filme utilizando cenários de Santa Catarina, mostrando seu parque na Santur e Blumenau, principalmente.

O FILME
Os Trapalhões no Reino da Fantasia” já prenunciava o que seria o Beto Carrero World: utilizando a estrutura existente na Santur, o roteiro usou e abusou de cenas de faroeste, a grande paixão de Beto Carrero.

Foi no western do cinema americano que ele pautou a criação do personagem Beto Carrero, um justiceiro que não usava a violência das armas contra os bandidos, mas sim um chicote, o famoso látego do El Zorro.
A Renato Aragão Produções bancou o filme e Dedé Santana foi o Diretor.
Convidaram Maurício de Souza para ser o co-produtor e por isso a história tem uma sequência de 20 minutos de desenho animado dos Trapalhões.
A história é simples e feita para as crianças entenderem...e torcerem pela Xuxa e pelos Trapalhões. Ela é uma freira, Irmã Maria, que dirige um orfanato que enfrenta dificuldades financeiras. Para ajudar, os Trapalhões fazem um espetáculo, mas o dinheiro dos ingressos é roubado.A quadrilha é comandada por Mauricio do Vale, consagrado ator, um ícone dos filmes de Glauber Rocha. Dedé, Didi e Irmã Maria perseguem os bandidos. A perseguição passa pelo mundo de Beto Carrero, na Santur, por uma das praias de Santa Catarina (parece ser Laranjeiras) e também pelas principais ruas de Blumenau.
Começa pela ponte sobre o Ribeirão Garcia no início da rua 15; acessa a Beira Rio e mostra até o Barco Blumenau II ancorado. Depois a diligência contorna a Prefeitura e quase atropela a banda municipal, regida pelo maestro Marcílio. Também pode ser vista atravessando a ponte da Ponta Aguda em direção ao centro, com destaque para o Castelinho (que ainda era da Moellmann); segue pela rua 15 de Novembro, passa em frente às escadarias da Igreja (hoje Catedral).

Em seguida a diligência entra pela Rua Padre Jacobs e chega até a Rua 7 de Setembro, seguida por Didi, a cavalo. Claro que os bandidos levam a pior. Beto Carrero ajuda a recuperar o dinheiro.
A diligência termina caindo num despenhadeiro e pegando fogo, tudo no melhor estilo Hollywood ! Afinal, estamos vivendo o mundo da fantasia. Dedé, Didi e Xuxa, que estavam na diligência, acabam se salvando, pendurados em uma encosta...
Usamos o termo diligência em respeito ao velho oeste americano, mas o veículo é tratado também como carruagem.

REPERCUSSÃO
Quando o filme foi feito, finalzinho de 1984, início de 1985, Blumenau e o Vale do Itajaí ainda viviam o trauma das grandes enchentes (1983  e 1984). A cidade estava sendo reconstruída e o filme serviu para melhorar o “astral” dos blumenauenses.
Também a marca Beto Carrero foi alavancada e a partir dali Sergio Murad não parou mais, partiu para a construção do seu parque temático.
Hoje, lá está o sonho de Beto Carrero transformado em realidade; um dos maiores centros de diversões do mundo ! 

BETO CARRERO, UMA LENDA
Para nós, que tivemos a satisfação de conhecer, e conviver em várias oportunidades, com João Batista Sérgio Murad, o Beto Carrero, foi uma epopéia acompanhar os saltos que ele dava, sempre em direção ao sucesso.
Com o cavalo Faísca, ou sem ele, Beto estava sempre saltitante,  inventando coisas, colocando à prova sua capacidade de realizar o impossível. E conseguiu.
Não só implantou seu parque, considerado hoje o 6º maior do mundo, mas teve o mérito de revitalizar o mundo do circo no Brasil.
Seus espetáculos circenses arrancavam aplausos onde quer que se apresentassem. Eram várias lonas, todas de alto luxo, percorrendo o país.
Beto não sossegava; quando queria novas atrações ia a Las Vegas e trazia de lá o melhor em espetáculos.
Outro grande mérito seu: criou uma escola de circo em Penha, que até hoje forma novos valores para os picadeiros não só do país, mas internacionais.
Nascido no interior paulista no dia 9 de setembro de 1937, Murad nos deixou no dia 1º de fevereiro de 2008.
Ele se foi...mas o Beto Carrero continua vivo entre nós !
Para quem desejar ver o filme pelo Youtube clique no link:

