A
LUZ ELÉTRICA EM BLUMENAU
Por
Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor em Blumenau
Quando criou a Terra, Deus disse: “Faça-se a Luz ! “
E a luz foi feita.
Durante séculos a humanidade
habituou-se à luz natural. A luz de Deus.
É bem verdade que, à noite,
acendiam-se tochas, archotes, velas, lamparinas a gás.. e a luz assim
produzida, embora bruxuleante, ajudava
as pessoas a enxergar também nas trevas.
Até
que um dia o homem inventou a luz elétrica!
E foi assim, extasiados, que
os blumenauenses viram, no começo do século XX, as casas e as ruas de Blumenau sendo iluminadas pelo processo de energia elétrica, novidade
que ainda engatinhava no Brasil.
A
USINA DE GASPARINHO
Coube ao empresário Frederico Guilherme Busch Sênior (foto)
dotar Blumenau de iluminação particular e pública a eletricidade.
No dia 19 de fevereiro de
1908 brilharam 116 lâmpadas nas ruas da cidade, alimentadas por uma usina
geradora construída por ele em 1906 na localidade de Gasparinho.
Com a existência dessa usina
no Distrito de Gaspar, o Superintendente do Município de Blumenau, Alwin Schrader, firmou com Busch um contrato concedendo-lhe o
privilégio de fornecer força e luz elétrica no perímetro urbano de Blumenau
pelo prazo de até 25 anos.
Além de fornecer a luz
elétrica para as residências de Blumenau, Busch obrigou-se a colocar cem
lâmpadas de 25 velas cada nas ruas, e por isto recebia um pagamento, feito pelo
Município, no valor de R$ 5.500$000 anuais. Esta iluminação funcionava durante
seis horas por noite. Logo lhe foi concedido o direito de uma extensão até a Itoupava Seca. Então, já eram
215 lâmpadas de 25 velas, que ficavam acesas 12 horas por noite. No contrato, Schrader exigia duas lâmpadas de
100 velas cada uma para iluminar o Porto e mais 12 lâmpadas de 25 velas
para iluminar o Paço Municipal.
E.I. Garcia 1912
A linha de transmissão vinha
de Gasparinho pelo Garcia,
por onde hoje se situa a Rua Brusque. Quem primeiro recebia a energia era a Empresa Industrial Garcia, que
ficava ali perto e da qual Busch era um dos diretores.
A Superintendência Municipal
exigia que, tão logo os motores da usina produzissem mais de 50 cavalos, o
empresário ficava obrigado a fornecer força dia e noite, menos do meio dia até
a uma hora da tarde. E para se evitar qualquer interrupção do serviço, foi
acertado que Busch montasse
uma segunda turbina até 1º de julho de 1911.
O Superintendente Schrader planejava tracionar por
eletricidade duas balsas: a do centro, que ligava o Porto à Prainha da Ponta
Aguda, e a balsa da Itoupava Norte.
Este projeto não foi
adiante.
Na época, outra usina, localizada
em Brusque, de propriedade de João Bauer, passava por dificuldades financeiras.
Como o Salto do
Gasparinho, onde Busch havia instalado sua usina, tem um potencial relativamente pequeno, por volta
de 1918 o empresário foi obrigado a vender a concessão de 25 anos, firmada com o Município,
para a firma Bromberg, Hacker & Companhia, proprietária da Usina do
Salto.
Segundo testemunhas, ainda
hoje é possível ver, escondidos pelo
mato, vestígios do que sobrou da
primeira usina de eletricidade de Blumenau.
Usina do Salto (Clic RBS)
USINA
DO SALTO
Por volta de 1913 foi
lançado em Blumenau um projeto de
energia elétrica mais arrojado: a
construção de uma usina bem maior, aproveitando
as corredeiras do Rio Itajaí Açú na localidade de Salto Weissbach, que viria a ser a Usina do Salto.
Fritz Mailer, que trabalhou
na Usina do Salto de 1948 a 1984, relata que o que mais intrigava os
blumenauenses era como os antigos trabalhadores
efetuaram esta obra com os precários apetrechos e maquinários existentes na
época, movimentando as enormes peças dos geradores e as turbinas das primeiras
máquinas, fundidas em aço.
Na Usina operavam dois
transformadores elevadores de 1750 KVA cada, refrigerados a água.
Mailer conta que em dezembro de 1989, ao completar
75 anos de operação, a Máquina I da Usina, apesar da idade, ainda tinha o mesmo
fator de carga, mesmo com a transformação de ciclagem, de 50 Hz para 60 Hz,
atendendo ao padrão nacional.
Segundo Mailer, em artigo que escreveu para a revista
Blumenau em Cadernos, a Máquina I da Usina do Salto iniciou suas operações no
dia 23 de dezembro de 1914.
A Máquina II começou a operar no dia 12 de
maio de 1915.
Para atender
linhas de regiões mais distantes,
Itajaí, Brusque, Ibirama, Rio do Sul, Jaraguá do Sul e outras
localidades, em abril de 1929 entrou em operação a máquina III, e no dia 26 de
fevereiro de 1930 foi ligada pela primeira vez a linha interligando Salto-Jaraguá-Joinville.
No dia 1º de abril de 1939
teve início a geração da Máquina IV, com o dobro de potência das demais.
OS DESAFIOS
PARA MANTER A
USINA OPERANDO
Como vimos antes, em 1914,
para comprar o maquinário para a Usina foi necessário um empréstimo
hipotecário.
