Frederico Kilian nasceu em 8 de julho de 1898, em Palhoça (SC).
Filho de Eduardo Kilian e Helena Burckardt, casou-se na década de 1920 com
Gertrudes Müller. Desta união nasceram os filhos Orla, Horst, Ursel,Helma e
Fritz. Kilian colaborou em diversos segmentos da sociedade. Foi professor,
escrevente juramentado do Cartório Frederico Müller de Indaial e Escrivão de
Paz em Massaramduba. Durante muitos anos manteve a coluna Efemérides na Revista
Blumenau em Cadernos e foi tradutor de artigos extraídos dos jornais Blumenauer
Zeitung e Der Urwaldsbote. Frederico Kilian faleceu em 4 de janeiro de 1995,
aos 96 anos.
(Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Fundação
Cultural de Blumenau)
Mais uma bela crônica da escritora, historiadora Urda Alice Klueger.
Fala de um dos cidadãos mais conhecidos pelos blumenauenses principalmente na
parte de grande memorialista que foi o senhor Frederico Kilian. morou por muitos anos na rua amazonas próximo a antiga fábrica TECELAGEM união.
Por Urda Alice Klueger.
Meu tipo inesquecível
Ele nasceu no finalzinho do século passado, e seu sonho era
o de viver em três séculos diferentes. Com o maior bom humor, planejava
alcançar o ano 2.000, coisa difícil, que acabou não dando certo, mas que o fez
sonhar muito.
Seu Frederico Kilian tinha 54 anos quando eu nasci, mas só
fui conhecê-lo quando ele já passara dos oitenta. Era um homem pequenino e
baixinho, que parecia ter encolhido com a idade. Como não o conheci quando mais
jovem, fiquei sempre com a impressão de que encolhera mesmo.
Seu Frederico Kilian me deu a maior lição de vitalidade e de
amor à vida que jamais tive. Lúcido, alegre e brincalhão quase até o fim, cheio
de incontestável energia física, ele me impressionou desde o dia em que o
conheci. Fiquei a observá-lo com muita atenção por algum tempo, até que nos tornamos amigos. Que amigo
que era seu Frederico! Beirando os noventa anos, tinha um pique difícil de
acompanhar. Todas as tardes podia se encontrá-lo a caminhar pelas ruas, no seu
passinho ágil e miúdo, sempre com destino certo.
– Para onde vai, seu Frederico?
Ia sempre visitar alguém, e parava para me contar que na
véspera visitara o amigo tal, que tivera um derrame e estava paralítico, e
abanava a cabeça com pena:
– Os meus amigos estão acabando! Quase todos estão doentes
ou morreram!
Era uma constatação lúgubre, normal na avançada idade dele,
mas ele não se deixava abater. Mudava logo de assunto:
– Hoje à noite...
Sempre tinha um plano para a noite, depois da visita da tarde. Comparecia a todos os coquetéis,
vernissages e outros eventos que acontecessem na cidade. Eu freqüentava os
mesmo ambientes que ele, e nas festas, abismava-me com o seu pique: se havia
uísque, ele bebia uísque: se havia vinho, ele bebia vinho; se havia cerveja,
ele bebia cerveja, e assim por diante, numa demonstração de vitalidade que a
gente julga presente só nos jovens.
Nas manhãs, ele trabalhava. Exercia sua antiga profissão de
fazer inventários, fazia traduções para a revista Blumenau em Cadernos,
escrevia textos. E era galante o nosso velhinho, ah! como era! Não perdia
manifestação pública, e lembro bem da Copa do Mundo de 1986, quando, numa das
primeiras vitórias do Brasil (só houve as primeiras, mesmo), eu fui com minha
turma festejar no carnaval que, aqui em Blumenau, acontece na Rua XV de
Novembro. Seu Frederico Kilian, com seus 88 anos, lá estava no carnaval do
Brasil, dançando e fotografando. Dançou samba comigo no meio da rua, num
arrasta-pé que abriu a roda e fez todo o mundo por perto aplaudir. Agradeceu,
depois, a ‘marca’, como se estivesse em elegante salão de baile.
Ele gostava da minha companhia, e, galantemente,
convidava-me para festas mais solenes, aos sábados, aonde íamos de braços
dados. Tenho as fotografias dessas ocasiões para lembrar-me com saudade.
