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terça-feira, 18 de março de 2014

- Grupo Escolar Luiz Delfino

No último dia 15 de fevereiro 2014, em passeio turístico à bela cidade de Itajaí, conhecemos a Casa da Cultura Dide Brandão, cujo nome homenageia o artista plástico itajaiense José Bonifácio Brandão (1924-1976). O edifício, inaugurado em 04/12/1913, foi construído para abrigar o Grupo Escolar Victor Meirelles. Seu nome lembra a memória do importante pintor e professor catarinense Victor Meirelles (1832-1902), autor, entre outras obras, de “A Primeira Missa no Brasil”.
Foto batida no dia 15/02/14
 O conceito arquitetônico do edifício, com alas separadas para o público masculino e feminino, salas de aula ao longo das extremidades e grande pátio no centro, imediatamente nos fez recordar do Grupo Escolar Luiz Delfino, de Blumenau, fato que nos motivou a publicar algo sobre este nosso importante educandário que, ao apagar das luzes do ano de 2013, comemorou 100 anos de existência.
 Foto 1 – Grupo Escolar Luiz Delfino – década 1910 

De fato há muito em comum entre as duas escolas e isto não é obra do acaso. Inauguradas no mesmo mês, foram ambas concebidas no contexto de uma reforma do ensino público levada a cabo pelo então Governador Vidal Ramos (1866-1954). Pequenas escolas públicas, até então dirigidas por apenas um professor, foram fechadas, e seus professores integrados, após um processo de avaliação, ao quadro docente das novas escolas, de maior porte. Demonstra a afinidade entre as duas escolas, o fato de terem vindo, a fim de prestigiar a inauguração do Grupo Escolar Luiz Delfino, em 31/12/1913, alguns professores e 24 alunos de seu educandário-irmão da cidade de Itajaí, o Grupo Escolar Victor Meirelles.

