BLUMENAU
NA HISTÓRIA DA AVIAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA
Mais uma participação do Escritor e Jornalista
Carlos Braga Mueller
Que hoje nos relata sobre o quanto Blumenau
contribuiu com a aviação comercial brasileira.
Primeiro, através de um ilustre conterrâneo
catarinense, Victor Konder, advogado que morava em Blumenau na década de
20 do século passado e que havia assumido o Ministério da Viação e Obras
Públicas no governo do presidente Washington Luiz.
Legenda:
Victor Konder morava em Blumenau e era Ministro da Viação e Obras Públicas. Foi
ele que formalizou a primeira concessão de um vôo comercial no Brasil, em 1927.
Segundo: pelos céus de Blumenau voou o
primeiro avião a ser utilizado em rotas comerciais no Brasil, o hidroavião
“Atlântico”, em viagem que foi inclusive filmada por um cinegrafista carioca,
de dentro do avião, mostrando a bucólica Blumenau de 1927, com as curvas
sinuosas do Itajaí-Açú vistas lá de cima, uma verdadeira preciosidade
histórica.
Como foi que tudo aconteceu?
Foto do Hidroavião Atlântico.
Legenda: Hidroavião Atlântico, primeira aeronave para passageiros a voar nos céus do Brasil (1927).
A
LUFT HANSA E O PIONEIRISMO NOS ARES DO BRASIL
Em janeiro de 1926 foi constituída na Alemanha
a Deutsche Luft Hansa A.G., que fez uma parceria com o Condor-Syndikat,
empresa que queria explorar uma linha
aérea ligando a Colômbia aos Estados Unidos, empreendimento que não deu certo.
Na sociedade, a Condor entrou com 2
hidroaviões, um deles o “Atlantic” (depois Atlântico), que passou a fazer parte
da história da aviação brasileira.
Estas duas aeronaves foram as primeiras a
serem equipadas com poltronas para passageiros e por questões de peso as
poltronas foram fabricadas de vime.
Para mostrar a eficiência dos vôos, a Luf Hansa transportou dois
“aerobotes” Dornier-Wal, como eram conhecidos estes aviões, até Montevidéo, no Uruguai,
e foi dali que o Atlântico iniciou uma viagem até o Rio de Janeiro,
então capital da República.
A missão durou 10 dias, porque no trajeto
foram examinados os locais para os futuros pousos e decolagens. A bordo vinha o
ex-chanceler alemão Dr. Hans Luther.
Em seguida, Luther entrou em contato com as
autoridades brasileiras e foi solicitada uma autorização para se iniciar o
serviço aéreo no Brasil.
Quem recebeu o pedido na capital federal foi
o então Ministro da Viação e Obras Públicas, Dr. Victor Konder,
catarinense que residia em Blumenau, onde exercia a advocacia e estava
envolvido nas lides políticas.
A Luft Hansa ofereceu ao Ministro uma
viagem a sua escolha e ele escolheu sua terra natal, Santa Catarina .
DO
RIO A FLORIANÓPOLIS, DE HIDROAVIÃO
O hidroavião “Atlântico” permanecia
fundeado na enseada da Guanabara, Rio de Janeiro, defronte ao Iate Clube, naquela época “Yatch
Club”, a espera da viagem/teste do Ministro.
Assim, no dia 1º de janeiro de 1927 o
experiente piloto Rudolf Kramer Von
Clausbruch, vindo diretamente da Alemanha para esta missão, assumiu
o comando da aeronave, tendo como co-piloto Franz Nulle e como mecânico Max
Sauer.
O hidroavião Atlântico alçou vôo em direção a
Santos, sua primeira escala.
A bordo, além do Ministro, viajavam um
jornalista, redator do jornal “O Paiz”, um representante da Agência
Americana de Viagens e o cinegrafista Alberto Botelho, que registrou em filme os
momentos históricos da viagem.
O hidroavião desenvolvia uma velocidade de
120 km por hora.
Em Santos tripulação e passageiros fizeram um lanche e
seguiram para o sul, passando pelo litoral de São Paulo, Paraná e Santa
Catarina. Sobrevoaram Itajaí, terra natal do Ministro, e seguiram em
direção a Florianópolis, onde o Atlântico amerissou.
Foram recebidos no Palácio Estadual pelo
então Governador Adolfo Konder, irmão do Ministro.
A partir dali o Governador passou a integrar
a comitiva e a viagem prosseguiu.
O Atlântico tomou o rumo norte e
voltou a sobrevoar Itajaí, seguindo então, orientando-se pelo leito do Rio
Itajaí Açu, em direção a Blumenau, domicílio do Ministro.
O sobrevôo foi registrado pelo cinegrafista
Botelho.
Finalmente, de volta a Itajaí, o Atlântico
fez mais uma parada e a população e familiares do Ministro receberam os visitantes
com manifestações de grande alegria.
De Itajaí o Ministro seguiu por terra até Blumenau,
onde a população o recepcionou em frente ao Hotel Holetz.
Foi saudado pelo advogado Dr. Luiz de
Freitas Melro e discursou, agradecendo a acolhida. Depois levou os
visitantes até sua residência, situada na Itoupava Seca, cuja região hoje é
conhecida como bairro Victor Konder.
Por
que o Atlântico não amerissou no rio em Blumenau? Certamente por falta
de maiores informações sobre a profundidade do leito, especialmente o perigo
das pedras que até hoje estão atrapalhando a navegação.
MISSÃO
CUMPRIDA
No dia 4 de janeiro de 1927 o Dornier-Wal
realizou a viagem de regresso ao Rio, sem qualquer contratempo.
Esta viagem aérea acabou sendo considerada
como o início da aviação comercial brasileira e em sua homenagem o Correio
lançou 3 anos depois selo postal comemorativo.
As autoridades brasileiras, convencidas da
viabilidade do projeto, outorgaram a licença pleiteada pela Condor-Syndikat,
subsidiária da Luft Hansa.
A primeira linha foi implantada no Rio Grande
do Sul, entre as cidades de Rio Grande e Porto Alegre, a “Linha da Lagoa”.
Logo em seguida, no dia 3 de fevereiro de
1927, teve lugar a inauguração da primeira linha regular de transporte aéreo
cobrindo o território nacional. Mas isto já é outra história ...
Para acessar o filme realizado pelo
cinegrafista Botelho, pesquise no Youtube: “Victor Konder Do Rio a
Florianópolis de Hidroavião”. São 4 filmetes, totalizando 35 minutos de
duração.
Fontes: Primórdios da Aviação Comercial no Brasil
(Oswald Heinrich Müller), in Informativo da Sociedade Germânia/Rio, Ano 5, nº
30 – Nov/Dez 2005.
Botelho Filmes/Rio de Janeiro – Cobertura
cinematográfica da viagem do Ministro Victor Konder a Santa Catarina em 1927.
Como sempre, mais uma excelente historia que eu desconhecia....
ResponderExcluirBeto e Braga
ResponderExcluirGosto muito de saber essas coisas, admiro o seu sentimento de amor a sua Terra!!!
Marília Carqueja
Creio que seja do seu conhecimento. Um neto do Emil Odebrecht, Woldemar Odebrecht,pai do também Woldemar ,Percy e Ciro, trabalhou como comissário de bordo na Condor, lá pelos anos 40.Contam, que numa visita aos pais,deixou-os apreensivos ao comer melancia misturada com leite.Costume que viu e aprendeu nas viagens pelo norte do Brasil. Aqui era perigoso...
ResponderExcluirBelo trabalho seu e do Braga.
Blumenau,20/09/2013
Lauro Cordeiro