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sábado, 25 de abril de 2015

- G.E. Olímpico: é Bicampeão!

Depoimento do ex goleiro Lourival Barreira (Barreira), campeão pelo Grêmio Esportivo Olímpico de Blumenau pelo estadual de 1964. O título foi decidido no dia 25 de abril de 1965. 
Barreira e Ézio
DE REPENTE FORMOU-SE UM GRUPO DE  CAMPEÕES

Éramos 20 (vinte) atletas que fazia parte do reduzido plantel de futebol do Grêmio Esportivo Olímpico de Blumenau.
Tudo começou em meados de fevereiro de 1964 quando fui procurado pelo Sr. Aducci Vidal e mais dois diretores do Olímpico em frente ao portão principal do Morumbi, oportunidade que recebi o convite para fazer parte do plantel do Grêmio Esportivo Olímpico de Blumenau. 
O meu contrato com o São Futebol Clube iria terminar somente em 31/05/1964 e meu passe ou atestado liberatório ao termino do contrato estava estipulado em CR$ 2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros).
Após meu interesse de ir para Blumenau os diretores entraram em contato com a diretoria do São Paulo na pessoa do Sr. Vicente Feola, que de imediato não se mostrou interessado na minha transferência definitiva e sim por empréstimo alegando que eu era muito jovem e tinha um futuro promissor no São Paulo.
A partir daí as coisas ficaram difíceis, pois o São Paulo para empréstimo de um ano solicitava Cr$ 800.000,00 (Oitocentos mil cruzeiros).
Mesmo assim eles não desistiram e foram em minha residência quando ficou acordado entre nós caso conseguisse junto ao São Paulo minha liberação os valores referentes à minha transferência seriam acrescidos em minhas luvas. A partir desta proposta eu fui pessoalmente até a diretoria do São Paulo e consegui o que parecia impossível minha liberação definitiva.
Assim em 14 de março de 1964 assinei meu contrato com Olímpico, passando a fazer parte daquela família.
No momento em que fui apresentado aos novos colegas percebi que se tratava de pessoas serias e que estavam dispostas a formar um grupo vitorioso.
O entrosamento da equipe foi quase que imediato, graças ao comando do Aducci Vidal um excelente técnico que soube dirigir e conduzir o time com resultados favoráveis ao longo do campeonato. 
Barreira (Goleiro} 50 anos após , em 2015 com a camisa comemorativa dos cinquenta anos da conquista do bicampeonato que recebeu de Marcelo Greul, filho de Nilson capitão grená.
Foi um campeonato muito duro e longo que se iniciou em 1964 e terminou em 1965. Todos os clubes que participaram eram de cidades distantes e as viagens além de longas se tornavam muito cansativa, pois às estradas na época não eram asfaltadas e acarretava um desgaste ainda maior.
O quadrangular final foi muito difícil às equipes se equiparavam tecnicamente e graças várias atuações individuais que conseguimos muitos resultados favoráveis. 
Salvo melhor juízo, foram 46 jogos sendo 30 vitórias 10 empates e somente 6 derrotas, 63 gols a favor e 32 contra atingindo 70 pontos ganho. Marca esta que nos tornamos campeões do Estado em 1964.
Acervo: Suelita Beiler
A equipe que jogou a última partida contra Internacional de Lages foi formada com os seguintes atletas: Barreira, Paraguaio, Orlando, Nilson (capitão), Jurandir, Mauro, Paraná, Lila (Quatorze), Rodrigues, Joca e Ronald.
Vencemos por 3x1, gols de Rodrigues (3) e Joia fez o gol do Internacional de Lages. O jogo foi realizado no dia 25 de abril de 1965.
A campanha foi excelente todos cumpriram com seus deveres e obrigações traduzindo toda nossa expectativa com a comemoração do título catarinense de futebol de 1964, somando-se ao campeonato de 1949 conquistado anteriormente pelo Olímpico.  
Ficha técnica do jogo:
OLÍMPICO 3
Barreira, Paraguaio, Orlando, Nilson e Jurandir; Mauro e Paraná; Lila (Quatorze), Rodrigues, Joca e Ronald. Técnico: Aducci Vidal. 
INTERNACIONAL 1
João Batista, Nicodemus, Airton, De Paula e Carlinhos; Roberto e Dair, Puskas, Jóia, Sérgio (Nininho) e Anacleto.
ARBITRAGEM: Gerson Demaria, auxiliado por Nilo Eliseo da Silva e Silvano Alves Dias.
GOLS:  Rodrigues, aos 26 minutos da primeira etapa, aos 13 e 38 do segundo tempo. Jóia descontou aos 10 da etapa complementar.
EXPULSÕES: Nininho e Roberto do Internacional.
RENDA: Cr$ 3.216,500
Todos os campeões de 1964
Lourival BARREIRA (goleiro); Adilton RODRIGUES Martins (Centroavante) ORLANDO Silva (lateral); João Sequinel Neto (JOCA) (meia cancha); Orlando José Costa (PARAGUAIO) (lateral); João Carlos Beduschi (LILA) (meia cancha); ROMEU Paulo Fischer (zagueiro), Alfredo Cornetet (QUARTOZE) (centroavante); ROBERTO P. Nascimento (zagueiro); NILSON Greuel (zagueiro); MAURO Longo (meia cancha); Carlos Heinz Faber (PARANA) (meia cancha); José GONÇALVES (atacante); MARCOS Oerding (goleiro); MAX Preisig (MAQUI) (ponteiro); Biramar José de Souza (BIRA) (meia cancha); EUDES Ribas Guimarães (lateral), ÉZIO Fernandes de Oliveira (Goleiro); JURANDIR Marques (Lateral); RONALD Olegário Dias (ponteiro). Técnico: ADUCCI VIDAL, Médico Walmor Belz, Massagista Frederico Capela, preparador físico Hamilton Curi e roupeiro Osmar.
Também fizeram jus às faixas de campeão, além do presidente Curt Metzger, os diretores do departamento de futebol, Rui Motta, Antônio Rodrigues da Costa, Zani Rebelo, Stanislau Storlaczek, João Gregório Pereira Gomes, Werner Eberhardt, João Silva, José Marcolino Netto.