Henrique Hacker
Em 1920, Henrique Hacker conseguiu sensibilizar
alguns empresários paulistas, inclusive o então Presidente (Governador) de São
Paulo, Altino Arantes, a investirem
no negócio.
Capa do Relatório do prefeito Curt Hering de 1925, que fala sobre
a Força e Luz;
Foi fundada então, em maio
de 1920, a Empreza Força e Luz Santa
Catharina S/A.
Nas suas memórias, Henrique
Hacker lamenta não ter recebido, na ocasião, apoio dos blumenauenses; por isso
buscou ajuda e recursos com seus amigos paulistas.
Em 12 de agosto de 1922, a
Usina Hidroelétrica de João Bauer, localizada em Brusque, foi vendida à Empreza Força e Luz Santa Catharina de
Blumenau , cuja sede ficava em São Paulo, obrigando-se os compradores a
respeitar o contrato celebrado por João Bauer com a Superintendência brusquense em 1912, ou seja, garantir o
fornecimento de energia elétrica a Brusque.
Em março de 1924, em razão
do grupo paulista não se interessar muito em melhorar e aumentar as instalações
da Usina do Salto, algumas empresas e empresários de Blumenau e Brusque adquiriram as ações da Empreza Força e Luz,
entre eles o então Superintendente (Prefeito) de Blumenau, Curt Hering,
Foi transferida então, de
São Paulo para Blumenau, a Administração
da Empreza Força e Luz Santa Catharina S/A.
No Relatório
da Gestão dos Negócios do Município de Blumenau do ano de 1925,
apresentado ao Conselho Municipal pelo Superintendente Curt Hering, existe um
tópico que trata da luz elétrica no Município..
Mantendo a ortografia da
época, o documento diz o seguinte:
“FORÇA E LUZ
A Empreza Força e Luz Santa
Catharina no anno de 1925 desenvolveu-se
regularmente. Foram ligadas as linhas novas entre a Usina e a Povoação de Jaraguá, com 53 km, e entre Indayal e
Warnow com 8,4 km. Foram construídas mais 16
subestações novas e foi encommendada a terceira turbina com potência de
2000 HP que será fornecida ao fim do
anno de 1926.
No anno de 1925 a Usina produziu 5.300.000
kilowathoras.
O consumo de força e luz
dava uma receita de Rs. 484.444$490 sendo 47,5% de consumo de força e 52,5% de
consumo de luz. Foi pago um dividendo de 7% sobre o capital em acções.
Estão projectadas novas
ligações de grande importância, as quaes darão
a possibilidade de approveitar a
força do rio Itajahy além dos Municipios e Districtos até hoje ligados.
Provou-se que a acquisição
das acções da Empreza pelos capitalistas e industriaes deste Estado e a
transferência da administração de São Paulo para Blumenau foi de grande valor para os consumidores e a Empreza. Não
pode restar dúvida que a Empreza vai progredir
constantemente, desenvolver e animar a vida industrial e econômica em
zona relativamente extensa.”
SURGEM NOVAS
USINAS E A FORÇA E LUZ É INTEGRADA À CELESC
Até 1949 a Usina do Salto
(que alguns tratam apenas como Usina Salto), atendia toda a demanda do Vale do
Itajaí: 6.800 Kw, segundo Mailer.
Para aumentar a capacidade de fornecimento de
energia elétrica à região foram construídas mais duas Usinas no Vale: a Cedros , que entrou no Sistema do Salto em
março de 1949, e posteriormente a Usina Palmeiras, ambas no Município de Rio
dos Cedros, constituindo-se esta última na terceira usina da Empresa Força e
Luz.
Mesmo assim, nos anos
50, Blumenau e os Municípios do Vale
enfrentaram duro racionamento de energia elétrica.
A oferta de energia não
acompanhava o crescimento empresarial das nossas cidades, afugentando a criação
de novas e grandes indústrias. Houve época em
o consumidor recebia apenas seis horas de energia por dia.
As Usinas Cedros e Palmeiras amenizaram o problema, mas ele só foi resolvido, paulatinamente, com a integração da Empresa Força e Luz à
Celesc – Centrais Elétricas de Santa Catarina, o que só ocorreu em 27 de
dezembro de 1963, quando foi autorizada pelos acionistas da Empresa Força e Luz
a encampação da empresa blumenauense pela
Celesc.
A Celesc havia sido
criada em 9 de dezembro de 1955, através do Decreto Estadual nº 22 , do então Governador Irineu
Bornhausen, tendo sido instalada oficialmente em Assembleia Geral realizada no
dia 4 de agosto de 1956.
Udo Deeke, ilustre
blumenauense que ocupara o cargo de Diretor Gerente da Empresa Força e Luz no
período de 1947 a 1964, pela sua experiência no setor, foi convidado a exercer as funções de Administrador
Regional da Celesc em Blumenau,, o que fez até aposentar-se, em 1978.
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Fontes:
História de Blumenau - José Ferreira da Silva - Editora Edeme, 1972.
Blumenau – Arte, Cultura e as Histórias de sua Gente - Edith
Kormann, - Paralelo 27 Editora, 1994.
Relatório de 1925 do
Município de Blumenau apresentado pelo Superintendente Curt Hering – Typ.
Baumgarten - 1926
Blumenau em Cadernos:
Tomos I (1957), III (1960), IV (1961), VIII (1967),
XIV (1973),
XXVII (1986) e XXX (1989).
Revista “O Vale do Itajaí”
nº 64 – Edição Especial Centenário de Blumenau – 02/09/1950.
Texto Carlos Braga Mueller/ Fotos Adalberto Day/Clic RBS/Carlos Braga Mueller.