Dedicar-se à interpretação de imagens do passado presenteia o amante da História com descobertas das mais interessantes. As surpresas proporcionadas pela atividade serão tão maiores quanto menor for a idade do interessado, mas imagens do passado jamais deixam de falar a quem quer que esteja disposto a ouvi-las. Sim, fotografias falam, por si mesmas, mas também pelas recordações de seus contemporâneos.
Um bom exemplo é a imagem abaixo, provavelmente feita no final da década de 1950 ou início da de 1960:
As gerações mais jovens mal haverão de se dar conta de que quase que diariamente seguem os passos dos carroceiros de outrora acima retratados, em pleno centro de Blumenau/SC. Vejamos o que diz, entre outras coisas, esta bela e curiosa imagem.
Em primeiro lugar, a casa que aparece à direita da fotografia: 1) abrigou em seu andar térreo o Bar Primavera, empreendimento do Sr. Victor Holetz, já falecido, descendente da família que no passado construiu e dirigiu o famoso Hotel Holetz, inaugurado em 1902 e demolido em 1959, para dar lugar ao Grande Hotel Blumenau. Não temos dados precisos quanto ao período de funcionamento deste bar, mas o início de suas atividades pode ter se dado em 1954, estendendo-se até o início da de 1960; 2) o lado esquerdo da casa abrigou outro empreendimento comercial, o escritório de representações de uma fábrica de velas de Joinville/SC, a Wetzel; 3) a casa parece ter pertencido ao Dr. Armando Odebrecht, radiologista, que teria residido em sua parte superior até sua mudança para a Alameda Rio Branco, ao lado do Grêmio Esportivo Olímpico, na segunda metade da década de 1950. Durante algum tempo funcionou no andar térreo da casa o consultório do Dr. Odebrecht; 4) após a saída do Dr. Odebrecht, a parte superior da casa teria sido alugada para a Sra. Alice Imthurm, que pode ter permanecido nela até sua demolição; 5) a casa desapareceu, provavelmente em 1963, para dar lugar ao prolongamento de uma importante rua do centro de Blumenau, obra realizada pelo então Prefeito Hercílio Deeke.
Em segundo lugar, a casa estilo (técnica) enxaimel, do centro da fotografia: 1) desconhecemos o ano de sua construção, mas é certo que já existia no ano de 1936, pois neste ano foi adquirida pelo Sr. Oscar Martin Funke. Imigrante alemão aqui chegado por volta de 1926, aos 16 anos de idade, fixou-se inicialmente em Dona Emma/SC, onde permaneceu até 1933, quando se mudou para Blumenau. Casou em 1936, ano em que adquiriu a casa para nela residir e instalar, no piso térreo, a Rádio Funke, sua empresa. Em 1938 vendeu a casa e retornou à Alemanha, mas, devido aos rumores de guerra ora existentes, retornou apenas 03 meses depois para, já em 1939, recomprar sua antiga casa. A Família Funke residiu na casa até dezembro de 1953; 2) a partir daí a parte superior da casa foi alugada para servir de residência à família do Sr. Victor Holetz, que por aquele tempo iniciou as atividades do Bar Primavera; 3) mais ou menos no mesmo período, a parte inferior da casa foi alugada para a instalação da Serralheria Gastaldi; 4) em fins de 1953 ou início de 1954 a casa passou à propriedade do Sr. Victor Germer; 5) a casa deve ter sido demolida na década de 1960 para dar lugar, possivelmente nos Anos 1970, à construção de um hotel, iniciativa empreendedora do Sr. Victor Germer; 6) antes, porém, o terreno baldio por ela deixado, foi alugado para a instalação de circos itinerantes e a apresentação dos espetáculos protagonizados por motociclistas conhecidos pelo nome de Globo da Morte.