Está aí amigos um simples resumo de alguns fatos que culminaram com a bela campanha de 1964.  Infelizmente a maioria do plantel que participou desta bela jornada já não se encontram entre nós.

Um grande abraço 
Lourival Barreira.
25 de abril de 2015
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Carta Aberta a Lourival Barreira
Jamais poderia imaginar que, nesta altura da vida, acabaria por me tornar amiga de Barreira, o goleiro do Grêmio Esportivo Olímpico, time de Blumenau que, nos idos da minha infância, tornou-se campeão catarinense de futebol. Tal aconteceu no campeonato estadual de futebol de 1964, e com meu pai, eu assisti ao jogo e lembro inúmeros detalhes dele, até de como a torcida do Internacional de Lages botou fogo na faixa do nosso time, pendurada no alambrado do campo.
O fato é que o tempo passou e o milagre da Internet me permitiu começar uma amizade com Lourival Barreira, hoje respeitado advogado no Estado de São Paulo. E no dia de hoje acabei por ler um relato do próprio Barreira no blogue do Adalberto Day, aqui da minha cidade, onde ele relembrava exatamente aquele jogo e as coisas que o precederam. Dentre elas, Barreira se referia a Feola.
Quem ainda se lembra do Feola, sabe dizer quem foi Feola? Nossa, como eu lembro de Feola, técnico da Seleção Brasileira de Futebol que, em 1958 foi campeã mundial! Parece que vejo agora as fotos de Feola nas páginas da revista O Cruzeiro – vem-me uma enxurrada de lembranças, e como eu gostaria de ter aqui, agora, o meu pai, que tanto gostava de futebol, para conversarmos sobre tudo isso! Já que o meu pai partiu tão cedo, achei que deveria conversar com alguém do futebol daquele tempo, e é por isto que estou a escrever esta carta a Lourival Barreira.
Conto a Barreira como contaria a meu pai um dos muitos momentos maravilhoso que o futebol me proporcionou na vida, e estou a lembrar do dia em que conheci Zagallo! Eu já havia visto Zagallo uma vez, quando o Flamengo jogou em Blumenau e eu estava no restaurante aonde o time veio jantar, depois do jogo, com direito a ver Zico e tudo. A mesa onde eu estava parou, petrificada, congelada, a olhar para Zico, mas Zico não me fez a cabeça: meu fascínio era olhar para a lenda viva que, para mim, era Zagallo!
Passaram-se diversos anos, no entanto, até eu conhecer Zagallo de verdade. Eu tinha ido a Brasília para ir ao Supremo Tribunal Federal ajudar a defender o boi da Farra, o pobre boi da famigerada e vergonhosa Farra do Boi que ainda grassa em certas partes deste meu Estado de Santa Catarina, embora eu tenha nos meus arquivos cópia do Acórdão do Supremo Tribunal Federal que, naquela altura, proibiu a Farra do Boi sob qualquer aspecto e terminantemente. Eu andava (ando) na luta contra a Farra do Boi e soube, naquele sábado à noite que teria que estar em Brasília na segunda de manhã. Foi uma correria. Eu ainda batia ponto e tinha que avisar ao meu gerente que faltaria na segunda feira – devia ser o ano de 1997, acho, quando até telefone ainda era coisa difícil, e mal e mal consegui deixar um recado com um colega para que me justificasse junto ao gerente. E houve problema de neblina, atraso de voos, etc., mas acabei chegando ao Supremo com algum atraso. Muita água rolou debaixo da ponte, naquele dia e no outro, coisa para outro texto, e estava toda preocupada que demoraria mais um dia a voltar – como me justificar com o meu gerente?
Naquela segunda-feira à noite alguém me levou para o hotel em que ficaria, em Brasília, e entrei nele pasma pela quantidade de repórteres e cinegrafistas que tomavam conta de toda a recepção, centenas e centenas deles, e fiquei muito curiosa: Farra do Boi despertava a atenção da imprensa, claro, mas não tanto assim. O que estava acontecendo ali? O rapaz da recepção me informou: nada mais nada menos que a Seleção Brasileira de Futebol estava hospedada ali!
Fremi! Acho que como todo o amante do futebol, pensei que acabaria por ver a Seleção, mas em vão – ela estava em ala separada do hotel, fazia as refeições em separado, etc. De qualquer forma, era uma coisa maravilhosa estar respirando o ar do mesmo hotel que a nossa Seleção!
