No último
dia 15 de fevereiro 2014, em passeio turístico à bela cidade de Itajaí,
conhecemos a Casa da Cultura Dide Brandão, cujo nome homenageia o artista
plástico itajaiense José Bonifácio Brandão (1924-1976). O edifício, inaugurado
em 04/12/1913, foi construído para abrigar o Grupo Escolar Victor Meirelles.
Seu nome lembra a memória do importante pintor e professor catarinense Victor
Meirelles (1832-1902), autor, entre outras obras, de “A Primeira Missa no
Brasil”.
Foto batida no dia 15/02/14
O conceito arquitetônico do edifício, com alas separadas para o
público masculino e feminino, salas de aula ao longo das extremidades e grande
pátio no centro, imediatamente nos fez recordar do Grupo Escolar Luiz Delfino,
de Blumenau, fato que nos motivou a publicar algo sobre este nosso importante
educandário que, ao apagar das luzes do ano de 2013, comemorou 100 anos de
existência.
Foto 1 – Grupo
Escolar Luiz Delfino – década 1910
De fato
há muito em comum entre as duas escolas e isto não é obra do acaso. Inauguradas
no mesmo mês, foram ambas concebidas no contexto de uma reforma do ensino
público levada a cabo pelo então Governador Vidal Ramos (1866-1954). Pequenas
escolas públicas, até então dirigidas por apenas um professor, foram fechadas,
e seus professores integrados, após um processo de avaliação, ao quadro docente
das novas escolas, de maior porte. Demonstra a afinidade entre as duas escolas,
o fato de terem vindo, a fim de prestigiar a inauguração do Grupo Escolar Luiz
Delfino, em 31/12/1913, alguns professores e 24 alunos de seu educandário-irmão
da cidade de Itajaí, o Grupo Escolar Victor Meirelles.
Foto 2 – Grupo
Escolar Victor Meirelles – Itajaí/SC
Nas
palavras do saudoso memorialista Dr. Niels Deeke (1937-2013), “majestoso,
impunha-se à visão, o imponente prédio do Grupo Escolar Luiz Delfino,
construído em 1912/1913 e inaugurado em 31/12/1913, tendo sido criado através
do Decreto No. 614, de 12/9/1911.” Passou por diversas reformas posteriores e
possuía um imenso pátio interno, bem como um aprazível campo de esportes,
instalações que pessoalmente desfrutamos (Adalberto Day) por um ano em 1966,
quando cursamos o 1º ano do antigo Ginásio. O Grupo Escolar Luiz Delfino
funcionou na praça Victor Konder até 16/11/1968, quando foi demolido e
transferido para as novas instalações na Rua São José, 222, com o nome de E. E.
B. Luiz Delfino.
Foto 3 – Hotel
Esperança e Grupo Escolar Luiz Delfino, ao fundo – década 1920
No
entorno de todo este complexo territorial havia uma extensa praça, belamente
arborizada que, devido ao seu tamanho, pode comportar com folga, em 1893/1894,
o acampamento do Estado Maior das forças legalistas sob o comando do General
Lima e seu acompanhante, o senador José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915).
Estavam perseguindo, durante a Revolução Federalista, as tropas do
maragato Gumercindo Saraiva (1852-1894),
conhecido como o “Napoleão dos Pampas”). Seguiam com ele seu irmão Aparício Saraiva
(1854-1904), o Coronel Jose Serafim de Castilhos (1844-1903), também chamado
“Juca Tigre”, o médico Ângelo Dourado (1857-1905) e outros. O logradouro hoje
se encontra reduzido a diminutas dimensões, onde um Pau Brasil sombreava o
busto do ilustre político catarinense, Victor Konder (1886-1941), Ministro da
Viação, entre 1926 e 1930, do governo de Washington Luís.
