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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

- Sambaquis

SAMBAQUI/TAMBAQUI  ( Tamba =concha + Ki = depósito)
MALACOLOGIA

MEMÓRIAS DE NIELS DEEKE
Adiante faço constar uma digressão, relatando, em sinopse, de minhas observações, muito superficiais, acerca dos sambaquis. Dirão que é conversa “prá boi dormir”, contudo foi realidade à época e imagino ainda seja. ¨¨
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 Foto: Revista Ciência Hoje On Line
Faz mais de 45 anos que, muito rapidamente, passei por aquela região do Baú, e nem me recordo da aparência daqueles sambaquis. As terras que tenho florestadas próximas ao Baú situam-se em região diametralmente oposta a que contém os casqueiros, distando estes mais de 30 km de minhas terras. Não me é familiar qualquer nome dos moradores referidos no texto do Comunicado da Associação Escolar de Santa Catarina - Nr. 6 Junho 1916.
Os Sambaquis, objeto daquela expedição em 1915, situam-se à margem do ribeirão Baú, que é um afluente do ribeirão Luis Alves. Consta haver não distante daqueles  Sambaquis, um ¨amolador de pedras” além de petróglifos. Eu se pudesse visitaria o sítio, contudo minha exígua mobilidade não permite.
Grato pela remessa do texto sobre a expedição, em 1915, dos estudantes de Blumenau ao Baú – já o colecionei no arquivo respectivo.
É notável distanciar-se, Vale adentro, aquele sambaqui, do que se infere haver o mar recuado (recuo do mar: eustasia - movimento eustático, ou seja na variação global relativa do nível do mar. )  ou então durante, algum período, ter- se elevado a ponto de atingir aquele sítio. Todavia suponho que acaso recuássemos 7 a 9 mil anos  - talvez pouco mais – pouco menos -  encontraríamos a região ainda submersa pelo mar em cerca de dois a três metros na grande planura. Acresce que justamente aquela região sempre foi muito assoreada pela descarga dos sedimentos trazidos, do Morro do Baú e periferia, pelo ribeirão Luis Alves o que desfigurou o aspecto e vestígios do nível alcançado pelas marés naquele local, onde percebe-se um talvegue escavado em cerca de 3,00 metros na planura circundante que antes foi toda mar por milhares de anos.
Ainda sobre os SAMBAQUIS, rebuscando minhas lembranças do quanto longamente conversei, nos muitos telefonemas, lá por volta de 1979/80,  com o padre João Alfredo ( Rohr) em Florianópolis, versando sobre as ¨habitações líticas” da Serra do Mirador – das quais eu na ocasião escavava os depósitos do material que seus construtores extraíram na  rocha estratificada para seu aprofundamento na montanha,  recordo-me de que acordamos, na primeira conversa,  em admitir a formação natural dos casqueiros, se bem que sob condições especiais. Questões pontuais foram definidas como a circunstância das conchas berbigonas ( espécie cuja origem remonta ao triássico) encontrarem-se, na grande maioria,  fechadas e as de vieiras igualmente ainda unidas, prova de que o molusco não foi retirado da casca-concha,  portanto não foi cozido nem serviu de alimento cru. 
Cascas de Mariscos verdadeiros – mexilhões ( sururus) extraídos das pedras à beira mar  - não foram encontradas nos sambaquis, entretanto é sabido que nossos indígenas litorâneos, os apreciavam e  aproveitavam a baixa-mar para extraí-los.Geralmente os comiam crus  ou por vezes assados diretamente no fogo como se fossem pinhões. Depósitos casqueiros de mariscos- sururus  com cerca de 2 metros de diâmetro na base por 1,00 metro de altura,  há ao longo de toda a nossa costa marítima. Então qual a razão de não haver cascas  de mariscos nos sambaquis, se ali bem próximo estavam os mariscos (sururus), bem mais saborosos e muito mais fáceis de serem coletados, quando ostras e berbigões jaziam enterrados na profunda lama ? Já retirei as grandes ostras da lama por mergulho em lagamares e sei o trabalhão que dá catá-las. Tentem e desistirão da empreitada.
Propositalmente não assinalei no texto supra, incongruências capitais quanto às medidas dos níveis alcançados pelas águas nos sítios em que se formaram os casqueiros e  suponho que tal particularidade tenha passado despercebida a quem leu o enunciado até este ponto.
Pois bem, em telefonema subseqüente com padre Rohr, este, dizendo-se doente e fraco, pedia-me, se fosse possível, seguir ao planalto serrano, pois ele não tinha condições, para observar uma habitação supostamente indígena, escavada em um morro de barro – uma toca – na qual haveria uma chaminé ou talvez um  canal para ventilação, ocorrência que lhe tinham comunicado fazia pouco tempo. Dizia-me que muito antes já havia encontrado tais ocas ( tocas) e que no planalto eram historicamente executadas para melhor suportarem a friagem do inverno, quando as usuais choupanas não serviam para tal. Desculpei-me por não poder satisfazê-lo, eu precisava então administrar a minha antiga Fábrica de Chocolate Saturno e tentar, adoçando a vida alheia, trazer-lhes felicidade.........enquanto eu amargava financeiramente........... Na continuidade disse haver pensado sobre nossa conversa anterior sobre a formação dos sambaquis, e concluído que se  naturais fossem, então as datações  e níveis alcançados pelo mar,  deveriam ser drasticamente alterados. Dizendo-se antropólogo e arqueólogo  e não geólogo, salientou o seguinte :
