quarta-feira, 5 de novembro de 2008

- A pioneira nas ARTES


Rosálie Julie Auguste Sametzki
Empreendedora do Teatro Blumenauense Nasceu na Silésia, Alemanha, em 12 de maio de 1842. Veio para Blumenau adolescente, aos 13 anos na companhia de seu pai, conhecido por Sametzki, um agricultor prussiano.
Na casa de seu pai ela passava os dias a apreciar a natureza e suas belezas, caminhava e cavalgava e mantinha laços culturais com sua terra natal, quando dançava ao som de um violino ou de uma harmônica tocadas pelo pai.
Apesar de muito bela, jovem e ter sido cortejada por muitos rapazes da Blumenau Colônia, casou-se muito cedo, com apenas 13 anos, na igreja evangélica de Blumenau com o oficial prussiano de nome Von Loepper. Este relacionamento não prosperou e resultou no primeiro divórcio que se tem notícia na colônia, movido em 23 de junho de 1865 pelo juiz de Direito Joaquim Antônio da Silva Barata.
Pouco tempo depois voltou a casar-se, desta vez com o sobrinho do doutor Blumenau, Victor Gaertner, em 29 de junho de 1865. Seu segundo marido, dez anos mais velho, era cônsul da Prússia e pode ampará-la em diversos aspectos e possibilitar que seus sonhos fossem viabilizados.
Os textos da época informam que Roese não era exatamente uma dama da sociedade e não limitava seu trabalho às lides domésticas. Gertrud Hering Gross, citada por RENAUX (1995, p.151), afirmava que “as damas de suas relações submetiam-se voluntariamente às suas ordens e sempre se mostravam dispostas a compartilhar da representação de pequenas peças teatrais que Roese escolhia e ensaiava”.
Reunia amigos, ensaiavam e faziam pequenas encenações. A atriz era a principal presença feminina em cena. Entretanto não era dada à fama e sempre produziu pequenos espetáculos, pois temia que suas representações não fossem compreendidas por um público mais heterogêneo.
Era difícil uma mulher viajar ao interior da colônia daquela maneira. Sozinha, ou à mercê de um cocheiro, contava-se quem fosse destemida o suficiente para empreender tal iniciativa. Mas Rosalie Gartner não temia pela sua sorte. Acompanhada de um condutor, partiu em um coche para resolver negócios pendentes. Enquanto tratava de seus assuntos, tal condutor não se furtou de experimentar a cachaça de um armazém local. Resultado: na hora de partir, o homem mal conseguiu tomar o chicote para colocar os cavalos em trote. Mal se agüentava na boléia, de tão embriagado.

Mas ela não se abalou. Colocou o bêbado no banco de trás e tomou as rédeas da carroça. Apesar de ter sido destacada amazona quando nova, Rosalie não sabia dirigir aquele veiculo. Também tinha medo de que o cocheiro caísse do carro. Assim, chegou a “passo de enterro” na vila, por volta da meia-noite. Foi até a casa do dono da condução, Francisco Lungershausen e tirou-lhe com raiva da cama. “Tome! Devolvo-lhe aqui seu belo cocheiro!”, falou ao constrangido proprietário.
O caso é narrado no ensaio “Dona Rose Gartner”, da escritora Gertrud Gross-Hering. O exemplo enaltece a coragem de Rosalie, que era chamada carinhosamente de Rose. Coragem essa que contribuiu sobremaneira para seu pioneirismo dentro da comunidade de Blumenau, junto com espírito vivo, brilhante, desembaraçado. Era uma apaixonada pelo teatro, e deu impulso inicial às artes cênicas em Blumenau.
As manifestações artísticas da cidade começaram com as pequenas peças teatrais que Rosalie escolhia e ensaiava. Seu carisma convencia amigas e conhecidas a colaborar nas representações teatrais. Mas ainda não havia palco, de modo que as peças eram executadas de forma improvisada em residências. Em 1870, com a construção da sede do Shutzenverein (sociedade de atiradores), Rosalie conseguiu o primeiro palco para as manifestações teatrais. Era pequeno, mas já comportava peças maiores. A eximia atriz era a principal presença feminina em cena, e já contracenava com Gustav Salinger, constante intérprete dos papeis masculinos. Curiosamente, ela tinha receio das grandes apresentações, ao ar livre, fora dos domínios da sociedade. Gross-Hering acreditava que o fato se deve ao medo de que as peças fossem mal interpretadas. “Temia que as suas representações não fossem compreendidas por um público mais heterogêneo”, ressalta a escritora.
Mas o palco acanhado da Sociedade não servia mais às pretensões de Rose. Após uma campanha para doações espontâneas, e com o dinheiro obtido com apresentações e um empréstimo, deu começo ao plano, ao quais alguns sócios da Schutzenverein se referiam como “Ein toller Einfall” (uma idéia maluca). Adquiriu assim parte de um lote na Rua das Palmeiras para construção do teatro da Sociedade Teatral Frohsinn.

