quarta-feira, 23 de novembro de 2011

- Blumenau no Exército Nacional

Voluntários da Pátria de Blumenau

Frei Ernesto Emmendoerfer, O.F.M.
Foto de Jaime Batista da Silva - em homenagem aos voluntários da Pátria em Blumenau. Prédio antigo da Prefeitura, atual fundação cultural.

Pela Lei 3.371, de 7 de janeiro de 1865, o Governo Imperial do Brasil convocava voluntários para a guerra contra o ditador do Paraguai, Francisco Solano López, que, em 12 de novembro do ano anterior, rompera as hostilidades, apoderando-se do vapor Marquês de Olinda e invadindo o Mato Grosso.
Sem que houvesse constrangimento ou pressão de parte alguma, a novel colônia de Blumenau atendeu generosa, ao apelo da Pátria que os imigrantes adotaram.
Os habitantes de Blumenau, naquela época, podiam ser uns dois mil e poucos. Era gente recém-chegada, que mal começara a construir as bases da prosperidade que esperava conquistar nas margens férteis do Itajaí-açu.
Foram mais de 70 homens, quociente, pois, bastante elevado da população, que se apresentaram para defender o território e a honra nacional.
Temos a relação dos voluntários blumenauense, de maneira que conhecemos os nomes daqueles bravos que escreveram uma página de glória na história de Blumenau.

Num diário começado em 1864, com anotações diversas até 1882, nas ultimas páginas, independente dos demais lançamentos, encontram-se a mencionada relação.
Constam dela os nomes de 80 homens, com indicação de idade, profissão e religião, bem como observações referentes à situação militar de alguns alistados e ao soldo pago.
Nove nomes da lista foram riscados, dois nomes foram intercalados, com letra miúda, diferente, e um foi acrescentado a lápis.
No fim da relação encontra-se a seguinte nota escrita pela mão do Doutor Blumenau:
Foram ao todo 67 homens mais os oficiais: capitão Von Gilsa, tenente Odebrecht, alferes Von Seckendorf, alferes Sametzki, cirurgião-alferes Friedenreich”.
No mesmo diário, no dia 5 de outubro de 1865, foi feita esta anotação:
“Marcha de 57 voluntários da Pátria para Destêrro” (i.é, Florianópolis).
E no dia 23 do mesmo mês diz-se:
“Marcha de 11 voluntários da Pátria para Destêrro”.
Parece haver contradição, quando se diz que foram ao todo 67 homens e 5 oficiais os que alistaram, e depois se afirma que seguiram 68 voluntários.
Dos oficiais citados Emilio Odebrecht e Júlio Sametzki figuram na lista, os demais, não. Mas da relação ainda constam o nome de Ludwig Endrenyí como oficial e as observações dão Jacó Riedinger como cabo, Luís Hoffmann, Fernando Schuhmacher e Wilhelm Peters como militares.
Se dos 80 nomes da lista tirarmos os nove nomes riscados e os dos 7 militares profissionais, acrescentando os três nomes das entrelinhas, teremos 67 voluntários da Pátria.
Está-se parecendo que a relação não é completa.

A Crônica do Convento de Santo Antônio de Blumenau diz que Peter Tillmann de Blumenau participou da guerra do Paraguai. Informa também que em Passo Manso residiam húngaros, dos quais bom número se alistaram para a guerra, quando na relação encontramos apenas um nome tipicamente magiar.

Da Crônica da Residência Franciscana em Gaspar colhemos os seguintes dados:
Jacob Rinks e Mathias Bens tombaram no campo de batalha, Jacob Theiss (cujo nome, aliás, também encontramos no diário de Vítor von Gilsa, de que falaremos mais tarde) regressou depois da guerra; dela também participaram Anton Simon, Jacob Müller, Heinrich Lucas e Jakob Gaspar, este, talvez, idêntico com Jakob Jasper da lista de Blumenau.
Estes e, quiçá, uns quantos outros, possivelmente, não se incorporaram em Blumenau.

No diário de von Gilsa ocorrem vários nomes que parecem ser de cidadãos radicados em Blumenau, sem contudo figurar entre os 80 homens que partiram dali em novembro de 1865.