Mais que ninguém, seu Frederico gostava de viajar. Beirando
os noventa anos, decidiu fazer viagem em navio de turismo até o extremo sul da
América do Sul. Era um mês no mar, e a família julgou que voltaria morto.
Preocupados, os familiares sequer o deixaram volta com o navio até Santos:
forma de carro, buscá-lo no porto de Rio Grande/RS. Esperavam encontrar lá um
velhinho derreado, mas seu Frederico saltou do navio lépido e faceiro,
delirantemente aplaudido por todos os passageiros. Tinha sido eleito o
passageiro mais simpático, tinha gravado entrevistas com todo o mundo do navio,
e, ah! ele delirava ao contar! – num baile à fantasia, fantasiara-se de
beija-flor para poder beijar todas as moças! Assim era seu Frederico!
Depois dos noventa anos, ainda fez muitas viagens. Creio que
a mais ousada foi ter ido conhecer o Egito, e se aventurado a andar de camelo,
lá pelos 92 anos. A família já não o deixava viajar sozinho, e a gente via que
aquilo não lhe agradava muito.
Ele faleceu nos primeiros dias de 1995. Só ‘baixara a bola’
nos últimos meses, e quando o vi pela ultima vez antes da sua morte, ele ainda
estava planejando escrever um romance. Contou-me todo o enredo do romance,
sobre uma moça que se suicidara em Blumenau no final do século XIX. Talvez,
algum dia, eu escreva o romance por ele.
Seu Frederico Kilian sonhava em viver em três séculos
diferentes, e não conseguiu. Mas como viveu intensamente os 96 anos de vida que
Deus lhe deu! Quero, um dia, ser uma velhinha como ele!
Blumenau,
17 de agosto de 1996.
_________________________________________
Adendo do Ecólogo Lauro
Eduardo Bacca
Obrigado
Urda por nos fazer lembrar do amigo Kilian, que caracterização bonita e
perfeita do homem e cidadão, parabéns!
Reforço o seu gosto por passear: Kilian foi numa excursão da Acaprena ao Pantanal Mato-grossense aos 88 anos. A certa altura da viagem ele "desapareceu". Cadê seu Kilian? está no banheiro do ônibus? Não! estava lá na frente, com o motorista, sentado sobre o capô do motor, caderninho à mão, tomando notas, não é fantástico? Depois, em Porto Jofre, o pessoal saiu prá caminhar. Bem consciente da sua condição física, ainda que invejável para a idade, participou, mas, ao invés de caminhar 1,5 hora de ida e outro tanto de volta, fez 45 mim respectivamente. Vou enviar uma foto dele bem longe, na transpantaneira!
Depois, aos 90 anos, foi conosco a Urubici e morro da Igreja. Dormiu sobre uma carroça, num galpão de fazenda com uma fresta de mais de meio metro de altura entre o chão e a grande porta de madeira de entrada, junto com todos, alguns em saco de dormir no chão batido, outros sobre montes de capim seco para o gado. Dia seguinte lá foi ele, com mais alguns que não foram a pé, sobre uma espécie de "galhota" (carroça de duas rodas) puxada a trator, atravessar por dentro do rio Cachoeira.
No morro da Igreja, no tempo em que ainda era possível adentrar na área da Aeronáutica, caminhando por quase um km pela via interna, uma rajada de vento de quase 100 km/h o derrubou sobre umas pedras, felizmente, sem consequências maiores que um muito pequeno corte em uma das mãos. Grande Kilian!
Reforço o seu gosto por passear: Kilian foi numa excursão da Acaprena ao Pantanal Mato-grossense aos 88 anos. A certa altura da viagem ele "desapareceu". Cadê seu Kilian? está no banheiro do ônibus? Não! estava lá na frente, com o motorista, sentado sobre o capô do motor, caderninho à mão, tomando notas, não é fantástico? Depois, em Porto Jofre, o pessoal saiu prá caminhar. Bem consciente da sua condição física, ainda que invejável para a idade, participou, mas, ao invés de caminhar 1,5 hora de ida e outro tanto de volta, fez 45 mim respectivamente. Vou enviar uma foto dele bem longe, na transpantaneira!
Depois, aos 90 anos, foi conosco a Urubici e morro da Igreja. Dormiu sobre uma carroça, num galpão de fazenda com uma fresta de mais de meio metro de altura entre o chão e a grande porta de madeira de entrada, junto com todos, alguns em saco de dormir no chão batido, outros sobre montes de capim seco para o gado. Dia seguinte lá foi ele, com mais alguns que não foram a pé, sobre uma espécie de "galhota" (carroça de duas rodas) puxada a trator, atravessar por dentro do rio Cachoeira.