 Foto 2 – Grupo Escolar Victor Meirelles – Itajaí/SC 

Nas palavras do saudoso memorialista Dr. Niels Deeke (1937-2013), “majestoso, impunha-se à visão, o imponente prédio do Grupo Escolar Luiz Delfino, construído em 1912/1913 e inaugurado em 31/12/1913, tendo sido criado através do Decreto No. 614, de 12/9/1911.” Passou por diversas reformas posteriores e possuía um imenso pátio interno, bem como um aprazível campo de esportes, instalações que pessoalmente desfrutamos (Adalberto Day) por um ano em 1966, quando cursamos o 1º ano do antigo Ginásio. O Grupo Escolar Luiz Delfino funcionou na praça Victor Konder até 16/11/1968, quando foi demolido e transferido para as novas instalações na Rua São José, 222, com o nome de E. E. B. Luiz Delfino.
 Foto 3 – Hotel Esperança e Grupo Escolar Luiz Delfino, ao fundo – década 1920 
No entorno de todo este complexo territorial havia uma extensa praça, belamente arborizada que, devido ao seu tamanho, pode comportar com folga, em 1893/1894, o acampamento do Estado Maior das forças legalistas sob o comando do General Lima e seu acompanhante, o senador José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915). Estavam perseguindo, durante a Revolução Federalista, as tropas do maragato  Gumercindo Saraiva (1852-1894), conhecido como o “Napoleão dos Pampas”). Seguiam com ele seu irmão Aparício Saraiva (1854-1904), o Coronel Jose Serafim de Castilhos (1844-1903), também chamado “Juca Tigre”, o médico Ângelo Dourado (1857-1905) e outros. O logradouro hoje se encontra reduzido a diminutas dimensões, onde um Pau Brasil sombreava o busto do ilustre político catarinense, Victor Konder (1886-1941), Ministro da Viação, entre 1926 e 1930, do governo de Washington Luís.
A vasta área, de 4000 m2, localizada defronte à antiga casa comercial de Oscar Rüdiger, pertenceu ao arquiteto Henrique Krohberger (1836-1914), autor, entre outros, dos projetos das primeiras igrejas e da antiga prefeitura de Blumenau, de quem foi adquirida pelo Governo Estadual em meados de 1912. Nos anos 1964/65 foi denominada “Centro Cívico” e conteve ainda parte de sua casa, demolida na década de 1980 para dar lugar a um estacionamento de veículos. O “Centro Cívico” foi um projeto do ex-Prefeito Hercílio Deeke (1910-1977), assinado pelo arquiteto Hans Broos (1921-2011), prevendo a construção de diversos edifícios ligados à administração pública, à justiça, etc. Do projeto original foi construído apenas o Fórum, transferido para instalações maiores, próximo ao Parque Ramiro Rüdiger, no ano 2000. O antigo prédio, porém, ainda existe. Posteriormente foi construída também uma nova prefeitura, inaugurada em 1982, mas com projeto arquitetônico completamente distinto do originalmente previsto. Em terreno adjacente existiu a Fábrica de Lacticínios Blumenau ou Companhia Blumenauense de Laticínios, empresa fundada em 1911 pelos associados Alwin Schrader e Luiz Altenburg, bem como a antiga estação ferroviária de Blumenau.
 Foto 4 – O Grupo Escolar Luiz Delfino e seu entorno – década de 1950 
O Grupo Escolar Luiz Delfino, como seu educandário-irmão de Itajaí, homenageia um catarinense ilustre. Luiz Delfino nasceu em Desterro, atual Florianópolis, em 25/9/1834, filho de Thomaz dos Santos e Delfina Vitorina dos Santos. Formou-se em Medicina no Rio de Janeiro em 1857, tendo sido também poeta e político. Senador na primeira república, seu nome permanece imortalizado pelas obras poéticas publicadas, principalmente, na imprensa carioca. Algumas de suas obras são: Poemas (1928), Algas e Musgos, Poesias Líricas, Íntimas e Aspasias (1935), A Angústia do Infinito (1936) e Rosas Negras (1938). Faleceu no Rio de Janeiro em 31/01/1910.
À Inauguração do Grupo Escolar Luiz Delfino, às 16h30 de 31/12/1913, fizeram-se presentes o representante do governador Vidal Ramos, desembargador Navarro Lins, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Presidente da Assembleia Legislativa, Sr. Fúlvio Aducci, além de outros, que viajaram de automóvel de Florianópolis na véspera, numa viagem que durou 10 horas. Os professores e alunos do Grupo Escolar Victor Meirelles, já citados, chegaram pouco antes da inauguração, a bordo do Vapor Blumenau. Estes últimos, bem como os alunos do Grupo Escolar Luiz Delfino, estavam todos vestidos de branco. O ato foi abrilhantado pela orquestra da Família Bernhardt, que estava realizando concertos em Blumenau. A festa começou com o Hino do Estado, teve dezenove apresentações dos alunos e foi cantado o Hino Nacional. Discursou o professor Orestes Guimarães, elogiando as medidas do Governador Vidal Ramos visando melhorar o ensino público do Estado.
