segunda-feira, 1 de março de 2010

- Udo Schadrack

Udo Schadrack
Por Lauro Eduardo Bacca/autor
O empresário blumenauense, foi inegavelmente o precursor da defesa do ambiente natural em Blumenau, onde nasceu em 1910. Estudou formalmente por oito anos no Colégio Santo Antônio, considerado de excelente qualidade. Iniciou sua vida profissional aos 14 anos, tornando-se mais tarde, próspero empresário na área comercial e como agente de seguros. Aos 17 anos, tornou-se sócio do Theater und Gesank Verhein Frohsin, atual Teatro Carlos Gomes, em cuja orquestra foi violonista por alguns anos.
Exerceu por trinta anos, desde a fundação até seu falecimento, a presidência do Conselho Curador da Escola de 1º e 2º grau Barão do Rio Branco de Blumenau. Era sócio FBCN – Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e de outras entidades.
Udo (Foto) tinha 22 anos quando o pai Ferdinand faleceu em 1932, e herdou as terras no ribeirão Caetés, que compreendia as matas da quase totalidade da vertente norte do Morro Spitzkopf e proximidades Em 1950 adquiriu um terreno vizinho de 100 hectares (Santos,2004) que incluía o cume do morro Spitzkopf, ampliando a propriedade herdada, para pouco mais de 500 hectares.
A partir de 1932, cessou também toda a exploração de madeira na propriedade que, felizmente, não havia sido intensa. A única exceção foram oito grandes carvalhos-vermelhos doados por Schadrack para a confecção dos bancos da atual Catedral de São Paulo Apóstolo de Blumenau (LONGO,1981,b).
Tendo participado de caçadas quando jovem, prática extremamente comum à sua época, Udo Schadrack impressionou-se ao perceber, ano após ano,a rápida diminuição da fauna, o que o fez tornar-se um dos seus mais ferrenhos defensores, tarefa que executou com extrema dedicação e sem esmorecer até a sua morte, apesar de ter sofrido inúmeras decepções e dissabores de toda a ordem.
Spitzkopf
Ficou sócio  nº 45 do Spitzkopf-clube , já referido,tornando-se seu presidente em 1948.Como proprietário, tornou público pelos jornais da cidade que, em julho de 1952, transformou legalmente área como Parque de Criação e Refúgio de Animais Silvestres, junto a então Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura.
A constatação que seus esforços resultaram no aumento da fauna tanto em sua propriedade como nas vizinhanças foi uma alegria logo acompanhada de problemas,pois isso passou a atrair para ali também os caçadores ou, como escreveu Udo Schadrack ,”exterminadores de nossa fauna, os quais escolhem o meio mais fácil de matar a caça,essa mesma caça, que estou criando e protegendo no meu Parque de Criação, com sacrifícios que poucos conhecem”.
Udo Schadrack por várias vezes denunciou nominalmente caçadores que seus guardas surpreendiam em seu Refúgio Indignava-se sobremaneira que entre os mesmos haviam funcionários públicos que deveriam ao seu ver, dar o exemplo de cumpridores da lei.Embora sem se indispor contra a justiça, sofreu com a demora da mesma e até com a absolvição de alguns acusados,fatos que aumentavam a sensação de impunidade por parte dos infratores.
Sobre o desfecho de um episódio de denuncia contra um caçador, escreveu “!...! a Policia fez o que lhe cabia fazer: elaborou os laudos !...! e encaminhou o caso a justiça, que julgou improcedente a queixa e absolveu o réu, sim, ABSOLVEU O REÚ !...!” (SCHADRACK, 1974, não paginado).

