Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor, jornalista e colunista, Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata sobre o fim do cinema de rua em Blumenau.
Por Carlos Braga Mueller
Rua XV de Novembro Blumenau
"Cinema de Rua" é, hoje em dia, um termo que generaliza os cinemas instalados em prédios próprios, ou alugados, situados em vias públicas no Brasil. Ou em qualquer parte do mundo.
No Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX surgiu a Cinelândia, área central da "cidade maravilhosa" onde se localizavam os maiores e mais luxuosos cinemas do Brasil.
Até aí só existia este tipo de cinema, bem situado, geralmente na rua principal de uma cidade. A qualificação de "cinema de rua" surgiu pelos anos 80, quando os cinemas migraram para os shoppings, mais seguros, com estacionamento, uma verdadeira mini cidade abrigando pessoas em busca de lazer e diversão...
Não resta a menor dúvida, a concorrência era brutal. Ninguém trocava um cinema de shopping por um de rua!
Até que "a pedra caiu", e começaram os questionamentos:
- Mas onde ficou o cinema tradicional? Aquele das salas grandes, de mil lugares e até mais; do gongo batendo e abrindo as matinês de domingos; da troca de gibis; dos seriados que levavam crianças e adultos todas as semanas aos cinemas para torcer pelos mocinhos?
Quem estava na sala de espera, aguardando a vez de entrar na próxima sessão, ouvia o barulho da torcida quando o filme mostrava o mocinho surrando os bandidos.
Era emoção na tela e na platéia. Os espectadores saiam da sala sorrindo, comentando o filme; ou então as lágrimas revelavam que o filme tinha sido um dramalhão daquele tamanho, especialidade das produções mexicanas da Pelmex.
Assim, vencidos primeiro pela televisão nos anos 60 e 70; depois pelos shoppings Center, os "cinemas de rua" foram desaparecendo. A tal ponto que hoje em dia prefeituras, como a de São Paulo, estimulam e dão incentivos aos exibidores que se "arrisquem" de novo a montar cinemas de rua nas cidades brasileiras.
O Extermínio em Blumenau
Em 1972, premido pela falta de público, que só queria ver as novelas da televisão, uma novidade na época, o Cine Atlas da Vila Nova fechou suas portas.
Cartazes e ao centro Cine Garcia
Dois anos depois - 1974 - a comunidade católica da Paróquia Santo Antônio comprou o prédio onde funcionava o Cine Garcia, na Rua Amazonas, transformando-o em igreja até 1978, quando foi demolido (1979) e o espaço incorporado ao pátio da Paróquia.
1983 - Uma enchente eleva em mais de 15 metros o nível do Rio Itajaí Açú. As águas invadem não só o porão do Cine Busch na Alameda Rio Branco, o que não era novidade, mas entram na platéia inferior do Cine Blumenau, localizado nos altos da Rua 15 de Novembro.
Cerca de um mês depois o Busch volta às sessões normais. Mas o Cine Blumenau nunca mais reabriu.`Por meses permaneceu pendurado, encimando a porta principal, um cartaz anunciando o último filme exibido: "Eu, Christiane F..."
Em 1984 Blumenau viveu outra enchente, tão ou mais agressiva que a do ano anterior.
Nas duas vezes o Cine Mogk da Itoupava Norte também foi inundado. Até que em 1986, o pioneiro Walter Mogk desistiu e também cerrou as portas do seu cinema.
1991 - O Cine Carlitos, que funcionava na Rua Nereu Ramos e que também sofreu com as repetidas enchentes, paralisa suas atividades.
1992 - O Cine Busch, até então arrendado à Empresa Lageana de Cinema, fecha definitivamente suas portas. Os herdeiros de Busch haviam vendido a propriedade ao empresário do ramo hoteleiro, Cláudio Gaertner, que reforma o prédio, guardando as características originais, ali instalando um Centro de Convenções.
Pronto. Blumenau não tinha mais cinemas...
Logo em seguida, em 1993, era aberto o Shopping Neumarkt em Blumenau, na Rua 7 de Setembro, e a empresa gaúcha GNC Cinemas inaugurou ali duas salas no andar térreo. Anos depois os cinemas passaram para o andar superior do shopping, onde atualmente funcionam 6 salas.
Agora, com o anúncio da construção de mais 2 shoppings em Blumenau, garantem os incorporadores que haverá mais 5 salas de cinema em um deles e mais 6 no outro, o que vai totalizar 17 salas em Blumenau. Uma senhora opção de locais para se assistir um bom filme !
Mas a magia dos cinemas de rua deixou de existir. Os mais novos nem sabem o que era isso; os mais velhos, porém, não esquecerão nunca o "escurinho do cinema" das matinês, onde beijos roubados na platéia eram estalados a todo o momento. Para desespero dos "lanterninhas" !
Ave Cine ! Nós te saudamos.
Texto: Carlos Braga Mueller/arquivo de Adalberto Day
Legal a matéria. A primeira vez que fui ao cinema foi no Cine Mogk, assistir "Marcelino, Pão e Vinho".
ResponderExcluirE o cinema continua transformando em momentos mágicos as nossas vidas, até a pipoca é melhor...
abçs
Como disse o Braga, quem não conheceu, não tem idéia do que era estes grandiosos cinemas. Faltou ele citar o Cine Carlitos qdo ficava la perto da Altona e qdo tambem se exibia seções de cinema la no Carlos Gomes. Nós filhos de empregados da Empresa Industrial Garcia ainda tinhamos um previlégio de termos seções privadas aos domingos e quartas la no Campo do Amazonas.
ResponderExcluirObrigado Braga pela viagem. Mais uma. Sou teu fã de carteirinha.
ResponderExcluirValeu por mais este post, Beto.
Abraço de admiração aos dois.