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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

- Casa São José

A HISTÓRIA DA CASA SÃO JOSÉ DE BLUMENAU

por Carlos Braga Mueller (Jornalista e Escritor)

Pediu-me o amigo Adalberto Day que elaborasse um texto contando a história de um casarão que, na primeira metade do século XX, era um dos pontos mais conhecidos e frequentados da cidade de Blumenau, a Casa São José, depois transformada em hotel, um ponto de reuniões e diversões na então pacata Blumenau.
Pesquisando os arquivos da revista Blumenau em Cadernos, lá encontramos muitas e interessantes informações sobre o assunto, fruto do estudo e persistência das pesquisas do historiador José Ferreira da Silva.
 fotos década de  1920
 Como tudo começou 
A história da Casa São José está intimamente ligada à religiosidade dos católicos de Blumenau.
Foi no dia 7 de setembro do ano de 1884 que foi fundada na Paróquia de São Paulo Apóstolo a Sociedade de Homens São José, a S. Joseph Männer-Verein, destinada , segundo se imagina, pois não se localizaram os estatutos originais, a auxiliar seus associados em dificuldades. Indo mais além, previa atendimento aos sócios nas doenças, pensão na velhice, montepio aos herdeiros, auxílio funeral.
Como era de cunho essencialmente voltado à religião, estabelecia até punições para os sócios que não comparecessem a determinadas procissões ou que não participassem das comunhões mensais, como conta Ferreira da Silva.
Todos os domingos e nos dias santos, durante a missa, era acesa uma vela no altar de São José.
Em março de 1892, o padre José Maria Jacobs transferiu a paróquia e o Colégio São Paulo Apóstolo para os padres franciscanos e o novo vigário,  Frei Zeno Wallbroehl, depois de discussões e constatada falta de interesse dos sócios pela Sociedade, sugeriu que a mesma fosse extinta, o que realmente aconteceu.
O fundo de caixa foi destinado a ações da paróquia.
Enquanto isso, sob o comando dos franciscanos, a paróquia foi atraindo cada vez maior número de católicos às práticas religiosas na igreja matriz. Aos domingos vinha gente à missa de todas as partes da Colônia. Uns vinham a cavalo, outros de carroça, até de canoa, e geralmente se defrontavam com dificuldades para estacionar seus veículos ou montarias e encontrar um local para se alimentar e pernoitar.
A matriz localizava-se onde hoje está situada a Catedral de São Paulo Apóstolo, na Rua 15 de Novembro.
Foi então que foi sendo firmada a ideia de se reerguer a antiga Sociedade São José, com finalidades mais amplas e atuais. Além do lado beneficente teria uma sede onde os colonos do interior encontrariam hospedagem em suas horas de permanência na cidade quando chegavam para assistir as missas e demais ofícios religiosos.
E assim, em 1905, sendo vigário da paróquia o frei Crisólogo Kampmann, reestruturou-se a associação, tendo sido eleito seu presidente o médico Wiegando Engelke.
Nesse tempo ainda existia na entrada da Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias, o antigo Barracão dos Imigrantes, que jazia inaproveitado depois de ter servido, por décadas, como abrigo provisório aos colonos recém-chegados. O Governo do Estado pretendia desfazer-se dele e graças à interferência de frei Beda Koch, que era amigo pessoal de Vidal Ramos, então na chefia do governo, o casarão foi vendido à Associação São José, que o demoliu, empregando o material na construção de sua sede, um casarão em terreno cedido pela paróquia, em frente ao Convento franciscano, no lado direito da Rua 15 de Novembro, fazendo fundos com o Rio Itajaí Açú. O local hoje é ocupado pela Praça Professor João Mosimann, em frente ao castelinho da Havan. 
No dia 31 de agosto do ano de 1905, Dom Duarte Leopoldo e Silva, bispo diocesano de Curitiba, a quem a paróquia estava subordinada, chegou a Blumenau em visita pastoral e lançou a pedra fundamental da "Casa São José", solenidade da qual foi lavrada ata.

SURGE A CASA SÃO JOSÉ 
No ano seguinte a Casa São José foi inaugurada. O anúncio publicado no jornal "Blumenauer Zeitung" anunciava:
"Quinta-feira, 1º de novembro de 1906. Às 11 horas, inauguração da sede da Sociedade e às 19 horas, no mesmo local, teatro com peças em alemão e português. Entrada 1$000. Para os sócios $500."

