ABRINDO O BAÚ: RIXAS POLÍTICAS EM BLUMENAU
Através dos séculos Blumenau vêm presenciando rixas políticas em seu território.
Pesquisando a trajetória política e dos políticos no imenso
território que compunha originalmente Blumenau, encontramos fatos interessantes
que provocaram distúrbios entre as lideranças políticas.
Os mais velhos não esquecem das rixas havidas entre os
tradicionais partidos: a UDN e o PSD.
Os Ramos dominavam o PSD; os Bornhausen e Konder batalhavam nas
trincheiras da UDN.
Em minha família havia tradição política.
Primeiro, com a participação efetiva de meu tio-avô, José
Bonifácio da Cunha, que foi o primeiro superintendente de Blumenau, cargo
ocupado em duas ocasiões. Ele também se elegeu várias vezes deputado estadual,
inclusive como Constituinte, ao lado daqueles que votaram a primeira Constituição
Republicana de Santa Catarina.
Meu avô, advogado Thomé Braga, foi suplente de
vereador em Blumenau.
Eu me elegi vereador duas vezes, exercendo a vereança de 1972 a
1982, dois mandatos de quatro anos cada e mais um mandato "tampão" de
dois anos.
Corria o ano de 1982.
Era prefeito Renato Viana e Ramiro Ruediger seu
vice.
Renato licenciou-se a partir de maio daquele ano para concorrer
ao cargo de deputado federal. Ramiro o sucedeu na missão de governar Blumenau.
Automaticamente, se Ramiro por qualquer motivo não
pudesse exercer a função, na linha sucessória seria convocado o presidente do
poder legislativo, do PDS, e adversário das hostes de Ruediger.
Na minha trajetória política nunca considerei meus oponentes
como inimigos, mas sim como adversários.
Afinal, não fui somente vereador. Disputei uma candidatura a
deputado estadual em 1978 (acabei como suplente), e fui vice de Victor
Sasse em 1982 na disputa pela prefeitura (nossa chapa fez
individualmente mais votos pelo PDS do que o oponente eleito, Dalto dos
Reis. Mas a somatória de votos de nossos três candidatos foi
menor do que a dos dois concorrentes pelo MDB, pois valia a somatória da
legenda).
Um fato interessante, que passo a relatar, certamente não é do
conhecimento geral, mas faz parte da história política de Blumenau e revela
fatos pouco divulgados.
Como vimos acima, Ramiro Ruediger havia assumido a
Prefeitura e eu estava na condição de vice-prefeito na linha sucessória.
De forma alguma fui convocado para ocupar a função e também essa
não era minha intenção. E olha que Ramiro esteve doente na ocasião.
Para que a situação fique bem clara, o que aconteceu foi uma
"simples" rixa política.
Senão vejamos:
É o próprio Ramiro Ruediger que justifica, quando no início do ano de 1982 ainda exercia o cargo de vice-prefeito, aos jornalistas Luiz Antônio Soares e Danilo Gomes, em entrevista concedida ao Programa de rádio Censura Livre, gravada e reproduzida na revista "Blumenau em Cadernos", Tomo 50, número 2, de abril de 2009, páginas 84 a 109, cujo trecho permito-me reproduzir:
Ramiro Ruediger: Bem, de fato não sei a data certa ainda que
devo assumir a prefeitura, se dia 15 de fevereiro ou 15 de maio. Acredito que
deva ser 15 de maio. Vamos tentar dar continuidade...
Danilo Gomes: Quer dizer que o senhor já se definiu, vai assumir a
prefeitura, não vai aceitar a candidatura (a prefeito).
Ramiro Ruediger: Não, em hipótese nenhuma, e nem poderia. Porque
se eu fosse sair candidato, eu vou ser bem sincero...
Danilo Gomes: Teriam que entregar a rapadura...
Ramiro Ruediger: Teríamos que entregar a prefeitura, e isso jamais!"
Mas este não é um caso isolado porque questiúnculas e desentendimentos políticos em Blumenau ocorreram às centenas. O assunto daria para preencher as páginas de muitos livros.
Finalizando, temos que reconhecer que Ramiro foi
uma liderança excepcional na área esportiva de Blumenau. Sob sua coordenação éramos
imbatíveis nos Jogos Abertos de Santa Catarina.
Merece esse reconhecimento.
Carlos Braga Mueller/Jornalista/escritor e
memorialista; fotos reprodução e divulgação.
Adendo de Adalberto Day
Seria mais que merecido o senhor e amigo Carlos Braga Mueller, ter ocupado o cargo de Prefeito de Blumenau, nem que por um espaço pequeno do tempo, pelas suas enormes contribuições ao nosso município, e região. Muitas vezes o termo utilizado “Rixas políticas” impedem o obvio!