Em histórias de nosso cotidiano, apresentamos hoje mais uma crônica da Urda, relatando uma conversa com uma senhora enquanto em trânsito Itapocoroy/Penha/SC. Se este fato é apenas uma memória desta senhora não sabemos, mas que faz parte de nossa história...
ENCHENTE DE 1911 – PONTA AGUDA - MAIS UMA MEMÓRIA – UM SÉCULO DEPOIS
Por Urda Alice Klueger /Colunista
Eu já devia ter pelo menos 15 anos, pois foi naquela época em que meus pais já moravam na Praia Grande do Itapocoroy/Penha/SC, o que já faz, portanto, mais de 40 anos. Vinha de lá para Blumenau no ônibus da Brusquense, que era a empresa de ônibus que fazia tal trajeto então, e que já faz muito tempo que não existe mais. Sou capaz de sentir, neste momento, o cheiro do ônibus da Brusquense, seu sacolejar, o rangir das suas molas, o gosto dos chicletes Ploc de morango que eu costumava mascar para não enjoar – só que naquele dia a conversa estava tão interessante que eu não enjoei.
No primeiro banco, estava sentada junto a uma senhora que conversava jovialmente e me dava atenção como se eu fosse uma interessante adulta. No meu olhar adolescente era uma senhora velha, embora sua conversa tão agradável – é que quando adolescentes, às vezes, pensamos que todos os velhos são chatos ou tristes. Em todo o caso, agora, penso que tinha 15 anos em 1967, época em que já fazia 56 anos desde a enchente de 1911. Como aquela senhora deveria já ter uns 10 anos em 1911, então, lá naquele dia do ônibus da Brusquense, ela teria pelo menos 66 anos, o que é uma idade avançada quando mal se saiu da infância, mas que hoje se me parece ainda tempo de tão grande juventude, principalmente quando penso que, se tiver sorte, logo terei chegado lá, e talvez, então, continue sentindo o que sinto hoje: que sou absolutamente jovem, mas que levo um susto danado quando olho para o espelho e vejo a mulher velha que me espia de lá!
No primeiro banco, estava sentada junto a uma senhora que conversava jovialmente e me dava atenção como se eu fosse uma interessante adulta. No meu olhar adolescente era uma senhora velha, embora sua conversa tão agradável – é que quando adolescentes, às vezes, pensamos que todos os velhos são chatos ou tristes. Em todo o caso, agora, penso que tinha 15 anos em 1967, época em que já fazia 56 anos desde a enchente de 1911. Como aquela senhora deveria já ter uns 10 anos em 1911, então, lá naquele dia do ônibus da Brusquense, ela teria pelo menos 66 anos, o que é uma idade avançada quando mal se saiu da infância, mas que hoje se me parece ainda tempo de tão grande juventude, principalmente quando penso que, se tiver sorte, logo terei chegado lá, e talvez, então, continue sentindo o que sinto hoje: que sou absolutamente jovem, mas que levo um susto danado quando olho para o espelho e vejo a mulher velha que me espia de lá!
Ponta Aguda - Primórdios da colônia
Enchente 1911
100 Anos após - Enchente 2011
Mas voltemos ao velho ônibus da Brusquense e àquela conversa onde um adulto de verdade me levava a sério – pelo tempo que passou, aquela senhora já faleceu há muito, e talvez somente sobreviva na memória dos seus descendentes e na minha. Meu interesse por História foi sempre muito aguçado, e jamais esqueci o que ela me contou naquele dia.
Aquela senhora era uma menina em 1911, e morava num lugar que se chamava Ponta Aguda, que é o mesmo lugar que hoje tem tal nome, em Blumenau.
- Sabe por que o nome Ponta Aguda? – explicou-me ela. – É porque havia um morro muito pontudo, pontiagudo, que a enchente de 1911 levou. Ali eram as terras dos meus pais, e tínhamos lavoura e bananeiras plantadas nesse morro pontudo. Quando o rio subiu, subiu, meu pai se lembrou de que havia esquecido uma enxada na encosta desse morro, e tendo em vista que a água ameaçava atingir o mesmo, mandou que eu fosse correndo buscar a ferramenta.
Ponta Aguda 2008 antes da Tragédia e enchente 2011
Foto: Paulo Sérgio Schneider
Eu já não lembro se ela conseguiu buscar a enxada ou não – lembro como me contou que estava muito próxima dessa ponta aguda quando tudo desmoronou... e o tal morro pontudo foi-se rio abaixo. Foi uma coisa assustadora, e penso que só depois que vivi a Catástrofe das Águas de 2008 foi que pude me identificar direito com o que sentiu aquela menina lá do passado quando um morro inteiro foi embora diante dos seus olhos incrédulos.
- No lugar, restou o que hoje é a Prainha – explicou-me ela, e nunca duvidei do que ela disse. Ao longo da minha vida já vi a Prainha, em Blumenau, tomar diversos formatos depois de grandes enchentes, como o de quase um Saara de areia branca que aterrou tudo em 1983. Por que não teria sido ali, no passado, um morro pontudo? Por que teria me mentido aquela senhora tão simpática cujo nome eu deixei fugir no tempo, mas cuja história nunca esqueci? Era tão vívida a lembrança daquilo tudo, dentro dela...
Dentro de mim ficou explicado porque a Ponta Aguda se chama Ponta Aguda. Achei que deveria contar.
Nova Rússia, 06 de novembro de 2011.
Urda Alice Klueger/Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR.
Para saber mais acesse: http://adalbertoday.blogspot.com/2011/10/ano-2011-centenario-da-grande-enchente.html
http://adalbertoday.blogspot.com/2011/10/enchente-de-1911.html
Arquivo de Adalberto Day/AHJFS - Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Oi Beto!
ResponderExcluirAdorei a matéria!
Seria muito impactante uma foto da situação atual, mas vamos manter a imagem maravilhosa que sempre tivemos daquela região!
Abraços,
Paula Angélica Decarle
pdecarle@gmail.com
Beto, que história FASCINANTE. Vou recontá-la num PPS, guardando os devidos créditos. Parabéns mais uma vez!!!
ResponderExcluirMarilia
Adorei a postagem, foi bom conhecer teu blog. Aguardo sua visita em meu site: comosefossecronica.webnode.com.br
ResponderExcluirE-mail para divulgação: davidsuel@hotmail.com
Olá professor e amigo Sr. Adalberto, sempre trazendo a memória e a história de nossa Blumenau. Belas imagens do bairro Ponta Aguda. abração e sempre que precisar conte comigo.
ResponderExcluirabração
JAIME DO BLOG.
Como pode um bairro residencial como a Ponta Aguda ter um fluxo de caminhão com carga pesada mais intenso que uma rodovia de pequeno e médio porte? O número de caminhões que transitam 24 horas por dia pela ponta aguda faz vc se sentir morando a beira de uma grande rodovia, além do barulho ensurdecedor, o transito se torna muito mais intenso que deveria ser. Observamos em varias cidades que esse fluxo de caminhao de grande porte é desviado obrigatoriamente pelas vias de contorno, visto que esses veículos pesados cruzam o centro da cidade apenas para "cortar" caminho, transformando um grande bairro residencial em um lugar difícil de se morar devido ao elevado barulho, que muitas vezes chega a níveis prejudiciais a nossa audição e ao descanso de nossos filhos e consequentemente a nossa saúde.
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