A vasta
área, de 4000 m2, localizada defronte à antiga casa comercial de Oscar Rüdiger,
pertenceu ao arquiteto Henrique Krohberger (1836-1914), autor, entre outros,
dos projetos das primeiras igrejas e da antiga prefeitura de Blumenau, de quem
foi adquirida pelo Governo Estadual em meados de 1912. Nos anos 1964/65 foi
denominada “Centro Cívico” e conteve ainda parte de sua casa, demolida na década
de 1980 para dar lugar a um estacionamento de veículos. O “Centro Cívico” foi
um projeto do ex-Prefeito Hercílio Deeke (1910-1977), assinado pelo arquiteto
Hans Broos (1921-2011), prevendo a construção de diversos edifícios ligados à
administração pública, à justiça, etc. Do projeto original foi construído
apenas o Fórum, transferido para instalações maiores, próximo ao Parque Ramiro
Rüdiger, no ano 2000. O antigo prédio, porém, ainda existe. Posteriormente foi
construída também uma nova prefeitura, inaugurada em 1982, mas com projeto
arquitetônico completamente distinto do originalmente previsto. Em terreno
adjacente existiu a Fábrica de Lacticínios Blumenau ou Companhia Blumenauense
de Laticínios, empresa fundada em 1911 pelos associados Alwin Schrader e Luiz
Altenburg, bem como a antiga estação ferroviária de Blumenau.
Foto 4 – O Grupo
Escolar Luiz Delfino e seu entorno – década de 1950
O Grupo
Escolar Luiz Delfino, como seu educandário-irmão de Itajaí, homenageia um
catarinense ilustre. Luiz Delfino nasceu em Desterro, atual Florianópolis, em
25/9/1834, filho de Thomaz dos Santos e Delfina Vitorina dos Santos. Formou-se
em Medicina no Rio de Janeiro em 1857, tendo sido também poeta e político.
Senador na primeira república, seu nome permanece imortalizado pelas obras
poéticas publicadas, principalmente, na imprensa carioca. Algumas de suas obras
são: Poemas (1928), Algas e Musgos, Poesias Líricas, Íntimas e Aspasias (1935),
A Angústia do Infinito (1936) e Rosas Negras (1938). Faleceu no Rio de Janeiro
em 31/01/1910.
À
Inauguração do Grupo Escolar Luiz Delfino, às 16h30 de 31/12/1913, fizeram-se
presentes o representante do governador Vidal Ramos, desembargador Navarro
Lins, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Presidente da Assembleia
Legislativa, Sr. Fúlvio Aducci, além de outros, que viajaram de automóvel de
Florianópolis na véspera, numa viagem que durou 10 horas. Os professores e
alunos do Grupo Escolar Victor Meirelles, já citados, chegaram pouco antes da
inauguração, a bordo do Vapor Blumenau. Estes últimos, bem como os alunos do
Grupo Escolar Luiz Delfino, estavam todos vestidos de branco. O ato foi
abrilhantado pela orquestra da Família Bernhardt, que estava realizando
concertos em Blumenau. A festa começou com o Hino do Estado, teve dezenove
apresentações dos alunos e foi cantado o Hino Nacional. Discursou o professor
Orestes Guimarães, elogiando as medidas do Governador Vidal Ramos visando
melhorar o ensino público do Estado.
As
atividades de 1914 iniciaram em 02 de março com 182 alunos – 77 meninos e 105
meninas –, divididos em 08 classes. Foi seu primeiro diretor Arlindo Lopes
Chagas, ex-diretor do Grupo Escolar Silveira de Souza, de Florianópolis, construído
no mesmo conceito arquitetônico do Victor Meirelles e do Luiz Delfino. Foram seus
primeiros professores Carlos Techentin e Antônio Fiorezado, para o curso masculino,
e Ascendina Brazinha (Accindina Dias?), Ana Hager, Margarida Freygang e Martha
von Frankenberg, para o curso feminino. Em 1916, o professor Carlos Techentin,
formado professor normalista, foi nomeado seu diretor. Também foi seu diretor,
em período que não nos foi possível apurar, Antônio Cândido de Figueiredo,
prefeito de Blumenau nos anos 1931 e 1932. A professora Margarida Freygang era
anteriormente regente de uma escola pública feminina, uma das duas escolas
públicas de Blumenau fechadas pelo Decreto No. 761, de 16/11/1913. Para marcar
o início do ano letivo de 1914, foi realizado, em 10/3, um piquenique ao salto
da propriedade de Gustavo Dittrich, localizada no bairro Ribeirão Fresco.
Foto 5 – Piquenique
dos alunos em 10/3/1914 – Ribeirão Fresco
O
professor Orestes Guimarães foi figura marcante na vida do Grupo Escolar Luiz
Delfino. De acordo com a professora Gladyz Mary Ghizoni Teive, da Universidade
Federal de Santa Catarina, Orestes Guimarães foi contratado por Vidal Ramos em
São Paulo para proceder a reforma do ensino em Santa Catarina, atividade que
desempenhou de 1911 a 1935. No período 1918 a 1930 vemo-no na condição de
Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas pela União. Residiu em Blumenau com
sua esposa Cacilda até aproximadamente 1930. Consta que não deixou descendência.