Sobre a personalidade e a atuação do tenente Emílio Odebrecht informa a biografia deste benemérito cidadão neste livro entre os “Blumenauenses Ilustres”.
Carl Wilhelm (Guilherme) Friedenreich chegou a Blumenau a 2 de setembro de 1850 com o primeiro contingente de imigrantes. Veio acompanhado da mulher e duas filhas. Tinha, então 26 anos. De profissão era veterinário, mas durante muitos anos fez as vezes de médico. Foi um dos sócios fundadores da Sociedade de Atiradores de Blumenau, como o capitão Vitor von Gilsa. Quando a colônia foi entregue ao Governo Imperial, Friedenreich foi nomeado delegado de policia. Manteve forte polemica política no “Immigrant” contra o Doutor Fritz Muller, que por sua vez, escrevia no “Blumenauer Zeitung”. Mais tarde Friedenreich mudou-se para São Paulo. Seu neto Artur é o célebre campeão de futebol, cuja fama vem de anos que já vão longe.

Júlio Sametzki arribou a Blumenau em 24 de julho de 1859, com 44 anos de idade, trazendo sua mulher e um casal de filhos. Na Prússia havia sido agricultor. Possuía, porém, bastante instrução. Foi morar em Itoupava-Seca, onde pôs à disposição do Dr. Eberhardt uma casa para nela instalar a primeira escola daquele bairro. Regressou da guerra e viveu até 20 de março de 1893.

Guido von Seckendorf, que fez a campanha como alferes, também voltou. Foi secretário da primeira Câmara Municipal de Blumenau.

Vítor von Gilsa, depois de ter servido à Prússia, ao Schleswig-Holstein e ao Brasil como capitão de artilharia, veio a Blumenau, onde foi nomeado professor público, em 1858. Regressou da guerra antes de acabada, talvez por motivos de saúde, como Emilio Odebrecht. Reassumiu seu cargo em 1867 e nele se manteve até a morte, em novembro de 1874.
Vitor von Gilsa, que foi o comandante dos voluntários de Blumenau, aos quais depois vieram juntar-se os de Dona Francisca (Joinville), fez apontamentos sobre a campanha contra López em forma de diário. Temos diante de nós esse documento precioso, inédito até agora. É, um caderninho sem capa, de 8 x 13,5 cm. Está escrito a lápis. Em certas partes as páginas já estão um tanto apagadas. As páginas não tem numeração. Na primeira parte encontram-se endereços de parentes chegados dos soldados, certamente para fazer-lhes, comunicação em caso de acidente fatal; estão anotados nomes de autoridades civis e militares; existe a relação dos que faleceram do seu contingente até 25 de junho de 1866; de permeio com outras notas estão vocábulos, expressões e rifões da língua portuguesa.

À memória dos heróicos Voluntários da Pátria, comandados por: - Emil Odebrecht – Guido Von Seckendorf – Viktor Von Gilsa, que defenderam a honra e dignidade do Brasil nos Campos do Paraguai.
Homenagem do povo de Blumenau no centenário de sua partida.

Blumenau, 5 de outubro de 1965

Os depoimentos diários começam com a data de 5 de novembro de 1865. Depois do dia 8 de dezembro faltam folhas no diário até 1º de fevereiro. De 6 de maio em diante existe só parte de uma página. É, pois, o diário de von Gilsa um documento fragmentário. Mas contém referencias valiosas. Merece ser estudado e analisado minuciosamente, o que não pode ser feito no âmbito deste livro, nem por quem escreve estas linhas.
Servimo-nos do diário de von Gilsa para dar algumas notícias sobre a atuação dos voluntários da Pátria de Blumenau.
Depois que o contingente chegou a Florianópolis, passou o mês de novembro em treinamentos e preparativos para o embarque, juntamente com os homens de Joinville, que de início eram 19.

No dia 5 de novembro chega, sem ser esperado, o Imperador. Há parada. Sua Majestade visita os “alemães” em seu quartel. Aperta a mão do comandante. Na despedida, os soldados dizem: “O bom Deus guarde a vida de V.M.”
Dia 28 de novembro, partida de Desterro, no vapor São Miguel. Em 1º de dezembro, chegada a Montevideo, e em 4, a Buenos Aires.
Nos dias 6,7 e 8, subida pelo Prata e Paraná até Rosário.
Muitos soldados adoecem e têm que baixar aos hospitais. A moléstia dos intestinos (foi disenteria ou cólera?) ataca também o comandante, mas este continua à frente das duas companhias que formavam o chamado Contingente de Alemães, incorporado á 9ª Brigada. A maior parte de seus componentes constituía a tripulação da canhoeira Araguari.
Em Corrientes prepara-se a invasão do Paraguai. Durante os trabalhos de exploração registraram-se escaramuças e combates entre unidades das fronteiras adversárias.

