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terça-feira, 17 de novembro de 2015

- Mistérios do Alto Garcia

Lauro Bacca observando a região
LAURO BACCA/NATURALISTA E ECÓLOGO
Publicado no Jornal de Santa Catarina dia 05 de novembro de 2015 edição Ano 45 Nº 13.612
Mistérios do Alto Garcia
Das milhares de pessoas que já passearam nos parques naturais das nascentes do Garcia, pode-se contar nos dedos das mãos os que perceberam espontaneamente uns interessantes detalhes da geomorfologia local.
Na Segunda Vargem, paralelas ao leito do ribeirão Garcia-pequeno, há no terreno plano duas ou três depressões longitudinais ocultas sob o capoeirão. Na área de convivência e banheiros, que fica entre os rios Garcia e Garcia-pequeno, é visível na relva a depressão oblíqua que corta aquela pequena várzea, apesar de um pouco disfarçada devido a antigos trabalhos com arado no local. Perto dali, na margem esquerda do Garcia, existe até hoje um intrigante trecho de água morta, como diziam os antigos.
Quilômetros acima, na Terceira Vargem, outra pequena planície encravada entre as montanhas íngremes e de solos frágeis que caracterizam quase todo o vale do Garcia, também se observa o mesmo “fenômeno”. Mistério? Nenhum. Apenas são paleocanais, evidências de que, em algum momento de um passado recente ou remoto, os ribeirões já passaram por ali e mudaram abruptamente de curso, em geral, por ocasião de alguma enxurrada violenta e catastrófica.
Já me aventurei muito pelas matas das cabeceiras do Garcia desde 1979 com colegas da Acaprena procurando conhecer os segredos daquelas florestas que antes de nós só recebiam visitas de caçadores dizimadores de nossa fauna. Trabalhando na área a partir de 1988, conheci ainda mais a região.

Em 36 anos de andanças e sobrevoos jamais observei mudanças radicais do leito dos rios. No entanto, apenas nos últimos sete anos já ocorreram pelo menos três dessas violentas alterações no alto Garcia, a última delas provocada pela gigantesca barreira caída no último dia 22/23 de outubro 2015, que destruiu ou inutilizou várias propriedades. Muito acima da Nova Rússia, onde ninguém vê, várias outras barreiras caíram. Desequilíbrios provocados pelas mudanças climáticas já em curso?
Há males que vem para o bem. Área bela de se visitar, mas imprópria para moradias em sua maior parte, os sinais de alerta voltam a ameaçar o alto Garcia. Por isso, este é o momento do poder público concretizar a necessária vocação de preservação e de manancial do lugar. Os moradores de áreas de risco e de preservação permanente ainda não são muitos e podem e devem ser removidos. Por sua vez, o uso e ocupação dos espaços seguros de se morar na Nova Rússia devem ser eficazmente regrados de forma preventiva, antes que ali se forme um novo e perigoso bolsão de risco em Blumenau. É hora de agir e não esperar por novas tragédias!
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Jornal de Santa Catarina 12/11/2015 | N° 13668
LAURO BACCA
¹APA para a Nova Rússia
Uma área maior que o município de Balneário Camboriú é desconhecida por 99,9% dos blumenauenses. No entanto, ela tem influência direta sobre a cidade. Dependendo do que acontecer lá, a cidade será afetada positiva ou negativamente. Ou catastroficamente.

“Eu não pretendo ser vidente, nem sou pessimista tampouco, mas, analisando tudo o que já aconteceu e continua acontecendo em Blumenau em relação a enchentes e principalmente o que diz respeito ao Vale do Rio Garcia, sinto-me na obrigação de alertar que uma única enxurrada torrencial, idêntica àquela que desabou sobre a referida região em 1961, pode provocar a TOTAL DESTRUIÇÃO DO BAIRRO GARCIA (sic!) se na ocasião não mais existir aquela vegetação prodigiosa, que segura por muito tempo as águas pluviais, desempenhando o papel de mata-borrão gigantesco, para nos proteger contra calamidades de proporções imprevisíveis”.

Esse texto de Udo Schadrack (1910-1983) (Santa de 5 e 6 de agosto de 1979) foi escrito quando as mudanças climáticas ainda não se faziam sentir, imagina agora. De 79 para cá, ainda que devagar, muita coisa melhorou. Em 1980 toda a região Sul do município de Blumenau foi sabiamente decretada como de preservação permanente. Quem segurou o rojão implementando o decreto foi este que vos escreve, secretário de Meio Ambiente entre 1983 e 1987.

Inúmeras e pacientes batalhas depois, finalmente, todas as nascentes do Garcia ficaram protegidas pelo Parque Nacional da Serra do Itajaí, depois de ser Parque Ecológico Artex e Parque das Nascentes. Do ponto de vista da proteção das florestas, a área está, portanto, bem encaminhada e muitos mananciais estão sendo protegidos.

Restam, porém, bolsões de ocupação humana sobre os quais tanto já escrevi, como a Nova Rússia. Não tem sentido garantir a preservação das áreas inabitadas se as águas, ao passarem por áreas habitadas, ficam contaminadas. Pior, quanto mais concentrada a população, mais risco de contaminação. Se a ocupação acontecer de forma desorganizada, pior ao quadrado; em áreas de risco, pior ao cubo.

Por isso, há que se criar na região uma Área de Proteção Ambiental (APA) municipal, que estabeleça critérios factíveis de controle do uso e ocupação do solo na frágil região. Afinal, trata-se de área de alto risco, imprópria para crescimento populacional, área de manancial livre de acidentes contaminantes, como rompimento de barragem de rejeitos ou queda de caminhão com carga tóxica, área de enorme apelo ecoturístico, belíssima de se visitar, mas perigosa de se morar em sua maior parte, como já afirmei.