Os moluscos certamente  eram marinhos, com habitat  submerso, portanto se naturais então na ocasião de sua ¨aglomeração¨ o nível de mar os cobriria por inteiro – exegese tida como ponto pacífico. Ora os monturos de casqueiro observados alcançavam geralmente  entre 7 e 15 metros sobre o terreno contíguo, acrescido do desnível atual do mar em cerca de 4 a 6 metros comparativamente ao presente nível . Consequentemente o nível do mar deveria ser, à época da formação dos monturos, necessariamente  superior ao atual em pelo menos 20 metros, se não mais. Teria a nossa costa Atlântica se elevado em 20 metros nos últimos 10 mil  anos ? Ele duvidava, supondo que dera-se justamente contrário, o mar , naquele período, recuara devido a formação das geleiras do pequeno período glacial ocorrido 13/14 mil anos atrás e agora retornava, muito lentamente, às condições existentes há 60 mil anos. Não emitiu conclusão, porém ficou implícito que se, como afirmavam os geólogos houve a glaciação, então os moluscos aglomeraram-se, para morrer, há mais de 20 mil anos..........
Falou-se ainda da circunstância inusitada de aglomerarem-se e o que poderia tê-los levado a tal. Duas possibilidades foram aventadas : 1) uma longa carência de luminosidade  solar  necessária para a fixação do cálcio em suas carcaças e corpos, quando amontoaram-se para alcançar a superfície menos escura na flor d’água. Se tal falta de luminosidade ocorreu por encobrimento dos raios solares mediante espessas nuvens de origem vulcânica ou se as águas foram toldadas pela precipitação de cinzas ( água de lixívia) , isto permaneceu em aberto.
2) a aglomeração teria como justificativa um direcionamento por simbiose hormonal dos moluscos, direcionamento para associação sexuada  - pois tanto berbigões, como mexilhões (sururu) e vieiras, têm cada espécie, machos e fêmeas, quando  então estimulados por algum fenômeno químico atmosférico ou mesmo hídrico ( v.g. excesso de sulfetos/itos ou de amônia NH3/NH4 ) teriam se dirigido, compulsivamente e em nímias quantidades, a locais específicos. Interessante observar que a mobilidade dos berbigões é razoável  - não tão lenta como se possa imaginar -deslocando-se através a flexão continuada das duas partes da concha. Mas isto já pertence ao ramo da Malacologia.
Assunto SAMBAQUIS .
Havia, em 1951, junto à estrada que ligava GARUVA À GUARATUBA e BREJATUBA, margem esquerda no sentido oeste-leste, contidos na grande planura da  região, alguns enormes sambaquis com, estimo, mais de 15 metros de altura e cobrindo áreas imensas - cerca de 10.000m2 cada um dos quatro que tive a oportunidade de observar. Suponho mais existissem cobertos de espessa vegetação.
Naquela ocasião já encontravam-se vastamente explorados e continuavam sendo, porquanto grande número de carroções atrelados cada qual com duas parelhas de cavalos, permaneciam abastecendo-se do ¨cascalho¨ para ser utilizado, como se fosse ¨macadame¨, no  revestimento do longo e inteiro trecho da rodovia supracitada  - era, como disseram, uma obra executada pelo governo do Paraná.
A estrada, sem dúvida,  era uma maravilha, permitindo alcançar-se velocidades dignas de Grandes Prêmios que então os velocímetros indicadores em ¨milhas¨ ( sistema USA) registravam,. quando ainda maior sensação era percebida pelo ruído característico do embate do cascalho esfarelado das conchas no interior dos para-lamas dos veículos, barulho crepitante que aumentava quando maior fosse a aceleração - uma delícia para desfrutar-se não fosse a criminosa origem.
Na periferia daqueles sítios com depósitos de conchas, permaneci, em 1951, acampado na mata, por 12 dias, caçando porcos de mato (Tatetos) sem cachorro algum, jaguaçus e, à noite, macucos nos poleiros. Também lá vi pela primeira vez, o raro URU de penacho, de porte pouco maior que o comum. Os tucanos de bico preto eram tantos que eu espera juntarem-se dois nas bagueiras para derrubá-los com tiro único da  chumbeira calibre 16.
Foi meu guia um senhor Rauchmann, já bastante idoso e pessoa muito modesta que nem atirar sabia e jamais vira uma arma mocha -desprovida do cão - residia no vilarejo de Garuva, e cujo patronímico na região, suponho, não seja estranho  aos atuais moradores lá residentes.
Se naquela época lamentei a depredação dos sambaquis, deixei, infelizmente,  de senti-la quanto à minha deletéria ação que, naquele verdadeiro paraíso pré-cabralino dotado com densa e contínua floresta quase intocada estendendo-se desde o litoral até ao pé da serra,  procedi com a matança indistinta de aves e animais, os quais foram primeiro assados e após cozidos em muitas latas de 20 litros e fartamente recobertos com a banha derretida extraída  dos tatetos e mesmo com a banha de suínos que adrede levei em uma daquelas latas de 20 litros, que então denominávamos por  latas de querosene.