Por fim, o edifício de cor clara à esquerda da casa estilo enxaimel: 1) foi construído em 1953 pelo Sr. Victor Germer para a Família Funke, que, ao deixar a casa estilo enxaimel em dezembro daquele ano, fixou residência em sua parte superior. Da negociação para a construção do edifício fez parte a transferência de propriedade da tal casa estilo enxaimel para o Sr. Germer; 2) no piso térreo o Sr. Funke, que tinha formação técnica para o conserto de rádios, ventiladores, outros equipamentos elétricos, e posteriormente televisores, instalou sua empresa, a Rádio Funke, que iniciou suas à Rua XV de Novembro, no mesmo edifício que abrigava a Casa Pilot, e a partir de 1936, como vimos, passou a funcionar na casa estilo enxaimel. A empresa encerrou suas atividades em 31/12/1974, após a morte do Sr. Funke; 3) a viúva do Sr. Funke continuou residindo no local até este ser vendido, em meados da década de 1990; 4) o prédio ainda existe e continua sendo utilizado para fins comerciais.
Este texto, resultado de entrevistas e pesquisas em documentos, não deseja, em hipótese alguma, encerrar o assunto, e tampouco se considera livre de equívocos. Pelo contrário, é seu objetivo provocar reações que visam melhorá-lo mediante a confirmação, a correção e a complementação das informações nele contidas. Sabemos que esta fotografia ainda pode ter muito a dizer.
Terá observado o leitor que algumas informações a respeito das construções, especialmente as que o ajudariam a identificar em que local do centro de Blumenau a fotografia foi feita, foram omitidas. Isto foi feito propositalmente, com o objetivo de provocar curiosidade, estimular o raciocínio e o interesse pela história da nossa cidade.
Deixemos agora outra imagem falar. Esta, sim, o fará por si mesma, fazendo as revelações necessárias às omissões feitas:
É a metamorfose urbana, processo contínuo que se desenvolve à nossa volta, muitas vezes, sem que o percebamos. Conhecem agora, as gerações jovens, um pouco da paisagem dos tempos de seus pais e avós, o observam que ainda podem desfrutar de parte dela. Em respeito ao leitor que não conhece a cidade, esclarecemos: 1) a casa à direita da foto deu lugar ao prolongamento da Rua Nereu Ramos; 2) a casa estilo enxaimel do centro da foto deu lugar ao Hotel Baviera, atualmente desativado.
O leitor tem alguma foto antiga em casa? Recomendo que ouse e fale com ela. Certamente, terá muito a lhe dizer.
Texto: Wieland Lickfeld
Fotos: Acervo de Morgana Holetz Aguiar (foto antiga) e Wieland Lickfeld (foto atual).
Colaboração: Morgana Holetz Aguiar, Rosemari Funke Moritz, Werner Holetz, Ellen Funke, José Geraldo Reis Pfau e Adalberto Day.
Fontes: 1) Relatórios dos Negócios Administrativos do Município de Blumenau, referentes aos anos de 1962, 1963, 1964 e 1965; 2) Escola de 1º. e 2º.Grau Barão do Rio Branco: 25 Anos de Serviços à Comunidade – 1953-1978; 3) Jornal A Nação – 1º. Trimestre de 1964.
Parabéns pelo trabalho de resgate à história urbana de Blumenau.
ResponderExcluirCada vez que abro este blog me admiro e agradeço por ter pessoas como Adalberto Day que não deixam morrer nossa história.
Muitas histórias me são contadas pelos meus pais e tios queridos e me foram contadas pelos meus avós e seus irmãos.
São momentos para mim de muita alegria, nestes momento sinto que não vive a história deles mas sei que sou parte dela.
Um forte abraço à todos e meus sinceros agradecimentos a esta equipe maravilhosa que trabalha lado a lado com Adalberto.
Aproveito para deixar um beijo especial ao meu querido tio e padrinho Werner Holetz.
Felicidades a todos os Blumenauenses.
Morgana
Prezado Adalberto,
ResponderExcluirParabéns ao Wieland e a todos os que se envolveram na elaboração desta verdadeira "charada" urbana da nossa querida Blumenau.
Confesso que (até pela minha idade), a primeira reação de lembrança foi daquele trecho da Rua Sete de Setembro.
Mas depois, lendo as informações, acabei me transportando a outros locais da mesma Sete, até ter a revelação final.
Muito bom e instrutivo este tipo de pesquisa.
Esperamos que a equipe continue a pesquisar e que outros também se interessem e nos brindem com informações histórico-pedagógicas sobre Blumenau.
