Texto enviado pelo escritor e jornalista Carlos
Braga Mueller
HISTÓRIAS
DO RÁDIO BLUMENAUENSE
Desde os tempos em que começou a operar
oficialmente, em março de 1936, a PRC-4 Rádio Clube de Blumenau primava em oferecer
uma programação cultural, incluindo, também, o primeiro programa falado
em alemão.
Na mesma época estavam sendo criadas no Brasil
células do NSDAP - Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães,
fundado por Adolf Hitler, que ficou mais conhecido como "partido
nazista".
A INFLUÊNCIA DA ALEMANHA NO RÁDIO EM BLUMENAU
Em 1933, quando Hitler assumiu o poder na
Alemanha, os núcleos hitleristas foram radicalmente transformados, passando a
constituir círculos, grupos, pontos de apoio, blocos e células da
"Organização do Exterior" do NSDAP.
Em Blumenau a célula foi instalada e
funcionava com grande número de adeptos, que desfilavam pelas ruas da cidade
portando bandeiras do partido estampadas com a cruz gamada, a suástica.
O NSDAP promovia a vinda a Blumenau de artistas
alemães de alto nível, inclusive da Ópera de Berlim, que se apresentavam no
Cine Busch.
Hitler estava conquistando a simpatia de grande
parte das nações, inclusive do Brasil. E as colônias alemãs de Brasil e
Argentina estavam entre as prediletas do líder nazista.
Os líderes políticos da
Alemanha reconheciam a grande importância do rádio como meio de
comunicação, e por isso pediam que nos países amigos as células formassem
"grupos de escuta", chamando a atenção para as irradiações da
emissora alemã em ondas curtas de Berlim, cujos noticiários deveriam ser
sistematicamente divulgados.
A histeria do partido nazista era tão grande que
recomendações especiais foram expedidas para que os alemães e seus
descendentes só adquirissem aparelhos de rádio de fabricação alemã, porque,
diziam eles, "a palavra do "fuehrer" só deveria ser escutada num
rádio alemão" !
De olho nos programas de rádio, as células
nazistas do sul do Brasil logo se aproximaram das rádios que estavam ao seu
alcance, conquistando valiosos espaços nas programações para difundir as
ideias nazistas.
Isto aconteceu em Porto Alegre, com a Rádio
Farroupilha, e em Blumenau com a PRC-4 Rádio Clube.
Em uma "circular reservada" datada de
26 de janeiro de 1936, o encarregado de Rádio da célula nazista de Blumenau
comunica aos dirigentes do partido no município que a Rádio Farroupilha de
Porto Alegre está irradiando todas as semanas um programa de 15 minutos
elaborado pelo partido (Circulo V), e pede que todos escrevam para aquela rádio
elogiando o programa.
Em outro tópico da circular lá está à
preocupação pelo programa de rádio em Blumenau:
“Aproveito a oportunidade para comunicar haver
chegado o reforço da emissora de Blumenau, “Rádio Clube de Blumenau”, “P.R.C.4
- Rádio Cultura”, com seu estúdio à Travessa Aymoré, e sua construção estará
terminada no máximo dentro de um mês”. Como nessa estação, por parte
do NSDAP também é irradiada uma "hora alemã", solicito aos
grupos, depois de executados os reforços, escrever no mesmo sentido que no
indicado para a Rádio Farroupilha.
Nossas irradiações terão lugar duas vezes semanalmente,
nas 2as e 5as-feiras, das 21:00 às 22:15 horas, somente em língua alemã.
Tão logo esteja terminado o reforço farei uma
breve comunicação, pois que então nossa estação será escutada bem em toda
parte.
“Peço também a remessa de relatórios mensais
regularmente, com opiniões e críticas dos programas.”
Por esta correspondência, deduz-se que em 19 de
março de 1936, quando houve a inauguração oficial da PRC-4, o programa do
partido nazista já fazia parte da programação.
A Travessa Aymoré hoje é a Rua Capitão Euclides
de Castro, no centro de Blumenau.
Não era proibida a transmissão do programa do
partido, mesmo porque Brasil e Alemanha tinham excelentes relações diplomáticas
naqueles tempos.