Foto 6 – Prof.
Orestes Guimarães com a aluna Hertha Meyer
O ensino
parece ter sido divido em duas etapas: Curso Preliminar e Curso Complementar. O
tema requer estudos comprobatórios, mas tudo indica que equivaleriam àquilo que
mais tarde conhecemos como Ensino Primário (1º. ao 4º. Ano) e Ensino Ginasial
(5ª. à 8ª. Série). Credita-se aos alunos do Curso Complementar a confecção de
um jornalzinho manuscrito e mimeografado, de 04 páginas, chamado “Bem-te-vi”,
que se apresentava como ‘periódico semanal, jornal crítico e humorístico’.
Parece ter surgido em maio de 1923 e consta ter tido vida curta. Como outros
educandários, também o Grupo Escolar Luiz Delfino tem uma fanfarra, tendo esta
sido fundada pelo Prof. Marcílio no ano de 1948.
Foto 7 – Boletim do
aluno Max Altenburg – Curso Preliminar – 1918
Muitos
blumenauenses fizeram seus estudos no Grupo Escolar Luiz Delfino. Para citar
apenas alguns que são de nosso conhecimento, apontamos o ex-prefeito Evelásio
Vieira (1925 – 2004), que lá fez seus primeiros estudos na década de 1930 e
concluiu o Curso Complementar, e o Dr. Niels Deeke, que lá cursou o 3º ano
primário em 1946. Um belo relato das memórias da passagem do Sr. Laércio Cunha
e Silva pelo Luiz Delfino foi publicado no JSC em 02/9/2000, no contexto dos
festejos dos 150 Anos de Blumenau. O teor deste texto, postado neste blog em
27/02/2013, pode ser verificado em
Hoje,
passado um século de sua inauguração, o Luiz Delfino segue sendo um dos
importantes educandários estaduais do município de Blumenau.
Logotipo
da E. E. B. Luiz Delfino
_________________
Crédito das imagens:
Fotos 1, 3, 4 e logotipo: acervo de Adalberto Day; Foto 2: www.diarinho,com.br; Foto 5: acervo de Ralf Marcos Ehmke;
Fotos 6 e 7: acervo de Dieter Altenburg.
Texto: Wieland
Lickfeld com colaboração de Adalberto Day.
Fontes: memorialista Dr.
Niels Deeke (in memoriam); site do Arquivo
Histórico José Ferreira da Silva; www.facebook.com.br (Grupo Antigamente
em Blumenau); livro “A Imprensa em Blumenau”, de José Ferreira da Silva (1977)
e www.wikipedia.com.br
Nossa muito legal, Beto!!! Viagem ao tempo... Abraço :)
ResponderExcluirAdalberto
ResponderExcluirFantástico, lembrei do meu primário (assim chamávamos) no Luiz Delfino, não no antigo, mas no atual. Bacana ! Abraço !
Allan Jurk
Adalberto!
ResponderExcluirAo abrir a foto enviada, e sem ler o que estava escrito embaixo, logo imaginei: “Que semelhança com o Victor Meirelles, onde estudei como criança. Certamente o Governo construiu escolas em série, uma igual a outra...” Mas depois, fui saber tratar-se do antigo V.M., que os estudantes mais recentes chamam de Vaca Malhada.
Abrs/GD
Parabéns Adalberto,
ResponderExcluirconheci mais um pouco da história de Blumenau e região.
Vale registro a importância que Vidal Ramos deu para a educação e a contração de professores.
Esse trabalho de Vidal Ramos deveria ser mais reconhecido.
Abração e muito obrigado por mais essa luz.