 ¹ Área de Proteção Ambiental 
Queremos ver o local novamente assim!
Arquivo: Flyvision e Adalberto Day

7 comentários:

  1. Bom dia Adalberto

    Gostei desta matéria do Bacca. Eu também sou um defensor da integridade da natureza; se não a respeitarmos ou usarmos com critérios a terra em nossa volta, estaremos cercados de tragédias que devido a mudanças climáticas podem se tornar cada vez maiores.
    Abraço

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  2. Bom dia! Maravilhosa matéria,e bem colocadas cada palavra. E porque não dizer q toda essa região no alto Garcia é um pulmão de toda a Blumenau, e devemos sim lutar pra q seja preservado, e impedir,q moradias sejam feitas,tbm não deixar a ganancia, tomar como ocupações pra áreas de lazer como recantos , portais da vida q já tem muitos na quela região.(NÃO SOU CONTRA O LAZER)DIGO SE PENSAR TEMOS TODO O LAZER NAQUELA REGIÃO,E QUE SEJA USADA NATIVA E PRESERVADA.Eu particularmente andei muito por toda essa região quando garoto, e meu falecido Pai nasceu lá nessa região, e foi um caçador ate a proibição da caça.Hoje quando passo por essa região as mudanças são bruscas,e que se tomem providencias pra o q tem seja mantido e preservado, OU O QUE SERÁ DO PRESENTE E DO FUTURO DE TODA ESSA REGIÃO,E O Q SERÁ DE TODO O GARCIA EM GERAL? ABRAÇO!

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  3. Meu caríssimo amigo Beto. Obrigado por mais essa coleção de histórias interessantes e fatos ocorridos aí pelo maior bairro de nossa cidade. Marcantes curiosidades muito bem narradas. Valeu querido amigo e parabéns ao Lauro Bacca pela divulgação. Adorei. Um grande abraço e saúde ao amigo e querida família.
    E.A. Santos

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  4. Alo amigo Beto tudo bem? Otimo, o engraçado é que primeiro esperase acontecer para depois chorar e tomar se tomar providencias, eu lembro que em em 2.008 Blumenau foi inumeros causos de desmoronamentos fim da Alameda Rua Progresso lateral do cemintério da Gloria,Ao lado do centro de Saude,Rua Antonio Zendron, Emilio Talman, Rua Brusque,Centro da Cidade Rua Proxima a Ex Estação Ferroviaria,lADO ESQUERDO DA AVENIDA BEIRA RIO, rua CORIPOS, E PARA DEIXAR AS DEMAIS DE LADO EU ESTOU ESPERANDO ATÉ HOJE PARA UMA AVALIAÇÃO NA MINHA PROPRIEDADE POR UMA AVALIAÇÃO NA RUA MÉXICO, que caiu uma bel estenção de Barranco caiu um muro de 20 metros por isto eu não concordo que Blumenau não é so Garcia. gente tem muita area de risco gente vamos trabalhar. abraços. Valdir Salvador

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  5. Meu caro Adalberto,
    Conheço bem aquela região, não tecnicamente, mas sabemos que o sul da cidade num todo sempre foi a região mais sofrida com as catástrofes. Sobre tudo,devemos sim preservar não só aquele local ,bem como toda a extensão do ribeirão garcia,parabéns mais um excelente trabalho prestado a comunidade.

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  6. Prezado Adalberto,

    Muito importante, e didática, a postagem Mistérios do Alto Garcia, reproduzindo manifestações do ecólogo Lauro Bacca.
    As preocupações dele com a proteção das nossas matas não é de hoje.
    Como também já se preocupava o saudoso Udo Schadrack em 1979, dando um alerta preocupante para o Garcia.
    Mas queremos retroceder no tempo um pouco mais, chegar ao início do século XX, quando já havia governantes preocupados com isso e que tiveram obstáculos que fizeram com que não pudessem realizar seus projetos ambientais (já naquela época).
    Um deles foi o médico baiano José Bonifácio da Cunha, eminente político que exerceu a Primeira Intendência de Blumenau, de 1890 a 1891, a Primeira Superintendência de Blumenau de janeiro a abril de 1892, e a Terceira Superintendência do nosso Município, de 1899 a 1902. Além disso, a partir de 1891 elegeu-se deputado estadual,quando se podia ser, ao mesmo tempo, deputado estadual e superintendente municipal ( o equivalente a prefeito atualmente).
    Vale reproduzir um trecho da biografia desse ilustre médico, publicada no Livro do Centenário de Blumenau, editado em 1950 pela Comissão dos Festejos:
    "A construção de um mercado no centro da cidade, que também fazia parte do seu programa, não foi levada a efeito devido à forte oposição por parte do comércio e de outras pessoas influentes. Pelo mesmo motivo ficou interrompida a construção de calçadas e caiu o plano de aquisição de todas as cabeceiras dos mananciais em redor de Blumenau, para evitar o desmatamento, a fim de conservar as vertentes para um futuro encanamento de água potável." (página 409 do Livro do Centenário de Blumenau).
    Infelizmente os governos que se sucederam nas décadas seguintes colocaram o projeto de lado e ficamos a mercê das intempéries da natureza, aliada à invasão desenfreada das encostas dos morros. Foi uma tragédia anunciada muito antes que acontecesse.
    Reverenciamos a memória de José Bonifácio da Cunha, que poderia ser escolhido como o patrono das causas do meio ambiente de Blumenau, tamanha sua visão lá por volta de 1900.
    Atenciosamente
    Carlos Braga Mueller

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