NO
TEMPO DAS "CALEÇAS" FÚNEBRES
Por Carlos Braga Mueller/Jornalista e
escritor em Blumenau
Houve um tempo em que os mortos em
Blumenau eram conduzidos para sepultamento em caleças¹ fúnebres, ornamentadas com cortinados e puxadas a
cavalo.
Guardando a cor preta, estas caleças
eram conduzidas por um boleeiro
que ostentava sempre um terno escuro. A parelha de cavalos era preta e os cavalos
ornamentados com penachos pretos.
No teto da caleça, na parte central,
despontava uma cruz.
Esta simbologia, criada para levar aos
cemitérios os entes queridos, não era exclusividade de Blumenau onde, em nossa
infância, assistíamos com certo medo a passagem dos cortejos fúnebres.
Outras cidades, como São Bento do Sul
e Pomerode, possuíam também suas caleças no mesmo estilo, que
presume-se tenham tido inspiração europeia.
Na maioria dos municípios, onde
predominava a área rural, a denominação desse transporte era "carroça fúnebre"; em Blumenau
ficou conhecido como "caleça".
Nos velórios, era comum alguém indagar:
- A que horas chega a caleça?
Estas conduções cumpriram com suas
finalidades até por volta de 1960, em alguns lugares até os anos 19(70), quando
foram substituídas por veículos a motor, as camionetes funerárias muito menos
pomposas, geralmente na cor cinza, ou preta, ostentando uma simples
cruz nas portas do veículo para indicar sua missão.
Como os cavalos conduziam a caleça em
passo de trote, ficava fácil aos parentes e amigos da pessoa falecida
acompanhar a pé o cortejo. Logo depois da caleça vinham os familiares, vestidos
de preto. Em seguida algumas carpideiras²
davam o toque de choro ao adeus. E finalmente o povo vinha atrás. Eram raros os
veículos particulares que acompanhavam os féretros.
A caleça seguia silenciosamente e ao seu
redor eram penduradas as coroas fúnebres, homenagens ao falecido.
Vez por outra, se o falecido fosse
importante, um ônibus acompanhava o cortejo levando quem não conseguia
locomover-se com as próprias pernas até o cemitério.
Quando o cortejo fúnebre passava, as lojas cerravam as portas e
logo depois reabriam. Sinal de respeito ao cidadão (ã) que partia.
PERSONALIDADES
Velório do Dr. Amadeu da Luz
Amadeu
Luz, ilustre blumenauense, filho de Hercílio Luz, foi levado até a sepultura em caleça puxada a
cavalo.
Seu sepultamento ocorreu no dia 2
de setembro de 1934 (dia do aniversário do município).
Foi velado na Prefeitura de Blumenau
(prédio onde hoje funciona a Fundação Cultural de Blumenau). O féretro seguiu
pela Rua 15 de Novembro em direção ao cemitério da Rua São José.
Além do acompanhamento tradicional,
houve presença de um pelotão formado por integrantes do Partido Integralista
Brasileiro (foto), que desfilou com suas camisas verdes em homenagem ao falecido.
Outro ilustre blumenauense que teve seu
corpo trasladado por caleça foi Armando Silva, proprietário do Café Urú, como
relembra Adalberto Day.
Foto do Artur Moser, publicada no Jornal de Santa Catariba, mostrando uma caleça que está no Museu Pomerano.
Em Pomerode, Egon Tiedt, colecionador
de peças e documentos antigos, fez questão de dizer que queria ser
transportado, quando morresse, na caleça que era propriedade da família. Foi
atendido.
Esta caleça (foto) encontra-se
exposta atualmente no Museu Pomerano, mantido pela Prefeitura do Município,
sucedâneo do Pommersches Museum, de Tiedt, que transferiu quase todo seu acervo
particular ao poder público municipal de Pomerode.
A caleça, ou carroça fúnebre, começou a
ser utilizada naquele município em 1954 e durante 20 anos serviu à comunidade.
Depois de aposentada, a caleça só foi ativada em fevereiro de 2008, para levar
Tiedt até sua última morada. Recuperada, está no Museu.
Em São Bento do Sul,
uma caleça fúnebre construída em 1934 encontra-se atualmente
exposta ao público em um abrigo de alvenaria que a prefeitura construiu na
entrada do cemitério municipal daquele município.
Ela foi encomendada a alguns artesãos e
profissionais são-bentenses pelo sapateiro Frederico Fendrich, que foi a
Joinville, onde fotografou a carroça fúnebre da Funerária Stoll para servir de
modelo ao seu projeto.