As atividades de 1914 iniciaram em 02 de março com 182 alunos – 77 meninos e 105 meninas –, divididos em 08 classes. Foi seu primeiro diretor Arlindo Lopes Chagas, ex-diretor do Grupo Escolar Silveira de Souza, de Florianópolis, construído no mesmo conceito arquitetônico do Victor Meirelles e do Luiz Delfino. Foram seus primeiros professores Carlos Techentin e Antônio Fiorezado, para o curso masculino, e Ascendina Brazinha (Accindina Dias?), Ana Hager, Margarida Freygang e Martha von Frankenberg, para o curso feminino. Em 1916, o professor Carlos Techentin, formado professor normalista, foi nomeado seu diretor. Também foi seu diretor, em período que não nos foi possível apurar, Antônio Cândido de Figueiredo, prefeito de Blumenau nos anos 1931 e 1932. A professora Margarida Freygang era anteriormente regente de uma escola pública feminina, uma das duas escolas públicas de Blumenau fechadas pelo Decreto No. 761, de 16/11/1913. Para marcar o início do ano letivo de 1914, foi realizado, em 10/3, um piquenique ao salto da propriedade de Gustavo Dittrich, localizada no bairro Ribeirão Fresco.
 Foto 5 – Piquenique dos alunos em 10/3/1914 – Ribeirão Fresco 
O professor Orestes Guimarães foi figura marcante na vida do Grupo Escolar Luiz Delfino. De acordo com a professora Gladyz Mary Ghizoni Teive, da Universidade Federal de Santa Catarina, Orestes Guimarães foi contratado por Vidal Ramos em São Paulo para proceder a reforma do ensino em Santa Catarina, atividade que desempenhou de 1911 a 1935. No período 1918 a 1930 vemo-no na condição de Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas pela União. Residiu em Blumenau com sua esposa Cacilda até aproximadamente 1930. Consta que não deixou descendência.
 Foto 6 – Prof. Orestes Guimarães com a aluna Hertha Meyer 
O ensino parece ter sido divido em duas etapas: Curso Preliminar e Curso Complementar. O tema requer estudos comprobatórios, mas tudo indica que equivaleriam àquilo que mais tarde conhecemos como Ensino Primário (1º. ao 4º. Ano) e Ensino Ginasial (5ª. à 8ª. Série). Credita-se aos alunos do Curso Complementar a confecção de um jornalzinho manuscrito e mimeografado, de 04 páginas, chamado “Bem-te-vi”, que se apresentava como ‘periódico semanal, jornal crítico e humorístico’. Parece ter surgido em maio de 1923 e consta ter tido vida curta. Como outros educandários, também o Grupo Escolar Luiz Delfino tem uma fanfarra, tendo esta sido fundada pelo Prof. Marcílio no ano de 1948. 
Foto 7 – Boletim do aluno Max Altenburg – Curso Preliminar – 1918 
Muitos blumenauenses fizeram seus estudos no Grupo Escolar Luiz Delfino. Para citar apenas alguns que são de nosso conhecimento, apontamos o ex-prefeito Evelásio Vieira (1925 – 2004), que lá fez seus primeiros estudos na década de 1930 e concluiu o Curso Complementar, e o Dr. Niels Deeke, que lá cursou o 3º ano primário em 1946. Um belo relato das memórias da passagem do Sr. Laércio Cunha e Silva pelo Luiz Delfino foi publicado no JSC em 02/9/2000, no contexto dos festejos dos 150 Anos de Blumenau. O teor deste texto, postado neste blog em 27/02/2013, pode ser verificado em
Hoje, passado um século de sua inauguração, o Luiz Delfino segue sendo um dos importantes educandários estaduais do município de Blumenau.
 Logotipo da E. E. B. Luiz Delfino 
_________________
Crédito das imagens: Fotos 1, 3, 4 e logotipo: acervo de Adalberto Day; Foto 2: www.diarinho,com.br; Foto 5: acervo de Ralf Marcos Ehmke; Fotos 6 e 7: acervo de Dieter Altenburg. 
Texto: Wieland Lickfeld com colaboração de Adalberto Day.
Fontes: memorialista Dr. Niels Deeke (in memoriam); site do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva; www.facebook.com.br (Grupo Antigamente em Blumenau); livro “A Imprensa em Blumenau”, de José Ferreira da Silva (1977) e www.wikipedia.com.br

