segunda-feira, 17 de setembro de 2012

- Cinema em Blumenau - Parte XXII

Mais uma bela colaboração de Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor, continuação a série Cinema em Blumenau.
 


Crônica de Carlos Braga Mueller.


UMA SESSÃO DE CINEMA DE (MUITO) ANTIGAMENTE

Com notícias da época, e fotos também, rememoramos nesta crônica alguns momentos que marcaram a história do cinema em Blumenau.
 Foto : Hotel Holetz – no local desde 1962 Grande Hotel
Estamos voltando no tempo... 1918, 94 anos atrás. Nos fundos do Hotel Holetz ficava o Salão onde funcionava o cinema do senhor Busch.
O que segue são alguns momentos de pura nostalgia cinematográfica.
Imaginemos que tenha sido assim:

QUANDO O CINEMA AINDA ERA MUDO, MAS NÃO MENOS FASCINANTE! 
Naquele 26 de janeiro de 1918 os blumenauenses tiraram dos armários suas melhores roupas para uma ocasião especial:
À noite, às oito e meia, começaria uma sessão de cinema no Salão Holetz, e ninguém queria perder.
Na primeira parte do programa seria exibido em homenagem ao Tiro de Guerra 475, de Blumenau, um documentário mostrando a parada de 7 de Setembro de 1917 no Rio de Janeiro. Logo depois haveria a projeção de um grande sucesso europeu, o filme  A Fogueira, com Jane Hading e Raphael Duflos. 
 Cartaz /programa "A FOGUEIRA"
Emil e Rose chegaram cedo ao Salão Holetz.
As cadeiras não eram muito confortáveis, mas valia a pena chegar cedo para pegar os lugares mais na frente. As senhoras usavam chapéus da moda, geralmente de abas altas e largas,  o que atrapalhava a visão de quem estava sentado mais atrás. A primeira parte começou na hora certa. Era a execução de algumas peças musicais por uma pequena mas afinada orquestra.
Em seguida foi apresentado o filme  do desfile dos militares no dia 7 de Setembro na capital federal.
No intervalo, Emil e Rose aproveitaram para tomar um copo de gazosa no bar do salão.
Dado o sinal, a sessão recomeçou e na tela surgiram as primeiras imagens do filme francês "A Fogueira", estrelado por Jane Hading e Raphael Duflos, artistas de bastante expressão na época.
  Foto Jane  Hading
"A Fogueira" (La Flambée) era uma produção de 1916, da produtora "Le Film d'Art",  dirigida por Henri Pouctal e baseada na peça teatral do mesmo nome,  de Henri Kistmackers, dramaturgo bastante respeitado na Europa.
O filme se desenrolava durante a 1a. guerra mundial, que ainda não havia terminado, e mostrava o romance entre os dois principais atores: Jane Hading como Mônica, e Raphael Duflos interpretando Felt, um tenente coronel, secundados  por Marie de L'Isle e Jean Garat no elenco.
A orquestra acompanhava o desenrolar das cenas, dando ênfase às cenas de batalhas, suavisando os acordes quando o casal enamorado se encontrava.
Suspiros na tela e na plateia!
Ao final, haviam sido rodados os 1.900 metros de celuloide do filme, divididos em 6 atos.
Ao deixarem o Salão Holetz, Emil e Rose ainda escutavam os acordes finais da orquestra, encerrando o espetáculo daquela noite.
CURIOSIDADE: A HOMENAGEM AO TIRO DE GUERRA 475 
Por que a homenagem ao Tiro de Guerra 475 nesta sessão de cinema ? 
No dia 7 de janeiro de 1917, sob a presidência do Juiz de Direito,   várias autoridades de Blumenau se reuniram naquele mesmo Salão Holetz para tratar da fundação de um Tiro de Guerra, o que vinha ocorrendo em várias cidades brasileiras.
O primeiro "tiro de guerra" havia sido fundado em 1902 na cidade gaúcha de Rio Grande, uma sociedade de tiro ao alvo  visando a formação de militares da reserva, iniciativa que prosperou nacionalmente quando em 1916 Olavo Bilac começou  uma campanha cívica, pregando o serviço militar obrigatório. Este, já havia sido instituído em 1908, mas a legislação determinava que o recrutamento fosse feito por sorteio. Além do mais, no interior não existiam unidades militares do Exército suficientes para o cumprimento da lei.
Com o apoio do instrutor do Tiro de Guerra de Joinville, no dia 11 de fevereiro de 1917 foi constituída a Sociedade de Tiro de Blumenau, o futuro Tiro de Guerra 475.
João Pedro da Silva foi eleito seu presidente, tendo como vice Victor Konder. Para presidente de honra foi indicado Paulo Zimmermann.