Texto de Carlos Braga Mueller/fotos reprodução

terça-feira, 14 de outubro de 2014

- Árvore de Amoras

Mais uma participação exclusiva da escritora e historiadora Urda Alice Klueger, que nos remete aos anos de 19(60), do século passado, relembrando sobre as delicias das “amoras” em nossa região do Garcia e toda Blumenau.
Por Urda
(Para Luiz Ramil)
                                  
Imagem: divulgação Internet
       Lembro-me de quando estavas aqui, em agosto, e a árvore de amoras¹ ensaiava a Primavera, neste ano em que o inverno foi tão brando! A cada manhã parávamos sob ela e víamos as pequenas amoras verdes crescendo, e eu comentava contigo da abundância que haveria em breve, da refeição de amoras que eu faria ali, a cada manhã, coisa encantada, que me ligava à Natureza, ao Passado e ao Presente de fartura, tanta comida, hoje, neste país, que as crianças já não sabem mais comer fruta no !                                

          Então tu te foste antes que a primeira amora amadurecesse, e eu continuei ali, espreitando aquela árvore que em poucos dias cobriu-se de amoras pretas, doces e suculentas, e nas manhãs de andanças com meu cachorro eu já não comia mais em casa, tamanha era a fartura que havia sob aquela árvore, fartura daquela fruta que me deixava a boca, o rosto e as mãos cheias do roxo do seu sumo, fartura das lembranças de ter estado ali contigo. Eram tantas as amoras que eu podia comer até a saciedade, e elas se desprendiam dos ramos da árvore ao primeiro toque e me enchiam as mãos, e a cada uma que eu botava na boca eu me lembrava de ti, e aquela rua que me trazia diversas magias agora ficara mais encantada ainda, e cada manhã era uma manhã de festa porque havia as amoras e a tua lembrança de ali, sob a árvore – mais de uma vez eu te escrevi sobre aquelas amoras maduras, mas penso que não sabes, até agora, como aquele amadurecimento está, agora, ligado à tua lembrança.

Imagem: divulgação
   Houve dias que como que me sentia intoxicada de tanta vitamina C, tamanha a abundância sob aquela árvore, e é tão mágica e magnífica, aquela árvore, que tanto eu, quanto as crianças da escola, quanto outros passantes, todos paravam ali para colherem suas frutinhas negras, e lá vinham mulheres com panelas para a colheita com a qual fariam doces, ou homens com potes de plástico para colher amoras para as suas crianças, e todos nos fartávamos e colhíamos  o que estava à mão, na parte mais baixa da árvore, pois lá em cima, quem dominavam eram as aves.
     Todo o tipo de aves e avezinhas fazia sua barulheira primaveril nos altos da árvore, sem nenhum medo, pois agora as crianças também já não sabem mais perseguir passarinhos, e houve uma manhã, mesmo, que havia tal bando de aracuãs se alimentando lá no andar de cima, que quando faziam uma revoada, era quase que com se houvesse um escurecimento do dia. As aracuãs estavam tão felizes e repletas de amora que, imagino, naquele dia aproveitaram para perpetuar sua espécie. E eu comi, e depois fui andando, e depois voltei – tu conheces o meu itinerário – e sempre as aracuãs continuavam ali a festejar a vida, e como eu sentia que não estivesses ali para compartilhar aquela exuberância toda!
     A festa daquela árvore continuou por uns quarenta dias – nunca fizera as contas de quanto tempo uma árvore de amoras permanece frutificando, mas neste ano eu lembrava de ti e de quanto tempo fazia que te foras, e sabia do tempo. E continuava, a cada amora, a me lembrar de ti.
        Hoje foi a primeira manhã em que já não havia amoras, e vim para casa com fome. Há que esperar muito tempo para que aquela árvore volte a frutificar, o que não quer dizer que ela não continue a frutificar lembranças, pois me mantive sob ela, olhando seus ramos sem amoras, mas pejados de recordações.
Imagem: divulgação
     Quanto tempo irá passar, agora, até que possamos estar de novo sob uma árvore assim, armazenando novamente as lembranças que ficarão para a vida? Senti muito, muito, a tua falta.
¹ Amora é o nome popular dado a diversas frutas de formato semelhante, mas pertencentes à gêneros e mesma famílias botânicas diferentes.
Alguns tipos de amoras:
Amora-branca, Amora-do-mato, Amora-vermelha. 

               Blumenau, 04 de Outubro de 2014.
               Urda Alice Klueger
               Escritora, historiadora e doutora em Geografia.