Na atualidade, penitenciando-me das minhas abomináveis práticas venatórias, dedico-me de corpo e alma, e em tempo integral, a preservar a natureza, animais e pássaros, aprimorando ambientes propícios a sua reprodução.
Dizem que o melhor Preservador da Natureza seria aquele que antes a foi um Predador, porém seria justificar o Fim através dos Meios - máxima utilitarista jesuítica muito discutível.
Só mais uma ocorrência inusitada  :  Estariam as aves desenvolvendo maior capacidade instintiva ?
Observei, nas semanas anteriores, por 3 vezes seguidas, as aracuãs e após as saracuras, virem até próximo a porta do escritorinho da minha fazendola de onde digito estas linhas, aos gritos como que pedindo-me socorro. Sai e fui verificar que acontecia, quando, distante cerca de 40 metros, dei com um lagarto  atocaiando   um filhote de aracuã. Espantei-o  e a  aracuã mãe serenou. Com a saracura deu-se o mesmo, somente não vi o filhote.
Conclusão : ou as aves acreditam-me, agora,  um São Francisco,  ou desenvolveram compreensão inusitada.
Desculpem minhas digressões, contudo são verdadeiras.
Saudações
Niels Deeke, em Bl'au – SC, novembro de 2009
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A observação de uma ocorrência singular : Há, pelo menos havia, nas minhas represas da Fazenda que mantenho há mais de 50 anos, grande quantidade de um molusco de água doce, a que chamam de ¨Unha de Velho¨, idêntico aos mexilhões ( mariscos sururu), que são de bom tamanho e mesmo maiores que os do mar.  Seu habitat é o fundo das águas – lama -  e não as pedras como os marítimos. Faz tempo, talvez 40 anos, observei que grande quantidade deles estava morta reunida em só local  - não amontoados, porém muito pouco dispersos. Procurei-os em outras partes do açude e não encontrei único. Durante anos não vi mais os ditos, até que há cerca de 2 anos o fenômeno repetiu-se e mandei recolher alguns baldes das cascas para preencher tachos decorativos pendurados na casa. Aqui defronte de onde digito, à distância de menos de 3 metros tenho um dos tachos  repleto das conchas – é  só conferir.
Ainda a razão de 10 anos, um empregado, da Fazenda chamou-me para ver o que ocorria e decidir o destino de boa quantidade de caramujos  da água doce  – caracóis idênticos aos que são os vetores (hospedeiros intermediários) do parasito da esquistossomose ( barriga d’água), enfim ¨búzios de água doce¨ que na maioria estavam mortos – estes sim amontoados em um remanso da lagoa. Como a fedentina já era perceptível, mandei enterrar os ditos caramujos  ( escargots da água).  Só para constar, revelo que já comi ditos caramujos cozidos, não são apetitosos, mas sobrevivi.
Também há os grandes caramujos das florestas  (Schnecke) # ( não são Lesmas pois estas não possuem concha ) dotados de bela concha externa espiralada – um super escargot, de concha branca e maiores que os caramujos africanos, estes atualmente postos na lista negra dos transmissores de doenças . Minha floresta da Fazendola tem boa quantidade destes caramujos – nacionais-  que mediante especial preparo e cocção lenta por mais de 5 horas, tornam-se iguaria saborosa. Dá algum trabalho prepará-las, mas vale  a pena . Já provei delas diversas vezes,  e mantenho 2 aquários sem água, cheias de suas conchas – podem conferir.
Comer Lesmas?  Dirijam-se a verdadeiro restaurante chinês, são iguarias!
E voltemos aos sambaquis.
Contrariando a hipótese de sua formação natural, aqueles que abraçam a teoria de que são resíduos de moluscos ingeridos pelo homem (kjokkenmoddings: restos de cozinha para os nórdicos), defendem sua concepção, alegando conterem os sítios dos sambaquis, enterrados artefatos produzidos pelo homem, crânios sepultados, e vestígios significativos de que suas superfícies serviram de habitação.
Ora nada mais conspícuo que tais constatações absolutamente não explicam  a enormidade de conchas lá aglomeradas. Supomos que nem mesmo uma população de um milhão  de pessoas, alimentando-se somente de moluscos durante 500 anos possa produzir tais montanhas de casqueiro. Crânios sepultados somente provam que havia antropófagos naquele ambiente que canibalizaram o corpo e enterraram a  cabeça. Algum corpo inteiro lá sepultado igualmente não comprova tenham se alimentado dos moluscos. E se há  houve vestígios de que sobre os sambaquis assentaram moradia, deveremos considerar que nosso indígena não era tão estúpido a ponto de fixar moradia na periferia alagadiça, pantanosa e coberta de densa floresta, quando junto aos sambaquis encontrava terreno seco e relativamente limpo, além de iluminado e parcialmente seguro com melhor visão circundante. E se alguma espinha de peixe foi escavada, sua origem pode ter sido por sua morte do natural naquele local durante a formação dos monturos, ou mesmo expurgo alimentar de indígenas ali assentados. Não, nada prova a feitura artificial dos sambaquis.