No morro da Igreja, no tempo em que ainda era possível adentrar na área da Aeronáutica, caminhando por quase um km pela via interna, uma rajada de vento de quase 100 km/h o derrubou sobre umas pedras, felizmente, sem consequências maiores que um muito pequeno corte em uma das mãos. Grande Kilian!
Adalberto e Urda quanto ao FREDERICO KILIAN, já tinha ouvido dele, mas não tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
ResponderExcluirMas gostei de conhecer.
Abraços
Henry Georg Spring
Prezada dona Urda, vai... escreva o romance... é uma maneira de dar o terceiro século para o seu Fred. Abraços. Cao
ResponderExcluirFotos do Rio de Janeiro:
http://caozonemais.wixsite.com/caolinks
Boa tarde! Frederico Kilian Um exemplo de vitalidade, boa cabeça. Lendo o texto percebi que foi mencionada vitalidade que só se vê nos jovens, e me veio a cabeça nossa juventude nos dias de hoje:(Juventude sarada rs)Outro dia citei que grande parte de nossos jovens tem um problema sério quanto a localização do cérebro:(Os Jovens Olham o tanquinho onde de muitos esta o cérebro. E Não digo diferente de certas mulheres q tem o Cérebro no bum-bum.)E pensar no Sr Frederico Kilian um Homem acima de seu tempo! A HISTORIADORA URDA ALICE KLUEGER Deve pensar seriamente em escrever não só o romance de Frederico Kilian, e sim um outro sobre as historias maravilhosas desse Sr q eu gostaria de ter conhecido pessoalmente. Grande abraço professor Adalberto.
ResponderExcluirMeu caro Adalberto,
ResponderExcluirNão conhecia o Sr. Frederico, com tudo é uma bela história, como sempre tem sido.
Obrigado Urda por nos fazer lembrar do amigo Kilian, que caracterização bonita e perfeita do homem e cidadão, parabéns!
ResponderExcluirReforço o seu gosto por passear: Kilian foi numa excursão da Acaprena ao Pantanal Matogrossense aos 88 anos. A certa altura da viagem ele "desapareceu". Cadê seu Kilian? está no banheiro do ônibus? Não! estava lá na frente, com o motorista, sentado sobre o capô do motor, caderninho à mão, tomando notas, não é fantástico? Depois, em Porto Jofre, o pessoal saiu prá caminhar. Bem consciente da sua condição física, ainda que invejável para a idade, participou, mas, ao invés de caminhar 1,5 hora de ida e outro tanto de volta, fez 45 mim respectivamente. Vou enviar uma foto dele bem longe, na transpantaneira!
Depois, aos 90 anos, foi conosco a Urubici e morro da Igreja. Dormiu sobre uma carroça, num galpão de fazenda com uma fresta de mais de meio metro de altura entre o chão e a grande porta de madeira de entrada, junto com todos, alguns em saco de dormir no chão batido, outros sobre montes de capim seco para o gado. Dia seguinte lá foi ele, com mais alguns que não foram a pé, sobre uma espécie de "galhota" (carroça de duas rodas) puxada a trator, atravessar por dentro do rio Cachoeira.
No morro da Igreja, no tempo em que ainda era possível adentrar na área da Aeronáutica, caminhando por quase um km pela via interna, uma rajada de vento de quase 100 km/h o derrubou sobre umas pedras, felizmente, sem consequências maiores que um muito pequeno corte em uma das mãos. Grande Kilian!
Quem sabe um dia você não escreve o romance em memória deste ilustre senhor?
ResponderExcluirConheci o seu Kilian como tradutor da Prefeitura de Blumenau nos anos 1980. Lembro que um dia, no Gabinete do Prefeito, ele se queixou de dor em um dos joelhos. Quando o Chefe de Gabinete lhe disse que isto era normal, considerando a sua idade, o Seu Kilian protestou: "Mas o outro joelho é da mesma idade e não dói!".
ResponderExcluirVilson R. Corrêa
ResponderExcluirQue bela homenagem ao Sr. Kilian como disseram um homem a frente do seu tempo. O conheci nas reuniões distritais no Grupo Escoteiro Leões de Blumenau. Merece todo o nosso carinho pela pessoa respeitosa e ávida do saber.