Mas em 18 de abril de 1938, com a decretação do
"Estado Novo", o presidente Getúlio Vargas proibiu aos estrangeiros
atividades políticas no país.
Por isso, o governo brasileiro tomou
providências em relação ao programa em língua alemã da PRC-4.
Ele foi obrigado a ser transmitido em português
(sob censura), focando exclusivamente a área cultural, e quando o Brasil entrou
na guerra, foi extinto.
Fontes:
O Nazismo em Santa Catarina - Capitão Antônio de
Lara Ribas (no Livro "O Punhal Nazista no Coração do Brasil");
Blumenau, arte, cultura e as histórias de sua
gente - Edith Kormann
Todas essas informações fazem parte da história do rádio de Blumenau. Confesso que esses detalhes registrados pelo Carlos Braga eu não conhecia pormenorizadamente pois não era nascido na época. E quando comecei a ouvir rádio lá por 1950 a II Guerra já estava encerrada e esse assunto em minha casa não era ventilado. O importante é o registro feito pelo Carlos Braga.
ResponderExcluirEdemar Annuseck
Curitiba-PR
Legal tio, o pai sempre fala que ficavam ao redor do rádio quietinhos ouvindo... vi na televisão outro dia que homens se vestiam de terno pra ouvir o rádio, tão grande o respeito. Bjo tio.
ResponderExcluirElaine
Adalberto e Braga
ResponderExcluirFalar na história do radio blumenauene, vem logo à memória a figura inconfundível de Nelson Rosenbrock, Valmira Siemann, do grande narrador esportivo Edmar Anuseck, dos comentaristas esportistas Tesoura Júnior e Álvaro Correia, Farlei mJ. Santos e tantos outros que fizeram brilhar mo rádio blumenaense.
Braz dos Santos
Amigo Adalberto mais uma para nos pensar, pergunto quem foi o primeiro proprietario da radio em Blumenau foi Buch, o foi dineiro da alemanha,diga um radialista Brasileiro em destaque em 1936 ou depois que Getulio obrigou em ser em portugues as programações,fequei desepsionado pois sempre pensei a primeira radio em Blumenau em Santa Catarina fosse gloria nossa Catarinense, mas deixa pra la , abraços Valdir.
ResponderExcluirSeleções extraídas do ““Relatório da Gestão Dos Negócios do Município De Blumenau- durante o ano de 1929”, do “Diário particular de José Deeke “ e entrevistas promovidas por Niels Deeke.
ResponderExcluirO prefeito Curt Hering em seu “Relatório da Gestão Dos Negócios do Município De Blumenau- durante o ano de 1929”, cita à página nº 09 : “Em vista de ter sido marcado o dia 29 de dezembro para o lançamento da “Pedra Fundamental do Museu da Imigração Alemã ”, mandei construir em novembro uma estrada, provisoriamente de 03 metros de largura que dá acesso ao alto do morro do Aipim, como também mandei escavar o chão para o futuro Museu”. José Deeke, empolgado, como recordava sua esposa Emma, encontrava-se à crista dos acontecimentos, liderando a subscrição de capital para constituição da “Estação Transmissora”, e providenciado autorizações através requerimentos, quando a 04/10/1930 consignava em sua agenda : “Hoje assinei na qualidade de “Presidente do Conselho Fiscal da Rádio Cultural Sul Brasileira” o requerimento para a “Concessão e Isenção Comercial.” A idéia da fundação da primeira rádio emissora em Blumenau, teve, conforme constou das anotações de Christiana Elisa Deeke, a participação de um grupo de empreendedores alemães, neste ramo. A pretensão era a de instalar uma Potente Estação Transmissora, que alcançasse em ondas curtas, todo o sul e leste brasileiro. Promoveriam, através de artistas internacionais de renome, concertos e apresentações. José Deeke, logo de início, teve o seu nome indicado para dirigir a empresa e durante o período de organização, somente foi empossado o “Conselho Fiscal” que objetivava formalizar a constituição da empresa. Nos anos de 1929 e 1930, houve um significativo acréscimo na conscientização do elemento teuto-brasileiro quanto à sua participação no contexto nacional sul brasileiro, principalmente quanto ao seu desempenho cultural, cuja emulação teve fulcro na comemoração do Centenário da Imigração Alemã, 1829-1929