Por Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor
O Pastor protestante Gustav Stutzer chegou a Blumenau em 1885 e ficou apenas dois anos por aqui. Comprou terras do Dr. Blumenau, não conseguiu pagá-las, enfim, provocou muitas dores de cabeça para o fundador.
Mas neste
curto espaço de tempo conheceu profundamente a vida e o povo de Blumenau e no
seu retorno a Alemanha escreveu muitos livros, alguns
contando suas experiências na América do Sul.
No livro
“In Deutschland und Brasilien” ele descreve uma conversa íntima, e áspera, que
teve com o naturalista Fritz
Müller.
Johann
Friederich Theodor Müller, ou
simplesmente Fritz Müller, se mudara da Alemanha para Blumenau a fim de pesquisar a floresta
tropical. Estudioso, ajudou Darwin a elaborar sua tese sobre “a origem das
espécies”. Era um homem de difícil diálogo, mal humorado, segundo Stutzer. O
Pastor o procurou e conseguiu chegar
ao seu gabinete de trabalho. A primeira pergunta do naturalista foi seca:
- O
senhor não teve medo de me procurar ?
- Medo
por quê? respondi. Não tenho medo de homem nenhum.
-
Deveras? O senhor teria procedido melhor se tivesse medo do Dr. Blumenau e tivesse ficado na Alemanha. Eu sei
que o senhor é um ortodoxo (pastor protestante) e eu odeio essa gente.
Stutzer
retrucou:
- Sei que
o senhor é um naturalista célebre, cujas pesquisas e resultados respeito
plenamente, mas cujas conclusões filosóficas, entretanto, não valem nada.
- Não se
dê ao trabalho de querer me catequizar, disse Fritz Müller com aspereza. Não
creio naquilo que o senhor chama de Deus. E o que classifica de espírito não
passa de funções do cérebro. E o que entendem como pecado são puras ilusões. Eu
não necessito de um salvador e digo como Voltaire: tudo é matéria.
Stutzer
escreveu que este palavreado oco não o impressionou e lhe veio à mente o
versículo do salmo: “Os tolos dizem em seu coração: Deus não existe !”
E
respondeu então a Fritz Müller:
- O
senhor vai além das atitudes de Darwin, que é amigo e patrocinador de missões
cristãs entre os gentios e pagãos, ao que o naturalista retrucou:
-
Isso são remanescentes ridículos da sua educação inglesa.
Evitando
continuar com o difícil diálogo, Stutzer encurtou a conversa:
- Eu vim
aqui apenas para conhecer o homem desta comuna mais conhecido no mundo. A sua
reação violenta, Dr. Müller, mostra que, no íntimo, o senhor ainda não está
perfeitamente convencido.
E dizendo
isto, Stutzer despediu-se.
(Fonte: Blumenau em Cadernos, Tomo VI, nº 3)
Publicada na Revista Bela vida – Junho/2015
(Fonte: Blumenau em Cadernos, Tomo VI, nº 3)
Publicada na Revista Bela vida – Junho/2015
Para o ano de 1885, um encontro impressionante. Até hoje temos os evangelizadores e os ateus, repetindo a mesma discussão.
ResponderExcluirMeu caro Adalberto,
ResponderExcluirPercebi neste texto que na referida época as pessoas tinham que ser mais enérgicas, pois já naquele tempo esistia a lei da sobrevivência, entretanto havia muito respeito também. Mais um bela história, parabéns.
Mesmo em épocas tão diferentes e distantes no tempo, as pessoas continuam com as mesmas discussões a cerca de algo que não percebem devido a sua estreiteza de pensamentos. De um lado o naturalista cético que, a pesar de sua inteligencia e proximidade com a natureza, a observa de sua janelinha embaçada de conceitos pré concebidos que às vezes dizem mais respeito a vivências traumáticas do que percepções da realidade. De outro, aquele velho personagem - o religioso - tentando equilibrar a frieza da percepção puramente materialista da vida, mas sem trazer argumento melhores. O que não ganharia o gênio se percebesse que a inteligencia não é o cérebro e suas funções orgânicas, mas o cérebro é o reflexo de uma inteligencia que existe também fora de nós e que a evolução da vida a fez manifestar no ser humano em pequena escala. Sem esta inteligencia - Sábia Natureza - que comanda a tudo com perfeição seria impossível existir a organização que cientista esquadrinha e que o religioso contempla. Mas para isso é necessário humildade e perceber que não somos o centro do universo!
ResponderExcluir Curitiba, Paraná
ResponderExcluirAdalberto e Braga, muito bom! F. Müller tinha posições muito avançadas para época. E quem defende seus argumentos é chamado de "difícil"!
Rubens F H Sombrio
Amigo Beto, nimguem tira do meu pensamento, la naquele tempo tinha gente mais inteligente que eu mas muito mais sem vegonha do minha familia, exemplo onde ficou toda a madeira de lei que aqui tinhamos? a estrada de ferro naquela época foi feita para turismo? ou para roubar toda a madeira que existia? e as Pinheiral do Parana onde estão?, mas eu ainda sou fan do Sr, Fritz Muller um homen de grande conhecimento em sua função. Viva ele.abraços Valdir Salvador
ResponderExcluirAdalberto Day
ResponderExcluirFantástica história
Andre roepcke
Blumenau, Santa Catarina
ResponderExcluirAdalberto e o Facebook me lembrou que ontem fez três anos daquele teu discurso FANTÁSTICO na final da GCB2012. Gincana Chorei muito, emocionou.
Bruna Xavier
Caro Adalberto amigo Adalberto.
ResponderExcluirEntendo que se trata de confronto entre pessoas que além de ilustres têm personalidades antagônicas.
Adalberto creio que para analisarmos conceitos que divergem sobre assuntos subjetivos, somente pessoas com conhecimentos, em filosofia, sociologia e historiador como você poderá melhor definir qual dos conceitos poderá nos trazer algo mais real.
Ficou claro que o Fritz Muller, além de ser um dos participantes da equipe de Darwin, era ateu convicto e adepto a teoria das origens das espécies e o outro Gustav Stutzer. Ambos pelo que se vê no texto, eram de difícil dialogo, diria até sem educação e faltava com respeito entre ambos.
Para dirimir as teorias melhor seria que ambos seguissem o Salmo 133 que prega a união entre os irmãos:
" Oh quão bom e quão suave é que os irmãos convivam em união, é como o orvalho de hermão que desce sob a barba de Ararão, e sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a vida para sempre, amem."
De qualquer forma a matéria é muito interessante, e você está de parabéns.
Um abraço
Lourival Barreira.