Foram acontecendo coisas, no entanto. Havia um hall cheio de portas de elevadores, e eu estava ali a esperar quando uma das portas se abriu - e o elevador estava recheadinho de jogadores um pouco atônitos por estarem no andar errado – a porta fechou e eles sumiram, como num passe de mágica. Ou como, no final do jantar em um dos diversos restaurantes do hotel, quando uma enxurrada de repórteres adentrou onde eu estava, seguindo Romário, que ia dar uma entrevista coletiva. Não tive nenhum pejo de ficar em pé atrás do bando de repórteres, assistindo a entrevista, e no final chegar perto de Romário e lhe dizer, com a minha voz mais trêmula de tanta emoção:
- Romário... queria que você soubesse que lá no sul do Brasil você tem uma fã...
Já era emoção mais do que suficiente, mas a maior aconteceu na manhã seguinte, depois do café da manhã, de novo no tal hall de elevadores. Uma porta se abriu e saiu Zagallo, e meu coração escorregou até o pé ao me ver frente a frente com Zagallo! Para mim, aquele era o Zagallo de 58, de 62, de 70, de 94 – era algo como uma divindade, era como um anjo na minha vida, e fui diretamente a ele e segurei sua mão com as minhas, e acho que ele ficou um pouco envaidecido com toda aquela minha tietagem, pois parou e me deu a maior atenção. A emoção era tanta que não faço ideia do que falamos, mas conversamos, com certeza sobre aquelas coisa de 58, 62, 70, 94... Nem me passou pela cabeça que alguém poderia estar vendo aquilo, mas havia um repórter que viu e fotografou – e no dia seguinte, quando eu ainda não voltara para trabalhar, aquela foto saiu na capa de um jornal de circulação estadual, aqui em Santa Catarina – e eu virei a heroína do meu gerente!
Quando voltei, certa de que ia levar uma bronca, encontrei o banco onde trabalhava cheio de cópias daquela foto em todas as paredes e meu gerente tão orgulhoso de mim que só faltava me carregar no colo!
        Era isto que queria contar, Lourival Barreira! Meu pai não chegou, a saber, disso, havia partido antes, e então agora eu te tomo como confidente. Tantas alegrias o futebol me deu, tantas! Talvez tudo tenha começado lá naquele campeonato de 1964, naquele jogo em que tu foste o goleiro! E talvez não tivesse lembrado de tudo isto, hoje, se tu não tiveste falado no Feola!
Valeu, Lourival Barreira! Obrigada!
Blumenau, 27 de Abril de 2014.
Urda Alice Klueger
          Escritora, historiadora e doutora em Geografia.  
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Barreira e seu comentário: 
Prezada Urda bom dia!
Foi com grande emoção que li a Carta Aberta onde você fez questão de deixar público às emoções vidas por você através do futebol.
Nesta carta você fez relatos de muita importância para você, principalmente a imagem de seu pai como sendo o seu herói, grande amigo e companheiro e a ausência dele lhe traz muitas saudades e recordações.
Quanto ao futebol sempre lhe trouxe grande alegria e satisfação, até mesmo depois de tantos anos, quando você ainda era uma criança teve a oportunidade de assistir juntamente com seu pai a partida final, ocasião em que chegamos a conquistar o campeonato de futebol de Santa Catarina com o Olímpico de Blumenau, clube e cidade do meu coração. 
Ademais, com o advento da internet como você bem salientou, pudemos trocar alguns e-mails começar uma nova amizade.
A respeito das pessoas que citei em meu texto como o Sr. Vicente Feola, tive a oportunidade de conviver com ele durante as duas temporadas no São Paulo Futebol Clube. Ele era o Vice Presidente do São Paulo no departamento de Futebol profissional, aliás, foi com a concordância dele que consegui minha transferência definitiva para o Olímpico.    
Ficou evidente que com minha citação do Sr. Feola é que despertou sua capacidade de externar os seus sentimentos a paixão pelo futebol, como sempre elaborado de forma clara e precisa.
Mediante ao que você relatou quem agradece a você sou eu muito obrigado Urda.  
Um grande abraço.
Barreira.         
Para saber mais sobre o Olímpico acesse:

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