Enquanto isso, o cenário na Europa era de guerra. No dia 11 de abril de 1917, premido pelos aliados, o Brasil rompeu relações com o bloco germânico  e depois de ter vários navios mercantes torpedeados por submarinos alemães, e pressionado pelo povo, no dia 26 de outubro de 1917 o governo brasileiro declarou guerra à aliança germânica. Blumenau era considerada uma extensão da Alemanha no Brasil; mesmo assim, com desconfiança, foi neste outubro de 1917 que o Governo Federal reconheceu oficialmente o Tiro de Guerra 475 de Blumenau

Por isto a homenagem ao  Tiro de Guerra e ao seu instrutor Abílio Gomes Chacon naquela sessão de cinema no Salão Holetz, em 26  de janeiro de 1918, era plenamente justificada. 
Em julho de 1919 procedeu-se aos exames da primeira turma de reservistas em Blumenau.
Arquivo/Carlos Braga Mueller/John Pereira  

8 comentários:

  1. Quantas lembranças do Cine Bush e Cine Blumenau!

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  2. Prezados/as, uma prova que os blumenauenses assistem grandes filmes desde... -Antigamente-. Como esse "La Flambée en Détresse", 1916, de Henri Pouctal, com Jean Garat, Raphael DuLa, e grande elenco, como se dizia então. Filme meloso, Depois desse deve ter faltado lenço no comércio local. Nos anos seguintes Henri Pouctal filmou a série "O Conde de Monte Cristo" e em 1921 "Le Crime Du Bouif", sua grande obra. Toda a filmografia de Henri Pouctal se perdeu no grande incêndio do MAM - Rio de Janeiro, em 1978. Abraços. Cao

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  3. Poois é ca estamos de novo para ver mas um pedaço do tunel do tempo, parabens, Amigo Braga voce que tem poder poderia fazer com que nos tivese a felicidade de ver novamente o prazer de ver as familias novamente reunidas na rua quinze denovo para que as crianças como nos fomos assistam o cineminhas, e os adolecentes corriam para conquistar a sua namoradinha,e os adultos colocavam as fofocas em dia faça uma coampanha e vamos trazer de volta o bonito calçadão que o Pimpão trouxe a copia da aleãnha e aqui foi feito e funciono mas paela baixacapacidade dos organizadores do paço municipal sai da moda, aguardo a sua resposta e colocome a disposição para ajudar a organizar abraços SALVADOR.,

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  4. Bom dia Adalberto

    Interessante matéria do Braga.
    Não sabia sobre a Homenagem ao Tiro de Guerra 475.
    E quanta saudade do Cine Busch... lugar onde assisti a muitos filmes.
    Abraço

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  5. Braga, estava com saudade do tema.Embarcar neste teu tunel do tempo, é viajar de primeira classe para um mundo de aventuras.Aventuras com sabor de quero mais. Abraço também pro Beto.

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  6. Adalberto
    Sempre é bom conhecer a nossa história, porque ela é parte integrante da nossa cultura e das nossas tradições. Braga Mueller, prazer em vê-lo depois de tantos anos!
    Braz dos Santos

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