Lenda
Urbana ou fato real?
Conta-se que em Blumenau, durante um
cortejo fúnebre puxado a caleça, que se dirigia ao cemitério evangélico, houve
um fato inusitado.
Quando descia a Alameda das Palmeiras, em
direção ao cemitério evangélico, alguém soltou um foguete por perto.
Assustados, os cavalos empinaram e só
não dispararam pela perícia do boleeiro condutor.
Todavia, o caixão caiu da caleça, sua
tampa soltou-se e o morto foi jogado ao chão.
Constrangimento total!
Piedosos, os acompanhantes recolocaram o
cadáver no lugar e o cortejo seguiu em frente.
Contavam os mais antigos que esta
história aconteceu nos anos 20 ou 30 do século passado na então pacata
Blumenau.
Nota
Final:
Esta matéria nasceu de uma sugestão do
nosso internauta e amigo Ivo Hadlich.
Adalberto Day também tinha intenção de
reportar-se ao assunto.
O mesmo acontecia comigo, até pelas
lembranças daqueles cortejos que eu via passar pela Rua 15 de Novembro quando
era criança e que tanto nos assustava.
Resolvi, então, contar alguns fatos e
assim surgiu esta postagem.
(Carlos Braga Mueller) jornalista e
escritor.
¹Caleça : Carruagem de tração animal (cavalo) montada sobre quatro rodas,
tendo à frente um assento de encosto móvel e atrás uma capota conversível;
caleche.
²Carpideira é uma profissional feminina cuja função consiste em chorar para um defunto
alheio.
Muito bom o registro da história deste meio de transporte com tração animal que fez parte da nossa tradição. Como a casa de meus pais era na rua do cemitério (Rua São José) em Blumenau, foi sempre uma atração ver passar os cortejos fúnebres pela rua.
ResponderExcluirJosé Geraldo Reis Pfau
Publicitário.
Olá, belo registro. Segue mais uma foto de Calessa (com 2 esses ou com cedilha?) em Indaial.
ResponderExcluirhttp://www.indaial.com.br/saudosa-indaial/2013/4/23/1944-calessa-carro-funebre
Que pompa e circunstância, meninos.
ResponderExcluirSe o Caymi tivesse nascido por aqui ele teria feito sua canção com a seguinte letra: "Como é solene morrer em Blumenau".
Abraço de boa semana.
AS
ACHEI MUITO BOM ESTE ARTIGO.NÃO VI NENHUM CORTEJO FUNEBRE ASSIM,SÓ EM FILMES.O QUE LEMBRO É QUE POR ONDE PASSAVA O CORTEJO O COMERCIO FECHAVA AS PORTAS EM RESPEITO.
ResponderExcluirPARABÉNS MAIS UMA VEZ.
ABRAÇOS GASPARENSES
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirJá devo estar tornando-me muito repetitivo em meus comentários, mais não tem outro jeito.
É sempre muito bom conhecer um pouco da nossa historia, pois além do fato inusitado de cair o caixão , e consequentemente o falecido ficar ao solo, para a época deveria ser realmente muito constrangedor, todavia, nos dias de hoje rendia muita piada sobre o assunto sem duvidas. Caleça, eu lembro dos automóveis (veraneio)deste tipo que esta ilustrando o texto, sem duvidas é notável, parabéns pelo texto.
OI Beto tudo legal, pois é nos eramos do tempo da calece, que praticamente era para os mais bem posissonadospois eu se não me engano acompanhavamos o morto levando o caixão não era? quando passava todos tiravam o chapéu com respeito e o comercio fachava sua portas depois de ouvir as batidas do cino da Igreja que dava o sinalde saida, quando eu vim morar no bairro da ponta aguda eu lembre de uma cerimonia funeral que era do pai da dona Muche, as duas irmãs, que eram donas do Bar e Café Florida o cortejo funeral ia em sua frente ema banda de Musica com ritimo funeral,era triste mas éra lindo de ver pois nossa ida final não deve ser de tristeza nos temos que ser lembrado sempre com a alegria que tinhamos quando em vida, abraços Valdir Salvador Em Tempo Feliz Dias dos Pais a Todos.
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ResponderExcluirQuanta coisa curiosa e interessante se assistia há anos atras. Essa caleças eram realmente muito comuns em Blumenau, e, realmente, quando passavam pelo centro da cidade chamavam a atenção do povo. Perguntava-se, de quem é o enterro hoje? Hoje acontece o falecimento, muitas vezes de um amigo ou conhecido e só se vai saber mais tarde. É a vida...
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