12 comentários:

  1. Nossa muito legal, Beto!!! Viagem ao tempo... Abraço :)

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  2. Adalberto
    Fantástico, lembrei do meu primário (assim chamávamos) no Luiz Delfino, não no antigo, mas no atual. Bacana ! Abraço !
    Allan Jurk

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  3. Adalberto!

    Ao abrir a foto enviada, e sem ler o que estava escrito embaixo, logo imaginei: “Que semelhança com o Victor Meirelles, onde estudei como criança. Certamente o Governo construiu escolas em série, uma igual a outra...” Mas depois, fui saber tratar-se do antigo V.M., que os estudantes mais recentes chamam de Vaca Malhada.
    Abrs/GD

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  4. Parabéns Adalberto,

    conheci mais um pouco da história de Blumenau e região.
    Vale registro a importância que Vidal Ramos deu para a educação e a contração de professores.

    Esse trabalho de Vidal Ramos deveria ser mais reconhecido.

    Abração e muito obrigado por mais essa luz.

    Valter

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  5. Adalberto- Linda foto.A sala que aparece de FRENTE, no topo da escada onde se cantava todo sábado o hino Nacional, era a de minha sala onde eu fiz o 2º ano primário com a Professora Da.Carmem...Lembro-me em 1954 quando fomos fora de hora chamados todos para nos perfilarmos, ao som do Hino, enquanto a Diretora(Da.Antonia Emília) informava a morte de Getúlio Vargas....A foto é REPLICA PERFEITA do Grupo Escolar Luiz Delfino.Inclusive os porões....Antes de perceber que se tratava de outro colégio, com a mesma PLANTA, estranhei os prédios no fundo...Em frente ao Colégio haviam 2 arvores de Pau Brasil que acho ainda existem e uma Banca MIRO onde se compravam as primeiras figurinhas de coleção...Grandes lembranças...São simplesmente 60 anos....
    James Locatelli

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  6. Professor Adalberto,

    Belíssima recordação tive agora, ao ler sua matéria sobre o Colégio Luiz Delfino. Eu e toda Família Bremer tivemos a honra e o privilégio de estudar neste educandário.
    Lembro-me com muito carinho da Diretora, Sra. Ludmila Isabel Eing e alguns de meus Mestres.
    Parabéns por manter viva a memória Blumenauense!
    Mauro Rafael Bremer.

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  7. Sr. Adalberto !

    Fiquei impressionado com a abrangência da matéria, alcançando até a Revolução Federalista. Muito interessante todas as novidades abordadas, inclusive que o colégio era originalmente em outro lugar. O projeto do centro cívico também chama a atenção como um dado curioso.

    Valeu, parabéns pela ótima matéria, abs, Theodor.

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  8. Meu caro Adalberto e equipe, como sempre mais um belo texto, texto este que nos enriquece de conhecimentos.
    Apesar de não ter estudado em tal colégio citado no texto, sempre temos que ressaltar nossas escolas na historia da cidade, sejam municipais ou estaduais , pois as mesmas fazem parte importante do crescimento cultural da nossa gente.
    Parabéns.

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  9. Pois.é, Ca estamos novamente com as mais belas lembranças, de nossa vida de nossa infancia, de vitoria escolar, que uma parte foi realmente no Grupo Escolar Luiz Delfino, que na epoca para me diregir a escola tinha que passar sobre o leito da estinta Estrada de ferro,passar por dentro do tunel ir pela lateral da ponte que era uma passagem perigosa pela mau manutenção,imagina a aflição de minha querida Mãe ate minha volta, o amigo James Locateli um abraço a ele fez eu lembrar da professora dona Carmen que quando tinha que nos reepreender era a base dos beliscoes no braço mas eu a perdoava pois o culpado era realmente eu, e ela era uma otimo educadora, nesta época começou na hora do recreio a servir a deliciosa sopa e a caneca de feijão feito pela servente dona mercedes que eu adorava,lembro tambem que estudei um ano no Colegio Santos Dumontd no Bairro do Garcia e na escola da dona Julia na rua da gloria tambem no Garcia. chega abraços a voce familia e todos os seus simpaticos leitores.Valdir Salvador.

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  10. JÁ VI QUE REMEXEU COM O SAUDOSIMO DE MUITA GENTE. EU TAMBÉM ESTUDEI QUANDO PEQUENA NO ELISEU GUILHERME EM IBIRAMA E O PÁTIO ERA QUASE IGUAL.ALI FICAVA O MASTRO E AOS SABADOS ERA HASTEADA A BANDEIRA NACIONAL ENQUANTO CANTAVAMOS O HINO. DEPOIS MUITOS VERSINHOS ERAM DECLAMADOS PELAS CRIANÇAS.PARABÉNS MAIS UMA VEZ SR ADALBERTO DAY.ABRAÇOS GASPARENSEDA ARLETE TRENTINI DOS SANTOS

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  11. Parabéns novamente Beto.
    Neste Luiz Delfino minha mão Maria de Lurdes foi professora tendo a oportunidade de ter como alunos pessoas importantes na nossa cidade como Evilásio Vieira (Lazinho).
    Na época o centro da cidade teria grande destaque na região até pela estação ferroviária próxima.
    José Geraldo Reis Pfau
    Publicitário.

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  12. Beaco Vieira
    Estudei no Luiz Delfino do primeiro ao quinto ano.
    A diretora era a Ludmila.
    A professora Jacina, punia os alunos " levados " com reguadas na palma da mão.
    Meu saudoso irmão Lazinho, quando estudante plantou a frondosa Árvore de Pau Brasil.
    Depois, como prefeito eleito de Blumenau, visitava regularmente a Escola.
    O Estado deveria ter mantido o espetacular prédio arquitetônico...

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