Antigo Porto de Blumenau
Rose também não era exatamente uma dama da sociedade, de confortável estilo de vida. A morte do marido, o cônsul alemão Victor Gaertner, lhe deixou com a dura tarefa de criar sozinha ao menos quatro dos oito filhos, inclusive a pequenina Edith. Paralelamente, cuidava de um negocio próximo de sua casa na Rua das Palmeiras, e da agencia dos vapores Progresso e Blumenau, da Companhia Fluvial. Já fora dos papeis principais nas peças teatrais, continuava produzindo e colaborando ao máximo com as apresentações teatrais. Preparava,escolhia,ensaiava cada peça. Seu sonho se realizou em 1896,quando o teatro da Sociedade Teatral Frohsinn foi inaugurado;E a primeira peça encenada no novo tablado se chamou exatamente “Ein toller Einfall”. Pena que Rose tenha falecido pouco tempo depois, em 26 de dezembro de 1900, devido a um câncer estomacal.
Escritos de Rose Gaertner, apenas uma carta aos seus avós na Alemanha, datada de 1860 (Carta no Arquivo Histórico), quando relatou a situação da colônia, seu encanto por esta terra, da pouca variedade de comida (apenas feijão com farinha) e que poderia ter casado várias vezes, mas que ainda não tinha tido vontade. “As jovens aqui são como pão fresco, logo têm saída...” escreveu aos avós que viviam em Dresden, na Saxônia.
ROSE GAERTNER era dotada de espírito vivo, brilhante, era desenvolta e possuía envolvente charme que lhe facilitava a realização de suas aspirações e desejos. Quando de sua morte, o jornal “Blumenauer Zeitung” publicou artigo em sua homenagem, destacado por RENAUX (1995, p. 156): “Dama inteligente, de coração generoso, exerceu importante papel na sociedade blumenauense; era muito estimada, respeitada e venerada por muitas famílias que dela tiveram amparo e ajuda em todas as situações, quer auxílio pecuniário, quer de sábios conselhos e de orientação certa na solução de problemas com os quais vinham à sua presença.
Por muitos anos foi diretora da Agência da Companhia Fluvial, em cujo encargo demonstrou extraordinária capacidade e pelo que granjeou a gratidão e respeito não só da referida Sociedade Anônima, mas também de todos os funcionários e empregados da empresa (...). Principalmente no ramo teatral, foi incansável sua atividade e talento, dedicando ela todo o seu tempo disponível ao desenvolvimento da cultura artística e do teatro. Conquistou grandes triunfos, ao atuar em peças interpretando os mais difíceis papéis com muito bom desempenho. O teatro Froshinn muito lhe deve, pois foi dela a mais ativa orientadora e eficaz sustentáculo dessa sociedade cultural”.
Referências:
GAERTNER, Roese, Carta, Blumenau, 15 de agosto de 1960, Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Pasta da Família Gaertner.
RENAUX, Maria Luíza. O outro lado da história: o papel da mulher mo Vale do Itajaí 1850-1950. Blumenau: Ed. FURB, 1995. 238 p.
Suplemento do Jornal de Santa Catarina, sábado 2/setembro/2000 Volume 3 – Personagens, lugares e construções.
Foto Roese: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva/Arquivo de Adalberto Day

2 comentários:

  1. Gostei muito de ler sobre Röse Gaertner. É esta a grafia que está sobre sua lápide no cemitério da Comunidade Evangélica Blumenau Centro. Situa-se na parte mais alta do cemitério,junto à lápide do Gaertner que deve ter sido seu esposo;perto do jazigo dos imigrantes Hering e Odebrecht, dentro de um "cercadinho dos ilustres" junto com as lápides de Sametsky (Guerra do Paraguai), Wendeburg e Hoeschl.

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  2. É gratificante saber mais sobre a pessoa que " doou " o nome para minha mãe : Roese Gaertner, filha de Hans Gaerner e Alice Feddersen, falecida Roese Dorow. Possuo fotos antigas da família, inclusive do Cel. Feddersen, caso tenha interesse.

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