Escrito dessa forma, parecendo um verdadeiro grito de inconformismo a ecoar do papel, esse longo artigo publicado no Jornal de Santa Catarina em dezembro de 1974, bem resume o empenho e perseverança de Schadrack na defesa de nossa fauna. Tal manifestação repercutiu intensamente, suscitando nos dias seguintes, no mesmo jornal, como poucas vezes acontece, uma série de manifestações de leitores, todos apoiando suas argumentações. Além de manifestações públicas com denúncias ou apelo em defesa da fauna, Udo Schadrack empenhou-se também em ações pró-ativas como, por exemplo, visando melhorar a fiscalização da caça, encabeçou um abaixo-assinado e endereçado ao Governador Heriberto Hulse (1958-1961). Contendo adesão de dezenas de lideranças blumenauenses, pedindo a efetivação do Senhor Celso Silveira no cargo de fiscal de armas e munições em Blumenau. No preâmbulo do texto, identificou-se como “batalhador que sou pela defesa de nossa fauna”.
Dono de um estilo preciso e eloquente na escrita, as vezes satírico, Udo arremata:
!...! Fala-se muito em turismo, cognominado também de “indústria sem chaminé”.
Efetivamente, sem chaminé, o turismo muito bem poderia existir em nosso país, mas SEM FAUNA, o turista apenas serviria de testemunho a um irremediável crime cometido contra a natureza, que ao povo brasileiro foi confiada por Deus em uma abundância, riqueza e beleza, que pode causar inveja aos outros povos menos ricamente abençoados, mas que sabem conservar e proteger os seus encantos naturais. (SCHADRACK,1974, não paginado).
Castelinho da Moellmann, atual Castelo da Havan
Tombado pela Fundação Catarinense de Cultura, é o segundo atrativo mais fotografado do sul do Brasil. Construído em 1978 pelo empresário Udo Schadrack, de família tradicional blumenauense, o prédio consiste numa réplica da prefeitura de Michelstadt, cidade localizada ao sul da Alemanha. Até 1999 foi a sede da Comercial Moellmann, uma das mais importantes empresas do Estado. A partir de 2002, o prédio passou a abrigar a Secretaria Municipal de Turismo. Atual Castelo Havan inaugurado em 31 de maio de 2008. Presentes Hans Schadrack, filho do empresário Udo Schadrack,
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Nesse mesmo artigo, ao mencionar a visita que receberá no ano anterior de 1973, fruto de iniciativa da nascente ACRAPENA , do Botânico Raulino Reitz e outras importantes autoridades do então IBDF, Schadrack manifesta publicamente pela primeira vez sua intenção de doar grande parte da propriedade a uma entidade oficial que garantisse a transformação daquela região em Parque Nacional, com a aquisição naturalmente dos terrenos adjacentes !...! inaproveitáveis para a lavoura ou urbanização mas ótimas para a proteção da natureza e vital para a proteção da cidade de Blumenau”. (contra enxurradas).
(SCHADRACK, 1974, não paginado).
Tal promessa de doação Schadrack repetiu alguns anos mais tarde, em 1979, quando publicou artigo com o título de “Alarma” , tanto no extinto jornal “A Nação” como no jornal de Santa Catarina (SCHADRACK,1979a;1979b).
Tal artigo consistia em uma séria e contundente advertência contra o desmatamentos que passavam a intensificar-se nas cabeceiras do ribeirão Garcia, tornando aquele vale, bem como áreas de municípios próximos, mais sujeitas às conseqüências das enchentes e enxurradas, provocadas por fortes chuvas que ao encontrariam mais a resistência, proteção e efeito esponja da densa vegetação que ali começava a ser mais intensamente destruídas.
Udo Schadrack morreu em 16 de dezembro de 1983, sem saber que suas vigorosas sementes estavam germinando com muito viço, ainda que lentamente. Vinte e um anos mais tarde,  "em 04 de julho de 2004, era criado o Parque Nacional da Serra do Itajaí, englobando área até maior que a sugerida por ele".. Por coincidência,, na noite do seu velório, exatamente como havia advertido em “Alarma”, abatia-se sobre o vale do Garcia um das maiores enxurradas de sua história, causando prejuízos e perdas de toda ordem aos particulares e aos cofres públicos de Blumenau.
Blumenau em cadernos – 50 anos. Edição especial 1957-2007, onde fui citado por Lauro Bacca na página 31.Autor: Lauro Eduardo Bacca/Dados da família de Udo Schadrack.
Arquivo de Adalberto Day

3 comentários:

  1. Adalberto, fico feliz em saber que existem pessoas como você, que se preocupa com nossa história não deixando ela ser esquecida. Adoro seu blog e cada vez que aqui visito, saio mais culto e orgulhoso de nossa Blumenau. PARABÉNS.

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  2. Adalberto, bela reportagem da história de Udo Schadrack. Parabéns. Vc é mesmo um grande professor sobre a história de Blumenau.

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  3. O Sr UDO SCHADRACK, empresário e conservacionista blumenauense, se vivo estivesse, estaria completando cem anos de idade agora no dia 24 de março!

    Muitos podem não saber quem foi Udo Shadrack, mas todos conhecem uma das marcas que essa pessoa extraordinária deixou na cidade, que foi o castelinho das antigas Lojas Moellmann, atual castelinho da Havan, em pleno centro da cidade, com certeza o ponto mais fotografado por todos os turistas que por aqui passam. Outra marca deixada por Udo Schadrack e bastante conhecida dos blumenauenses é o famoso Morro Spitzkopf, que por sua iniciativa passou a ser preservado desde o já distante ano de 1932. Além de empresário e ferrenho defensor da natureza, Udo Schadrack também teve forte atuação comunitária. Por longos 30 anos, foi Presidente do Conselho Curador da Escola Barão do Rio Branco, desde sua fundação, até vir a falecer, aos 73 anos, em 1983.

    A cidade e a região devem muito a Udo Schadrack, mas aqui nesse espaço queremos lembrar especialmente os mais de cinqüenta anos de lutas pela preservação das matas de sua propriedade no Morro do Spitzkopf no Garcia, com muita dedicação, empenho de recursos pessoais e enfrentando muitas vezes, dissabores de toda ordem, inclusive com algumas autoridades, mas sem jamais desistir de seu intento. Apesar disso, o Sr. Udo nunca impediu que pessoas bem intencionadas pudessem fazer excursões ao topo do morro do Spitzkopf e hoje são muitos milhares os que já puderam, lá de cima, descortinar uma das mais belas paisagens que se pode ter aqui no sul do Brasil.

    Se como empresário, ele deixou sua principal marca no castelinho da Beira Rio; já como ferrenho defensor da natureza ele deixou sua marca nas matas preservadas do morro Spitzkopf. Na memória de todos os que o conheceram, porém, ficou a lembrança de um homem sério e justo. Esse foi, em rapidíssimas linhas, Udo Schadrack, que completaria cem anos neste 24 de março e por quem chorei no dia de seu enterro, em 17 de dezembro de 1983. Na ocasião, sentia sua morte como um símbolo de quão inglória é a luta pela proteção da natureza, principalmente num país como o nosso.

    Schadrack faleceu sem ver seu sonho de transformar a região das nascentes do Garcia, numa preservação de fato, em forma de Parque Nacional, como ele havia sugerido pessoalmente desde 1973 a algumas autoridades e depois publicamente, em 1979, nos jornais A Nação e Jornal de Santa Catarina. Vinte e um anos depois era criado o tão esperado Parque Nacional da Serra do Itajaí, ainda maior que seu sonho original. Que seu bom exemplo inspire muitas e muitas pessoas a não desistir de seus bons intentos!

    Baitabraço,
    Bacca
    RPPN Reserva Bugerkopf

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