Em 30 de março, 20 homens, sob o comando de von Gilsa, conquistaram uma chata paraguaia.
No combate de 10 de abril, de que participaram os soldados blumenauenses, 900 brasileiros derrotaram 1.200 paraguaios, que deixam no campo de batalha 640 mortos.
Em 16 de abril de 1865, dá-se a invasão do território inimigo, pelas 16 horas, com tempo horrível. A canhoeira Araguari participa da operação.
A 18 de abril  é içada a bandeira brasileira no forte de Itapiru.. Tomaram parte nos combates 7 oficiais e 112 homens do Contingente de voluntários da Pátria Alemães.
Depois de 20 de abril de 1866, von Gilsa trabalhou na intendência e nos transportes dos depósitos centrais de Corrientes para a frente de batalha.
Infelizmente, a nossa fonte não dá ulteriores informações, dando seu estado fragmentário.
O tenente Emílio Odebrecht foi dos primeiros que regressaram a Blumenau, devido a seu estado de saúde.
Não sabemos se von Gilsa reconduziu os voluntários de Blumenau ou parte deles.
Poucos, relativamente, foram os que regressaram a Blumenau, e estes, na maior parte, doentes e alquebrados.
Aos bravos que deram seu sangue pelo Brasil, ou lhe sacrificaram a saúde, e a todos que lutaram com denodo pela sua nova Pátria, Blumenau centenária rende homenagem.

Seus nomes não serão esquecidos:
Vítor von Gilsa, capitão, comandante dos Voluntários da Pátria de Blumenau; Emilio Odebrecht, tentente; Guido von Seckendorf, Júlio Sametzki, alferes; Carlos Guilherme Friedenreich, alferes-cirurgião; Luis Endrenyi, Luís Hoffmann, comissionados em alferes; Wilhelm Fischer, oficial inferior; Jacó Riedinger; cabo; Francisco Ewald, Guinther Fransce, Eugen Kurz, Hermann Eckelberg, Henrique Riegel, Conrad Riegel, Fernando Schuhmacher, Christiano Muller, Henrique Lucas, Michael Riegel, Wendelin Kraemer, Christiano Reiff, Ernesto Richter, Carlos Siebert, Otto Lobedan, Rodolfo Wagner, Jacob Jasper, Carlos Baucke, Christiano Lucas, Pedro Lucas, Oscar Kluge, Chr. Fred Kruger, Augusto Persch, Johann Wendt Dias, Guilherme Hafenstein, Fred Gross, Julio Hartmann, Gottieb Gneewuch, Wilhelm Peters, Nicolau Haendchen, Frederico Augusto Thomas, Carl Sauberlich, Carl Hinze, Gustavo Bosse, Luis Helmbrecht, Francisco Boehmer, Albert Marx, Carl Jansen, Heinrich Engel, Bruno Scharn, Guilherme Fischer, Fr. Bahr, Christiano Klein, Paulo Stahl, Christiano Mitthoft, Johann Weisensee, Hermann Kuchendahl, Luis Schonhauser, Adolfo Marx, Wilhelm Vogel , Fritz Riemer, Hermann Grahl, Eduard Kochy, Hermann Willerding, Johan Fischer, Hermann Geyer, Carl Lichtenberg, Ernst Scheeffer, Carl Kressien, Woldemar von Zeschau, Carlos Geyer, Fernando Ebert, Ricardo Ebert, Carl Hugo Praun., João Oltmann, Isidor Hirt, Gottlieb Zeschke, Simon Theiss, Heinrich Hausen, Wilhelm Fischer.
A lista (certamente incompleta) dos mortos é esta:
Christian Muller faleceu no hospital de Corrientes em 7-2-66.
Otto Lobedan, f aleceu no hospital de Corrientes em 24-4-66.
Hermann Kuchendahl, faleceu no hospital de Corrientes em 1-5-66.
Eugen Kurz, faleceu no hospital de Corrientes em 9-5-66.
Fischer (qual deles?) faleceu na ilha (de Itapiru?) em 10-6-66.
Hoffmann (Luis?) faleceu no hospital de Corrientes (sem data).
Marinha do Brasil - foto Rubens Heusi
Livro Centenário de Blumenau – 1850 – 2 de Setembro – 1950
Edição da comissão de festejos
Arquivo de Dalva e Adalberto Day