NIELS DEEKE – Memorialista em  Blumenau SC .
Blumenau, 12 de Janeiro de 2013 

7 comentários:

  1. Beleza de reportagem. Sempre nos engrandece saber sobre isto, principalmente sendo de quem tem experiencia e conhece.

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  2. Adalberto e Niels
    Muito boa a matéria como sempre...E eu que achava que sambaqui era coisas de Açorianos....
    Nilton.

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  3. A própria wikipedia afirma que SAMBAQUIS são "depósitos construídos pelo homem"...
    A teoria é interessante, o autor dela chegou a publicar algum artigo científico para defender essa hipótese?
    No mais, me assusta pensar que com o aquecimento global em marcha, am algumas décadas podemos ter o mar invadindo essa região novamente com o degelo das geleiras?

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  4. Meus cumprimentos por essa valiosíssima contribuição arqueológica , científica e literária ao , Dr. Niels e professor Adalberto Day.

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  5. Oi Beto.
    Que capacidade desse Dr Niels. Que enciclopédia é esse elemento. Essa historia dos sambaquis então, é fenomenal. La por Florianópolis há varias regiões ricas com esses moluscos. E ele bem o diz. Utilizavam essas cascas de moluscos para fazerem revestimento de estradas. Imagina quanto disso havia. Verdadeiras montanhas
    Meus parabéns a essa verdadeira enciclopédia ambulante.
    E.A. Santos

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  6. Estimado Adalberto, muito interessante, a visão do amigo memorialista Dr. Niels Deeke, referente ao surgimento natural dos sambaquis. Sem dúvida, uma hipótese a ser considerada como linha de pesquisa num trabalho de pós-graduação stricto sensu. Fiquei com uma curiosidade que talvez possa ser esclarecida pelo Dr. Niels Deeke. Existe um peixe denominado Tambaqui. Haja vista o termo significar 'depósito de conchas', teríamos aqui uma alusão à possibilidade deste se alimentar de moluscos de água doce ou se trata de outro significado para o termo? Grande abraço!

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