Valter
Adalberto- Linda foto.A sala que aparece de FRENTE, no topo da escada onde se cantava todo sábado o hino Nacional, era a de minha sala onde eu fiz o 2º ano primário com a Professora Da.Carmem...Lembro-me em 1954 quando fomos fora de hora chamados todos para nos perfilarmos, ao som do Hino, enquanto a Diretora(Da.Antonia Emília) informava a morte de Getúlio Vargas....A foto é REPLICA PERFEITA do Grupo Escolar Luiz Delfino.Inclusive os porões....Antes de perceber que se tratava de outro colégio, com a mesma PLANTA, estranhei os prédios no fundo...Em frente ao Colégio haviam 2 arvores de Pau Brasil que acho ainda existem e uma Banca MIRO onde se compravam as primeiras figurinhas de coleção...Grandes lembranças...São simplesmente 60 anos....
ResponderExcluirJames Locatelli
Professor Adalberto,
ResponderExcluirBelíssima recordação tive agora, ao ler sua matéria sobre o Colégio Luiz Delfino. Eu e toda Família Bremer tivemos a honra e o privilégio de estudar neste educandário.
Lembro-me com muito carinho da Diretora, Sra. Ludmila Isabel Eing e alguns de meus Mestres.
Parabéns por manter viva a memória Blumenauense!
Mauro Rafael Bremer.
Sr. Adalberto !
ResponderExcluirFiquei impressionado com a abrangência da matéria, alcançando até a Revolução Federalista. Muito interessante todas as novidades abordadas, inclusive que o colégio era originalmente em outro lugar. O projeto do centro cívico também chama a atenção como um dado curioso.
Valeu, parabéns pela ótima matéria, abs, Theodor.
Meu caro Adalberto e equipe, como sempre mais um belo texto, texto este que nos enriquece de conhecimentos.
ResponderExcluirApesar de não ter estudado em tal colégio citado no texto, sempre temos que ressaltar nossas escolas na historia da cidade, sejam municipais ou estaduais , pois as mesmas fazem parte importante do crescimento cultural da nossa gente.
Parabéns.
Pois.é, Ca estamos novamente com as mais belas lembranças, de nossa vida de nossa infancia, de vitoria escolar, que uma parte foi realmente no Grupo Escolar Luiz Delfino, que na epoca para me diregir a escola tinha que passar sobre o leito da estinta Estrada de ferro,passar por dentro do tunel ir pela lateral da ponte que era uma passagem perigosa pela mau manutenção,imagina a aflição de minha querida Mãe ate minha volta, o amigo James Locateli um abraço a ele fez eu lembrar da professora dona Carmen que quando tinha que nos reepreender era a base dos beliscoes no braço mas eu a perdoava pois o culpado era realmente eu, e ela era uma otimo educadora, nesta época começou na hora do recreio a servir a deliciosa sopa e a caneca de feijão feito pela servente dona mercedes que eu adorava,lembro tambem que estudei um ano no Colegio Santos Dumontd no Bairro do Garcia e na escola da dona Julia na rua da gloria tambem no Garcia. chega abraços a voce familia e todos os seus simpaticos leitores.Valdir Salvador.
ResponderExcluirJÁ VI QUE REMEXEU COM O SAUDOSIMO DE MUITA GENTE. EU TAMBÉM ESTUDEI QUANDO PEQUENA NO ELISEU GUILHERME EM IBIRAMA E O PÁTIO ERA QUASE IGUAL.ALI FICAVA O MASTRO E AOS SABADOS ERA HASTEADA A BANDEIRA NACIONAL ENQUANTO CANTAVAMOS O HINO. DEPOIS MUITOS VERSINHOS ERAM DECLAMADOS PELAS CRIANÇAS.PARABÉNS MAIS UMA VEZ SR ADALBERTO DAY.ABRAÇOS GASPARENSEDA ARLETE TRENTINI DOS SANTOS
ResponderExcluirParabéns novamente Beto.
ResponderExcluirNeste Luiz Delfino minha mão Maria de Lurdes foi professora tendo a oportunidade de ter como alunos pessoas importantes na nossa cidade como Evilásio Vieira (Lazinho).
Na época o centro da cidade teria grande destaque na região até pela estação ferroviária próxima.
José Geraldo Reis Pfau
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Beaco Vieira
ResponderExcluirEstudei no Luiz Delfino do primeiro ao quinto ano.
A diretora era a Ludmila.
A professora Jacina, punia os alunos " levados " com reguadas na palma da mão.
Meu saudoso irmão Lazinho, quando estudante plantou a frondosa Árvore de Pau Brasil.
Depois, como prefeito eleito de Blumenau, visitava regularmente a Escola.
O Estado deveria ter mantido o espetacular prédio arquitetônico...