9 comentários:

  1. Adalberto, fico feliz por este resgate, o Cap. Victor Von Gilsa é meu Tataravô. A quem possa interessar, tenho documentação de toda sua genealogia desde seus antepassados na Prússia até gerações em Blumenau. Estes documentos nos foram presenteados pelo Poeta Lindolf Bell a minha família. Ele também está nessa genealogia. Acredito que o Arquivo Histórico também deve ter essas documentação. Está em Alemão, infelizmente eu ainda não consegui uma tradução, é bastante extenso.

    Mais uma vez, parabéns.
    Fernando Pasold.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Fernando.
      Aqui é Dietmar von Gilsa de Indaial -SC.
      Também sou tataraneto do Cap Vitor von Gilsa.
      Gostaria de lhe consultar acerca dessa documentação, tendo em vista que tenho interesse em confirmar minha cidadania alemã.
      Seria possível?
      Obrigado

      Excluir
  2. Adalberto,

    Você sempre consegue se superar. Parabéns pelo resgate histórico.

    Abraços,

    Paulo R. Bornhofen

    ResponderExcluir
  3. Boa tarde Adalberto

    O resgate desta memória histórica de Blumenau foi muito valiosa!
    mais ou menos 70 heróis voluntários que foram lutar no Paraguai em atenção a uma convocação do Imperador.
    Defender a terra que os acolheu, para enfrentar o inimigo foi um ato de desprendimento muito grande.
    Este número em torno de 70 (não está definido) é até interessante, porque poderia representar todo o contingente populacional de Blumenau na época, estimado em torno dois mil e poucos habitantes, ter atendido à convocação do imperador.
    Parabéns a estes blumenauenses pioneiros e pela matéria.

    ResponderExcluir
  4. Super interessante esse resgate. Está aí um assunto importante, afinal foi uma das guerras mais citadas em nossa história brasileira e que não imaginei qual nossa participação.

    Parabéns Adalberto pela escolha do tema e as informações, bastante detalhadas para um post em blog.

    ResponderExcluir
  5. Oi Beto amigo. Obrigado por mais um pedaço de nossa historia. Esta já fala de heroísmo e dos voluntários blumenauenses que lutaram na guerra do Paraguai. Encontrei entre eles, um possível parente de minha esposa, um Siebert. Muito interessante o empenho deles em participar dessa guerra, que nada de interessante trouxe para o Brasil.
    , a não ser, muitos anos mais tarde,, a hidroelétrica Itaipu, que, assim mesmo, por ter sido dividida em duas partes, temos que pagar ao Paraguai um preço absurdo pela parte que o país vizinho não utiliza. Integra os "ótimos" negócios que o Brasil tem feito com nossos vizinhos da América do Sul, sem contar o gás da Bolívia e outrE.A.Santosos mais. Um grande abraço..

    ResponderExcluir
  6. Um abraço a todos que se encontram aqui neste maravilhoso Blog que mantém viva nossa história. Victor August von Gilsa é meu trisavô, são 1.200 anos de registros genealógicos. Pena que nosso livro tão bem cuidado pelo meu avô Alfredo von Gilsa foi gentilmente emprestado e nunca mais retornou... coisas da vida. O povo que não mantém sua história perde sua identidade.

    ResponderExcluir
  7. Bom o texto. Me pareceu inteiramente fundamentado no livro de Klaus Becker. Incompleto todavia pois não menciona a revolta dos alemães na ilha do Cerrito, o que determinou a prisão de 48 deles. O capitão von Gilsa perdeu o comando. Ele também estava metido na insubordinação?

    ResponderExcluir
  8. Legal, gostei de ler. É meu parente também e por isso herdei seu nome.

    ResponderExcluir

Como fazer:
- Após fazer seu comentário, clique no circulo; em frente a palavra NOME/URL.
- Digite o seu NOME ou APELIDO, no quadradinho que esta em branco
- No quadradinho URL não precisa colocar absolutamente nada.
- Clique no quadrinho "Não sou um Robô"
- Pronto, agora clique em publicar
- Observação: Deixe o seu E-MAIL de contato para retribuir seu comentário.
Grato.