Ainda segundo a imprensa daquela época, a cerimônia inaugural constou de missa solene e benção do prédio, seguindo-se almoço no local.
Às 7 da noite começou a representação teatral no palco do salão. Inicialmente foi apresentada uma peça em português, em 2 atos, e em seguida outra peça, em alemão, em um ato, seguindo-se mais uma peça em alemão, em 5 atos. No encerramento houve um esquete cômico ambientado em uma escola pública no começo do século 19, arrancando muitas gargalhadas da plateia. Testemunhas diziam  que os artistas amadores haviam desempenhado seus papeis com bastante naturalidade, parecendo atores experientes. 
A partir dessa data a Casa São José passou a ser administrada por um ecônomo, ao qual cabia provê-la do necessário, organizando o atendimento das hospedagens e alimentação, atendendo aos associados do interior. O ecônomo pagava aluguel e recebia como pagamento parte dos lucros. O primeiro ecônomo foi Henrique Wahlbroell. José Maria Flesch foi ecônomo até 1909, seguindo-se o Sr. Wloch, até 1911, Scharf até 1912, Jean Michel, até 1917 e, por último, Ricardo Buerger até 1927, quando, pelo progresso verificado na cidade, onde já haviam se estabelecido várias casas de hospedagem e muitas outras facilidades de acomodações para os que viessem de fora, e pela decadência em que se encontrava a Sociedade propriamente dita, foi a mesma dissolvida e a "Casa São José" vendida ao Sr. Henrique Michels, que a geriu até 1952. Nesse ano, pela lei municipal nº 318, de 19 de março, parte do terreno e o prédio foram declarados de utilidade pública para fins de desapropriação. O espaço seria destinado a abertura de um acesso para a construção de uma ponte , ligando o centro de Blumenau ao bairro da Ponta Aguda. Coube à Prefeitura demolir o prédio.
Durante todos esses anos a Casa/Hotel São José teve preponderante papel  na vida social dos católicos blumenauenses, e da comunidade de um modo geral. Ali era o local preferido para reuniões e festas. Os casamentos e batizados geralmente acabavam em alegres cervejadas e danças, sempre na maior ordem e camaradagem. Também os  cafés, depois das primeiras comunhões, eram realizados ali, pois o local era muito próximo da igreja.
Aconteciam  seguidamente representações teatrais no palco do salão e houve um tempo em que também foi instalado um cinema no local.
Muitos ônibus interurbanos paravam ali - e dali partiam - no tempo em que Blumenau ainda não possuía uma rodoviária. 
Desaparecia, assim, um estabelecimento que já se tornara tradicional em Blumenau.
Como José Ferreira da Silva  escreveu:
"Marcou época a Casa São José !"
  
DEPOIMENTO 
Grete Medeiros, já falecida, de tradicional família blumenauense, também na revista "Blumenau em Cadernos", publicou em 1995 um relato intitulado "A Rua Quinze dos Anos Vinte", no qual, entre outros pontos citados, também destaca a Casa São José:
"Sob a direção de Henrique Michels e sua grande família, o hotel era conhecido por sua boa comida caseira. O Sr, Michels foi quem organizou a primeira feira livre da cidade, que funcionava em frente ao hotel. Carroceiros do interior e tropeiros vindos do planalto de Lages ofereciam as mais variadas mercadorias. Esperavam a noite para entrar na cidade num tropel cujo barulho atraía os compradores para as mercadorias, logo expostas sobre mantas de couro. Traziam frutas (maçãs, ameixas, pêssegos, frutas secas), charque, queijos os mais diversos, etc. Em pouco tempo o pátio em frente ao hotel ficava muito movimentado. Ainda me lembro do cheiro característico de toda aquela atividade! Até palco para espetáculos teatrais havia na velha Casa São José. Mais tarde serviu como "estação rodoviária" para algumas linhas de ônibus interurbanos, antes de desaparecer para dar lugar à ponte que faz a ligação com o bairro Ponta Aguda."
Fontes: Blumenau em Cadernos Tomo IX - 1968 e Blumenau em Cadernos Tomo XXXVI - 1995   - Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. 

3 comentários:

  1. Adalberto meu Amigo,eu acho que ja escrevi a respeito disto Casa São Jose , Hotel São Jose,E Rodoviária No mesmo local,Vive em minha mente como um filme, passagens destas epocas como se eu tive se vivido lembro até de uma armação de madeira com paus redondos para amarar seus cavalos os viajantes que por ali chegavam com tinas de madeira com agua para seus cavalos,(Tinas de madeira Barril de madeira p/ Vinho cortada ao meio) Mas Beto o que você me diz pois eu sou de nascimento do ano de 1944 e isto tudo se passou antes então eu sou de uma reencarnação do passado que vivi isto ?????(hahaha), mas meu jovem Adalberto mesmo vendo as fotos desta reportagem eu daria um voto para ali ainda estar, ao invés dos Bares e a praça ai colocada tenho dito abraços Valdir Salvador.

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  2. Meu caro Adalberto,
    Mais um texto maravilhoso,mesmo que não tenha vivido esta época com tanta frequência por ali. Mas lembro bem da rodoviária ,das lanchonetes por ali. Parabéns pela história.

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  3. Airton Gonçalves Ribeiro
    Morei neste hotel na infância, em torno de 1952/53, época em que Manoel Faustino do Nascimento e Maria Rocha do Nascimento administravam o hotel em comodato ...!!!

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