Abraços do Braga Mueller
Parabéns a matéria realmente maravilhosa que nos retrata o início, o meio e a atualidade de um mesmo local. Conhecí seo Funke e familia, conhecí o local antes da atual construção e da abertura e prolongamento da Rua Nereu Ramos. O texto traduz com fidelidade e seriedade o que era, o que foi e o que é. Isto chama-se resgatar a história. Parabéns Adalberto e ao responsável pelas fotos e desdobramento sr.Wieland Lickfeld. Os Lickefeld que eu conhecia e com um dos quais estudei na EM Machado de Assis, tinha como pai o proprietário do Café Blumenau, acho que seu nome era Erol Lickfeld.
ResponderExcluirUm abraço
Edemar Annuseck - Curitiba/PR
Beto, a frase de Frei Rov�lio Costa , resume o que quero dizer sobre essa bel�ssima reportagem: "Somos o ontem e o amanh� no palco de hoje". Parab�ns Beto e a todos que contribuiram com essa informa�o. Tere.
ResponderExcluirPrezado Sr. Adalberto
ResponderExcluirBoa tarde, tudo bem !!!! Obrigado e Parabéns por retratar e lembrar a velha residência e Restaurante Primavera de Victor Holetz, meu Pai. O local me proporcionou belas lembranças, foi mais ou menos nessa época que casei (1957) Achei muito importante sua lembrança desse local, uma vez, como o Sr. citou, com a demolição do prédio, houve a prorrogação da Rua Nereu Ramos, que hoje é uma importante ligação com a Escola Barão do Rio Branco e Pedro II , estabelecimentos de ensino fundamentais para Blumenau.
Parabéns pelo seu belo trabalho, resgatando a antiga Blumenau. Se não houvesse pessoas dedicadas, interresadas e que conheceram grande parte dessa Blumenau, tudo ficaria apagado e no esquecimento.
Cordiais Saudações e Abraços
Werner Holetz
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá! estou procurando um assunto em particular para um trabalho, portanto nao li o site todo, mas o conteudo que vi é bem interessante! mas o principal motivo do meu comentario é uma correção quanto ao termo ESTILO ENXAIMEL. O certo é TÉCNICA enxaimel, pois enxaimel não é um estilo de edificação e sim uma técnica construtiva. Vim notifica-lo pois faço arquitetura e estou com uma materia Restauração de Patrimonios, onde a professora destaca esse termo toda semana!
ResponderExcluirObriagda pela atenção.
Estava lendo seu blog quando vi o nome do meu avô materno Victor Germer de Blumenau...
ResponderExcluirNâo cheguei a conhecer ele, vocÊ teria informações sobre ele?
Desde já obrigado...
Iuri
Sylvio Zimmermann Neto Inimaginável, não reconheci até entrar no site.
ResponderExcluirSabará Nascimento Rua Nereu Ramos esquina com 7de setembro conheci
ResponderExcluirFavo de Mel muito bom...parabéns
ResponderExcluirGeonilda Maria Ewald AMEI....PARABÉNS
ResponderExcluirLeandro Ilmo Buelck Quantas vezes entrei no Bar, do Sr.Holetz, { opa Holetz}, era localizado na casa emxainel que se vê, com a parte térrea em Branco, para comprar uma bananinha ou um.pedaço de cuca, pra levar para minha Tia Avó, que morava nas mediações na antiga Travessa 4 de Fevereiro,{ hoje Angelo Dias}, eta tempo bom, saudades,
ResponderExcluirValdemir Nicoletti Resgate de nossa história. Parabéns pelo relato detalhado, inclusive com imagem de como é hoje o local.
ResponderExcluirAnnelore Penzlien
ResponderExcluirCheguei a conhecer
Uta Hering Meyer
ResponderExcluirSe não me falha a memória (posso estar enganada) ; nesta casa cor de rosa era o consultório do Dr Odebrecht. Com a palavra - Betty Odebrecht!
Darius Tur
ResponderExcluirMuito bacana Adalberto ! Belo registro de uma Blumenau do passado. A presença da carroça dá um toque bem nostálgico. Excelente pesquisa e texto do Wieland !!
Obrigado por nos presentearem com este belo resgate histórico !!
Eutalia Couto
ResponderExcluirEssa cidade é maravilhosa linda demais eu queria morar aí. Essas fotos que colocasse,são belíssima, raridades .Eu tenho a foto do meu pai e minha mãe no dia do casamento é linda. BLUMENAU CIDADE MARAVILHOSA.